Pelo menos 50 famílias da favela da Vila Prudente, na Zona Leste de São Paulo, que conseguiram salvar suas casas do incêndio ocorrido em agosto, serão obrigadas pela prefeitura a abandonarem suas residências. Sem muitas explicações. A determinação foi anunciada há cerca de um mês, em uma reunião com representantes da Secretaria Municipal de Habitação, de acordo com os próprios moradores.
Ainda não há data para deixarem o local, porém já se sabe que eles receberão da prefeitura R$ 2.100, referentes a sete meses adiantados de auxílio-aluguel, de R$ 300. A remoção atingirá os barracos instalados entre a estação de trem Ipiranga e o centro de compras Mooca Plaza Shopping, a mesma que pegou fogo há dois meses.
O anúncio da desapropriação foi feito em uma reunião com um representante da Secretaria de Habitação, de acordo com a moradora Elza Miranda e Souza, que, além da casa, possui um pequeno bar no local. “Ela disse que não tinha mais nada para nós além dos R$ 2.100 e que não podia assumir nada nas vésperas da eleição. Ela disse que tudo o que podia fazer era entrar em contato daqui a sete meses para saber se iam continuar com o bolsa aluguel”.
Na ocasião, Elza avisou que R$ 300 não são suficientes para pagar um aluguel. “Ela disse que se eu tivesse um parente que morasse em cima podia entrar em acordo com ele para nos ajudarmos. Com um valor desse você só arruma (casa) em favela. Por que eles não deixam a gente no nosso lugar?”.
O também comerciante e morador Severino de Alencar concorda. “Acho errado eles quererem dar uma esmola para a gente. Se você está com seu rancho aqui, um ponto comercial, que nem a gente, o que vai fazer? Para morar dá para morar em qualquer lugar, mas uma coisa assim, para a gente sobreviver, é mais difícil. A gente, que é favelado, é discriminado por todo mundo”. De acordo com ele, a prefeitura não justificou a retirada das pessoas.
A Rede Brasil Atual procurou a Secretaria de Habitação e a Subprefeitura da Vila Prudente para questionar o motivo da remoção, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. A assessoria de comunicação da Subprefeitura lembrou, por telefone, que a área é uma ocupação irregular e pediu que a reportagem procurasse a Secretaria Executiva de Comunicação da prefeitura, que tampouco ofereceu qualquer resposta sobre o problema.
Elza conta que os moradores que serão desalojados também tentaram conversar com o subprefeito da Vila Prudente, Roberto Alves dos Santos, por duas vezes, mas não tiveram sucesso. “Quem atendeu foi o assessor dele, e disse que não tinha nada para falar com a gente”.
Ameaças
As famílias que perderam as casas no incêndio também receberam R$ 2.100 referentes ao adiantamento de sete meses de bolsa-aluguel de R$ 300. Alegando que o valor não é suficiente para pagar um aluguel, alguns moradores tentaram reconstruir suas casas no mesmo local e foram impedidos pela polícia. A própria Elza conta que só conseguiu voltar para a sua casa quando “a guarda saiu um pouquinho”.
A moradora Maria Lúcia Nascimento teve menos sorte: ela perdeu tudo no incêndio e está tentando reconstruir sua casa. “A Guarda Civil Metropolitana não deixa a gente nem chegar perto. Começamos a mexer no terreno e eles falam que se continuarmos vão jogar bomba de gás”, conta. “Meu genro que está me ajudando a pagar o aluguel, porque o dinheiro que a prefeitura deu já acabou. Eu tive que comprar fogão, panelas, comida e roupas. Perdi uns R$ 8 mil com o fogo”.
O também morador Roni Santos confirma que a ação da GCM impede a reconstrução das casas. “Você começa a mexer no terreno e já vêm os homens cheios de autoridade. O pessoal bate o pé que quer voltar, porque seria mesmo muito melhor reconstruir aqui”, conta. “Fala para mim: o que é R$ 2.100 para quem perdeu sua casa? É uma esmola. Não dá para nada”.
Fonte: Correio do Brasil