Cidadãos? Outras Impressões da Terça

Por Leno F. Silva

Com as minhas caminhadas matutinas pela região da Paulista, Augusta, Consolação e Higienópolis, noto, a cada dia, que é expressivo o número de moradores de rua que encontram nas calçadas para o descanso noturno.

O kit de sobrevivência é basicamente o mesmo: placas de papelão, cobertor ou algo parecido e alguns apetrechos extras que varia de acordo com as necessidades de cada um. Quando o fluxo de pessoas pelos passeios públicos aumenta é sinal que o deslocamento precisa ocorrer.

Acredito que todos aproveitam o dia para perambular pelos bairros e, provavelmente, vários deles têm “moradia” fixa e serão encontrados, ao anoitecer, nos mesmos lugares, para o sono dos justos. Outro dia, na esquina das ruas Frei Caneca e Dona Antônia de Queiros, um cidadão utilizava a água “limpa” que descia pelo meio fio para lavar os pés e as poucas peças de roupas.

Na rua Dr. Penaforte Mendes está instalado um abrigo da Prefeitura de São Paulo que serve refeições diariamente. Por conta desse serviço assistencialista, em frente ao local concentra-se uma quantidade maior de moradores que passa as noites por ali. Não seria o caso de existir no mesmo local uma estrutura com camas, banheiros e um serviço de apoio a esses cidadãos?

É notório que o “baixo Augusta” é uma das áreas mais valorizadas dos últimos anos. Dezenas de empreendimentos imobiliários estão em fase de construção. A médio prazo, o perfil de comércio e de frequentadores deverá se alterar. O metro quadrado dos imóveis bateu a casa dos R$ 10.000,00, algo impensável há dez anos. É provável que esse progresso em nada altere a vida dos moradores de rua. Afinal, muitos os consideram preguiçosos, pessoas que não têm força de vontade para batalhar e lutar por um lugar ao sol.

O tipo de desenvolvimento em curso provavelmente atrairá para esses bairros outros moradores de rua, visto que, como a lei da oferta e da procura, eles buscam regiões que os permitam desempenhar no decorrer do dia alguma atividade rentável, como catar papel; pedir esmola ou vasculhar, nos lixos e nos bares e restaurantes, restos de comida. Como estamos em ano eleitoral, é muito apropriado que os candidatos a prefeito proponham soluções para um dos mais antigos problemas sociais dessa metrópole. Mas será que eles sabem da existência dessas pessoas? Por aqui, fico. Até a próxima.

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