Por: André Sollitto
Assistir a um show do saxofonista Yusef Lateef é uma verdadeira viagem musical. O norte-americano de 90 anos é conhecido como um dos inventores da world music graças à mistura que fez de jazz e música árabe no ótimo disco Eastern sounds. Foi um dos grandes nomes do hard bop e lançou dezenas de discos, que passeiam pelo soul, pelo blues e pela música de várias partes do mundo. Em seu último disco, Towards the unkown, ele acrescentou poesias e toques de free jazz a seu vasto repertório musical.
Toda essa mistura estava presente nos dois shows que ele fez no Sesc Pompeia. Mas quem esperava standards ficou surpreso. O músico apresentou um grande painel musical que durou cerca de 70 minutos. Assisti ao show no domingo. Yusef tocou flauta, piano, saxofone e mais um punhado de instrumentos de sopro diferentes. O baixista, William Parker, um dos grandes baixistas do free jazz, segurava as bases para a improvisação frenética do resto do grupo. Thomas Rahrer tocou sua rabeca de maneira agressiva, tirando sons dos lados do instrumento. O vibrafonista Jason Adasiewicz era um show à parte: com uma grande barba, ele ficava se contorcendo enquanto tocava seu vibrafone com arcos de violino. No meio da bagunça, o baterista brasileiro Maurício Takara, do Hurtmold, atacava sua bateria e o trompetista Rob Manzurek tirava sons estranhos de seu instrumento. Uma viagem sonora em que era possível perceber toques de sons da natureza e de música árabe. Uma experiência muito interessante, sem dúvida, mas confesso que senti falta dos standards.
A repórter Laura Lopes assistiu ao show de sábado. Confira suas impressões:
Fui assistir Yusef Lateef no susto. Uma amiga me convidou uma hora antes do show começar, e rumei em direção ao Sesc Pompéia sem saber o que viria pela frente. E, mesmo que imaginasse, não conseguiria acertar. Os primeiros 10 minutos foram uma resistência ao espectador desavisado. Sabe orquestra ou banda quando está afinando instrumento? Então, é mais ou menos isso. Mas longo. Percebi que se tratava de um jazz mais experimental do que tradicional. E não fui só eu: as pessoas que me acompanhavam também tiveram a mesma ideia.
Depois dessa longa introdução, a banda começou a tocar o que, aos meus ouvidos bem destreinados, soava algo com um pouco mais de unidade, ainda que experimental. É porque, no começo, parecia que um instrumento não falava com o outro. Agora, eles começavam a combinar, mas a comunicação ainda ficaria um pouco truncada. No meio do show, no entanto, veio uma explosão de jazz, de arrepiar mesmo. Um puta som, que poderia ter durado o show inteiro.
Acho que o começo, em que os músicos parecem hipnotizar o público através de um “mantra multi-instrumental”, é um recurso para criar clímax no show. No fim, o bis voltou ao experimental, como se cada um retrucasse o som proposto pelo outro, numa ciranda de tons e vibrações. Percebi muitos sons da natureza, de animais ou instrumentos rudimentares de tribos africanas. Mas o melhor já tinha passado.
No vídeo abaixo é possível assistir a um trecho da apresentação.
Fonte: Colunas Época