Ataque à crise subestima bancos e mira efeito lateral

 – 100 Dias de Obama –

Próximos meses são vitais para saber se ações do governo farão mais do que mitigar estragos

Instituições dos EUA podem ter mais que o dobro do PIB brasileiro em ativos tóxicos, que infestam economia e limitam foco do presidente

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Fonte: Folha Online

Quase cem dias (97 exatamente) se passaram desde a posse do presidente Barack Obama. Foram 176 a partir da sua eleição. Mas já correram 227 desde a quebra do banco americano Lehman Brothers, em setembro. O fato acendeu o rastilho de pólvora que fez explodir a maior crise financeira desde a década de 1930.

Os EUA estão no centro da atual turbulência e são a principal causa dela. Mas ainda não conseguiram atacar seu cerne: o entupimento do mercado de crédito a empresas e consumidores que vem autoalimentando a maior recessão global do período pós-Segunda Guerra.

Até aqui, o governo Obama conseguiu atacar a crise apenas pelas bordas, como se tentasse levantar barreiras contra as ondas negativas que ainda emanam do sistema bancário.
Com medidas ousadas e inéditas, e gastos trilionários, o entorno da crise vem sendo enfrentado, basicamente, em três principais frentes:

1) O juro básico nos EUA foi reduzido a quase zero. Em tese, isso estimula pessoas e empresas a tirar dinheiro de aplicações financeiras para gastar, reativando a economia;

2) O Fed (o banco central dos EUA) passou, pela primeira vez, a garantir com dinheiro público a emissão de títulos de empresas e bancos privados para que possam tomar dinheiro no mercado e financiar seus negócios. Se o banco ou a empresa quebrar, o governo banca;

3) O Congresso aprovou um pacote de estímulo fiscal de cerca de US$ 800 bilhões (equivalente a 2/3 do PIB do Brasil) para investimentos em infraestrutura e gastos públicos.
A conta dessas medidas é salgada e já supera a casa do trilhão de dólares, podendo subir muito mais dependendo do desenrolar e da duração da crise.
Outros cerca de US$ 600 bilhões já foram gastos na transição de George W. Bush para Obama para socorrer exclusivamente o sistema bancário.

Espiral negativa

Mesmo assim, o desemprego tem subido rapidamente, com entre 500 mil e 650 mil cortes ao mês neste ano, e ruma para a casa dos 10%, prevê o FMI.
Empresas gigantescas como General Motors e Chrysler seguem à beira da concordata, e os resultados gerais do setor corporativo no primeiro trimestre foram horríveis. O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York patina há semanas.

A explicação para a não reação da economia, apesar das medidas extraordinárias que Obama vem tomando, está no “problema dos bancos”. Estão entupidos com os chamados “ativos tóxicos”, que podem somar US$ 2,8 trilhões nos EUA (mais de dois PIBs do Brasil).

Os “ativos tóxicos” são resultado de empréstimos mal feitos pelos bancos e de títulos que eles têm em suas carteiras que são garantidos, sobretudo, por imóveis. Até 2007, os preços das casas no país viveram uma “bolha”, subindo exatamente pela grande oferta de crédito.

Quando a “bolha” explodiu, e os preços das casas despencaram, não apenas os empréstimos imobiliários viraram um “mico” para os bancos como os papéis que eram lastreados nos pagamentos dos mutuários perderam rapidamente o valor.

Com perdas gigantescas em seus balanços, os bancos pararam de emprestar a empresas e consumidores. Sem crédito, fábricas e comércio pararam de produzir e vender, e os consumidores (altamente endividados nos EUA) se retraíram.

Daqui a alguns dias, o Departamento do Tesouro divulgará o resultado de testes que fez nos 19 maiores bancos do país e deverá iniciar um processo de atração do setor privado para comprar “ativos tóxicos” dos bancos. Para isso, propõe-se a subsidiar ou garantir quase US$ 0,95 para cada US$ 1 que o investidor privado adquirir.

A conta disso tudo foi empurrada para o futuro, pois a prioridade é tirar o país desta enorme crise. Por isso, e por conta dos bancos, os próximos cem dias de Obama serão bem mais decisivos do que os primeiros.

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