Aumentam processos por racismo no Brasil

O jornal espanhol El País, em sua edição desta terça-feira (11) abroda o racismo no Brasil. A matéria, intitulada “Os negros do Brasil levantam a voz” conta a reação de pessoas negras ao sofrerem discriminação racial e que cada vez mais procuram a Justiça para exigir indenização por danos morais. Veja abaixo a matéria.

Cauã era só um bebê quando seu tio Robson foi ao supermercado para aproveitar o leite em oferta. Comprou duas caixas e atravessou a rua para voltar ao trabalho. Foi quando ouviu gritos que o fizeram parar: negro, ladrão, sem vergonha.

Dois empregados do supermercado agarraram Robson pelos braços e o acusaram de roubar o leite. No entanto, ele mostrou a nota que comprovava o pagamento e eles o soltaram e se desculparam. Porém a gerente do estabelecimento, da rede Walmart, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, disse a ele que o havia confundido com “outro negro ladrão”.

Acostumado a ser seguido nas lojas de supermercados por onde faz suas compras, o jovem negro decidiu denunciar o crime de racismo na Delegacia, embora no Brasil o racismo seja um delito com pena de até cinco anos de reclusão. Um advogado veterano, no entanto, o convenceu a entrar na justiça.  

Cinco anos depois, quando Cauã já era capaz de acolher em seus braços sua irmã recém nascida, e Robson, com 26 anos, já era conhecido como o negro do leite, um juiz condenou a multinacional americana a pagar cerca de R$ 17 mil ao jovem. A sentença considerou os danos morais sofridos pela atitude ilícita e discriminatória de seus empregados. Robson, de acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, sofreu humilhação pública e foi motivo de escárnio pela cor de sua pele.

Com o dinheiro que ele recebeu, pretende terminar de construir o barraco de tijolo numk terreno onde antes era um campo de futebol enlameado. O caso da Walmart, que já havia sido condenada em 2009 por outro caso de racismo contra uma cliente negra acusada de roubo, foi o último ocorrido em público. Porém, a sequência de episódios similares marcou os últimos meses num país onde quase 50% da população se declara negra ou mestiça.

Ainda que tímida, há uma crescente demanda de processos trabalhistas que pedem indenização por danos morais envolvendo trabalhadores negros por conta de racismo no ambiente de trabalho. “Algumas vezes os empregados são marcados com apelidos pejorativos por parte de companheiros ou do próprio chefe ou não conseguem ascender na carreira devido a outros companheiros de cor branca, mas que não são mais competentes do que eles”, afirma Maria Aparecida Vargas, diretora da Secretaria do Tribunal de Trabalho de São Paulo que cuidou do caso de Robson.

Esta semana, numa emocionada entrevista, o árbitro Márcio Chagas da Silva contou publicamente que o chamaram de “macaco selvagem” durante uma partida entre dois times do Rio Grande do Sul. Ao chegar no estacionamento, encontrou seu carro totalmente sujo e coberto de plantas. Era a segunda vez que o insultavam durante uma partida de futebol por ser negro e, pela segunda vez. “Tenho que mostrar a meu filho a importância que eu, como pai, tive ao denunciar uma prática que ocorre continuamente no Brasil”, disse Chagas da Silva, a uma emissora de TV.

 

 

Fonte: Jornal do Brasil

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