Alunos negros são vítimas de discriminação racial nas escolas

Nova Iguaçu – Xingamentos, brincadeiras e apelidos. É assim que se revela a discriminação racial entre alunos de escolas públicas, segundo a pesquisa Cotidiano das Escolas: Entre Violências, divulgada neste sábado (25) no Fórum Mundial de Educação, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Fonte: Diversidade Cultural

Os dados demonstram que 5% dos 9.744 alunos pesquisados nas escolas públicas urbanas estaduais e municipais de Salvador, Belém, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal afirmaram ter sido vítimas de rejeição e discriminação por causa da cor da pele.

 

Esse percentual cresce para 13% quando os alunos se identificam como negros. Isso indica, segunda a pesquisa, que os negros são os que mais se destacam ao assumir que sofrem preconceito por causa da cor. Dos que se disseram pardos, cerca de 4% afirmaram ter sofrido discriminação racial.

 

Para a socióloga Miriam Abromavay, esse dado pode indicar gradações na aceitação do negro, conforme a cor da pele. A coordenadora do estudo informou que o preconceito racial é manifestado de várias formas. A principal delas é o xingamento de cunho racista – 9% dos alunos revelaram terem sido xingados por causa de sua cor por outros colegas.

 

Esse percentual sobe para 22% quando a vítima do xingamento se diz negra e é de 6% entre os alunos que se auto-identificam como brancos. Miriam Abromavay disse ainda que o preconceito racial também apareceu sob a forma de apelidos e brincadeiras.

 

Outra constatação importante observada na pesquisa, de acordo com a socióloga, foi quando se associou raça e gênero. “As alunas negras são vítimas de discriminação não somente em relação às colegas brancas, mas também em relação aos alunos negros. Elas são preteridas pelos garotos e se tornam alvos de humilhações e gozações.”
Estudo feito em cinco capitais – Belém, Brasília, Salvador, São Paulo e Porto Alegre – revela que estudantes negros têm desempenho escolar pior do que alunos brancos. Uma das conclusões da pesquisa elaborada pela Unesco sustenta que o baixo rendimento dos alunos negros está diretamente relacionado a uma forma velada de preconceito que ganha força no ambiente escolar, disseminado inclusive por professores.

Intitulada Relações Raciais na Escola: Reprodução de Desigualdades em nome da Igualdade, a pesquisa partiu dos dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2003, aplicado em alunos da rede pública e particular de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio. De acordo com o estudo, os alunos negros têm notas baixas em matemática e português. “Quanto maior a série, mais a pontuação cai”, ressalta Miriam Abramovay, uma das pesquisadoras e secretária-executiva do Observatório Íbero-Americano.

Na 4ª série do ensino fundamental, a média de notas dos alunos brancos é 12,40 pontos maior do que a dos estudantes negros. Na 3ª do ensino médio, essa diferença aumenta para 22,41 pontos. A diferença predomina até quando os estudantes negros são da classe social mais favorecida. Na classe E, por exemplo, 78,70% dos alunos brancos e 80,60% dos alunos negros têm notas consideradas críticas ou muito críticas. Já entre os da classe A, a taxa de desempenho fraco dos negros é de 23,40%, enquanto entre os alunos brancos, 10,30%.

A Unesco também realizou um estudo qualitativo em 25 escolas de ensino fundamental e médio sobre as relações raciais nas salas de aula, no recreio e no entorno das escolas. Foram ouvidas 500 pessoas em grupos focais e 132 em entrevistas individuais. A maioria dos entrevistados tende a negar que há diferenças no desempenho escolar entre alunos negros e brancos.

A pesquisa também fez uma avaliação sobre a política de cotas, o movimento negro, a lei que institui o ensino sobre África e a cultura negra nas escolas, entre outros assuntos. “Quando se nega que há preconceito racial, esconde-se o problema e a discriminação continua”, aponta Mary Garcia Castro, pesquisadora e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Segundo Mirian Abramovay, a diferença de rendimento e o comportamento dos alunos brancos em relação aos negros refletem o clima do ambiente escolar. “Essa é a forma como os estudantes negros são tratados pelos demais alunos, pelos professores e pelos diretores das escolas”, sentencia.

No estudo de casos, as pesquisadoras encontraram histórias chocantes de racismo na escola: professoras que batem com caderno no rosto de alunos negros, alunas que choram ao contar que são vítimas de racismo e até alunos negros que discriminam outros da mesma raça. “Mas o pior é o racismo velado, aquele que cala, que silência”, ressalta Mary Castro.

O estudo descreve ainda que são comuns na escola os apelidos pejorativos e diversas formas de preconceito contra estudantes negros. O problema costuma ser mascarado, como se o racismo fosse brincadeira. “Tem estudante branco que chama o colega de neguinho e a vítima ainda acha que é uma forma carinhosa de tratar”, diz.

 

+ sobre o tema

USP oferece curso online de programação para alunos do ensino médio

USP oferece curso online de programação para alunos do...

‘Com a política de cotas, a universidade passa a ser uma possibilidade real’

Com a política de cotas, a universidade passa a...

Universidade de Coimbra usará enem para brasileiros

Estudantes brasileiros poderão ingressar na Universidade de Coimbra, em...

UNICAMP: 4 Cursos de extensão a distância na área da Educação abrem inscrições

A Escola de Extensão da Unicamp – EXTECAMP é...

para lembrar

Apoiar entrada de jovens negros na universidade é pensar sobre qual futuro queremos

Em um cenário de crise aguda, a educação continua...

Kelly se tornou professora na pandemia e luta por inclusão na sala de aula

Kelly Aparecida de Souza Lima, de 46 anos, tornou-se...

Joel Rufino fala da literatura nas escolas

Joel Rufino dos Santos é um dos nossos mais...

Matrículas das universidades federais caem pela primeira vez desde 1990

George Monteiro, de 20 anos, já tinha encaminhada sua...
spot_imgspot_img

A lei 10.639/2003 no contexto da geografia escolar e a importância do compromisso antirracista

O Brasil durante a Diáspora africana recebeu em seu território cerca de 4 milhões de pessoas africanas escravizadas (IBGE, 2000). Refletir sobre a formação...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas, como imaginado. A estudante do 3º ano do ensino médio Franciele de Souza Meira, de...

Estudo mostra que escolas com mais alunos negros têm piores estruturas

As escolas públicas de educação básica com alunos majoritariamente negros têm piores infraestruturas de ensino comparadas a unidades educacionais com maioria de estudantes brancos....
-+=