Abolição, o homem que queimou a bandeira e a certidão de nascimento de Obama

Em treze de maio, embora não seja feriado, lembramos coletivamente do término da escravidão  legal no Brasil e do início do marco da democracia, onde, as pessoas  não teriam suas liberdades suspensas em razão do domínio do corpo e da força do trabalho.

Paradoxalmente,o treze de maio, também pode ser considerado o dia do nascimento do racismo institucional, nestas terras maravilhosas, onde tudo que se planta nasce e não tem furações e vulcões. Somos legalmente iguais e inatingíveis em nossas liberdades, pretos, brancos e pardos, herdeiros de  um modelo capitalista atrasado, incapaz de emancipar “naturalmente”, seus atores produtivos rumo ao reino patrimonial e consumista. Por outro lado, temos, ainda, o legado de um Estado Nacional, marcado pelo descaso em favor dos pobres e indigentes.

O engraço disto tudo é que, tal paradigma ou holograma da realidade sugerido e aceito por muitos em nossas terras, até dá para ser aceito, por observador inocente, como verdade, uma vez, que as tragédias diárias, enchentes, homicídios, e desespero social atingem milhares de homens e mulheres nos diversos rincões deste país. Neste sentido, é chato ter que construir um discurso de resistência, repetido em todo 13 de maio, baseado em dados oficiais, que demonstrando que os pretos e pardos  estão entre o jovens entre 15 e 25 anos, que mais morrem nas periferias. E, quando ultrapassam a linha da morte gozam de menores expectativas de vida. Bom, não vamos falar em que condições para não sermos repetitivos.

Então,fico a pensar, qual a saída?, para não ser incomodo, ou ter um discurso chato, talvez seja a atitude de queimar a bandeira nacional, como fez o homem negro em Brasília, gritando aos sete cantos que“ o negro  é massacrado”, em uma atitude individual e enlouquecida, mas legitima, diante o cinismo que assola nossa sociedade.

Para muitos de nós, negros e negras, que passaram a juventude e boa parte da meia idade nos movimentos sociais e nas fileiras do PT, fazendo de cada campanhas políticas, um momento especial para desenhar um projeto de um país de inclusão e anti-racista, melhor para todos e comprometido com uma forma corajosa e crítica de enfrentamento do racismo institucional, há uma  grande decepção, que ultrapassou a era Lula, aponta para mesma direção no atual governo. Um silêncio ecoa em todas as direções, somente ouvimos os aplausos para políticas sociais do governo, que, se assim permanecerem, permitirá que a matança real e simbólica de negros e negras continue impunemente, aos auspícios da abolição.

O legado da escravidão vem sendo tratado de forma muito tímida por parte do governo central, através de políticas generalistas, que incluem, mas não corrigem as distorções históricas. Esperava-se do PT no governo uma atitude mais firme no enfretamento do racismo institucional, adotando diretrizes em todos os seus ministérios e órgãos, comprometidos com as diretrizes traçadas na Conferência de Durban. Mas não é isto, que se vê.

Parece que continuamos com vergonha de assumirmos nosso passado escravagista e se unimos com os “otimistas” que esperavam que os brasileiros se tornassem, cada vez mais pardos, assim, os dados da desigualdade seriam diluídos no mar de igualdade etinicoracial. Neste sentido permanecer negro, ainda que seja só no discurso, não é legal, é  até mesmo feio, a medida que, não contribui com a politica nacional, porque sua existência denuncia o racismo institucional, que se esconde sob uma veste democrática. Seguimos felizes, porque aqui, no Brasil, não se pede certidão de nascimento para os negros, somo todos brasileiros e brasileiras. Poderíamos convidar o presidente Obama para se naturalizar como brasileiro, assim não passaria pelo constrangimento de ter que apresentar a certidão de nascimento em cadeia nacional, por outro lado, ele correria o risco de jamais ser presidente de sua nação, se não por acaso, morresse nas ruas de seu país, ainda jovem.

Sérgio Martins – Advogado

Militante do Movimento Negro

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