Como falar sobre Direitos Humanos?

por Edsonmarcon

Em texto recém publicado neste blog, fiz uma forte provocação: usando termos chulos e pesados, citando casos de estupros e espancamentos, conclamei os ativistas de direitos humanos a mudarem o discurso em um eventual debate com pessoas conservadoras ou apenas desinformadas (a quem chamei de “coxinhas”. Convenhamos, perto de defensor de bandido, “coxinha” é um termo light. Aliás, é o meu salgado preferido).

No Brasil, infelizmente, existe um falso consenso na população de que segurança pública é sinônimo de “porrada”, de tortura e de violência. Justiça então se confunde com vingança. Décadas de jornais ou programas de TV de cunho sensacionalista martelando essas falsas ideias reforçaram esses conceitos nefastos no brasileiro médio.

Este vídeo é bom para demonstrar esse falso consenso: Ratinho fala abertamente em matar bandidos e o povo vibra ( http://www.youtube.com/watch?v=bqy8qbcbAa4). Aqueles que vibraram com a ideia higienista do apresentador não eram membros nossa famigerada elite branca, mas pessoas da classe média baixa ou pobre mesmo.

Infelizmente, no Brasil, direitos humanos servem só para bandidos. É nisso que o povo acredita! Um estudo do Ministério da Justiça confirma que uma boa parte da população costuma associar DH a ladrões, assassinos, delinquentes, marginais etc. (Ver página 254, quadro 20: http://portal.mj.gov.br/sedh/biblioteca/livro_percepcoes/percepcoes.pdf).

É urgente melhorar a reputação dos DH no Brasil. Políticos de cunho conservador enxergam no discurso higienista uma ótima plataforma eleitoral, com grande capital político a ser explorado.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados correu o risco de ser presidida exatamente pelo representante-mór dos reacionários, Dep. Jair Bolsonaro (PP-RJ), cujas declarações são de dar inveja a qualquer nazista, para substituir o Dep. Marco Feliciano (PSC-SP), que dispensa maiores comentários. Na Câmara dos Vereadores de São Paulo, existe a bancada da bala, composta por ex-policiais militares com longo histórico de homicídios. E o potencial político desse discurso está longe de se esgotar.

Nós, ativistas e defensores de direitos humanos, devemos sair das universidades, dos nossos círculos fechados e falar diretamente à população o que são Direitos Humanos, para que servem e por que eles deveriam valorizá-los como seus próprios direitos, e não apenas como direitos de proteção a bandidos.

O povo precisa ver na prática o que a não observância dos direitos humanos causa, perceber o quanto é nociva para todos nós, por isso, relatos como os de estupros de inocentes em cadeias, de mulheres que sofreram revista íntima quando foram visitar alguém na prisão, entre outros, são muito importantes. Além disso, precisamos falar a linguagem do povo: claramente, todos são livres para dosar ou sequer utilizar termos chocantes e chulos, mas posso garantir que essas palavras pesadas contribuem para que a mensagem seja bem compreendida pelo receptor.

Devemos criar vídeos em que os relatos de abusos sejam expostos, veiculando-os nas redes sociais e nas TVs; devemos exigir direito de resposta quando algum apresentador faça o que o Ratinho fez no vídeo do link acima. O mais importante é mostrar aos cidadãos que todos um dia podem ser vítimas da violência, dos abusos de um agente do Estado ou de um particular e, assim, precisar que seus “direitos humanos sejam respeitados”, como dizem por aí.

Discurso claro, compreensível e com boa dose de provocação, invertendo papeis e questionando diretamente esse falso consenso brasileiro: assim, talvez, a gente reverta a má reputação dos direitos humanos no Brasil. Assim, talvez, dê para impedir que o discurso higienista ganhe força suficiente para destruir todos os avanços trazidos pela Constituição Cidadã de 1988.

Fonte: GGN

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