Cultura Negra da Praça do Reggae à Deriva

por MAYKON

No Centro Histórico de Salvador, o Reggae foi um ritmo muito importante antes da “recuperação”. A cultura criada ao redor desse ritmo foi fundamental no processo de criação do Bloco Afro Olodum e no significado que a população pobre e negra de Salvador começou a associar ao Pelourinho: Jamaica, negritude, contestação. Essa cultura se inventava e se reproduzia fundamentalmente em dois lugares especiais: o Bar do Reggae, na Rua João de Deus, e o Cravinho Rastafari, na Gregório de Matos. O governo tentou domesticar o Reggae com a criação da Praça do Reggae tentando tirar de circulação os rastafáris do Pelourinho juntando-os num só lugar, para tanto removeu os tradicionais bares (Bar do Reggae, Negro’s Bar e o Cravinho Rastafari) para uma praça cercada, onde se pagava para entrar após uma prévia revisão policial, havia dois desembargadores e cinco juízes de plantão para esconder a estética natural do povo negro dos turistas.

As limitações institucionais não conseguiram impedir o pulsar de vida na Praça do Reggae e uma nova resistência memorável e histórica espalhou-se pelo ar e assim um novo conjunto de vida floresceu como se regado pela água da chuva e fertilizado pelos cantos do Reggae. Desta forma as parcerias naturais da resistência negra foram se fortalecendo no lugar onde se pretendia enfraquecê-la. O comércio informal de artesanatos, souvenir’s, quituteiras e estéticas negra estabeleceu-se no espaço como uma magia dos Orixás. Neste cenário surge fortemente à presença da mulher negra que sempre foi subjugada e marginalizada no processo de formação da sociedade brasileira, como atesta Cecília Moreira Soares em seu artigo intitulado; AS GANHADEIRAS: Mulher e resistência negra em Salvador no século XIX.

Quem consegue mensurar, quanto a cultura negra têm trazido de divisas e vendido a imagem de identidade da Bahia e do Brasil? E agora que toda uma história começava a se fazer sentido, que toda uma memória começava a se cristalizar num espaço de identidade por conta da luta de ressignificação, esse espaço é desmontado pelo governo, sem nenhum aceno a outro melhor!

E os elementos que davam vida à Praça do Reggae ficaram a deriva! Os sujeitos desta cultura que ocupavam a Praça sequer foram computados como pessoas no lugar! É como se fossem estacas e concretos ou outros objetos que precisavam ser destronados; a exemplo de duas jovens negras que há 11 anos desenvolviam a estética negra neste espaço, construíram uma clientela em toda região metropolitana, interiores do estado e internacional e já serviram de reportagem e divulgação da mídia e governos. As meninas resistiram e se recusaram a retirar seus matérias de trabalho que se encontram hoje junto aos entulhos da malfadada obra. Mas como estas são frutos da resistência histórica da população negra, não se abateram e buscaram apoio no Ministério Público Estadual e foi atendida pela Promotora de Justiça e Cidadania Drª Márcia Regina dos Santos Virgens, que as atendeu muito bem e informou que buscará soluções junto aos órgãos competentes. E por falar em providencias o que será que fará os representantes oficiais do povo negro baiano!!! 80% NÃO É PROBLEMA, É SOLUÇÃO!

Diante de fatos como este, perguntamos: O que querem falando em turismo étnico? Será que mais uma vez a única intenção é a nossa doação do legado de luta e resistência de nossos antepassados aos descendentes dos seus algozes – que são nossos inimigos nos dias de hoje! O nome de Mestre Pastinha é festejado e dá lucro ao turismo; mas, não podemos esquecer como ele perdeu o lugar da sua academia!

A cultura negra tem se tornado um grande diferencial na sociedade internacional. Senhores marqueteiros dos shoppings da cidade usem a criatividade e ofereçam stands nas praças principais de seus empreendimentos para que muito (a)s jovens habilitado (a)s e em busca de inclusão social possam trabalhar com dignidade. E de “quebra” realizem concursos dos melhores stands durante todo verão.

Fonte: Circulo Palmarino

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