Da Cor da Bahia: conheça história da yalorixá que abriu as portas do terreiro para o 1º afro do Brasil

Enviado por / FonteG1, por Eric Luis Carvalho

Especial do g1 durante mês dedicado à Consciência Negra destaca histórias de baianos que se tornaram referências em suas atividades.

Nascida em Salvador, em 1923, Hilda Dias dos Santos, a Mãe Hilda foi uma yalorixá, ativista, educadora e figura determinante na criação do bloco afro Ilê Aiyê. Conselheira e líder, Mãe Hilda abriu as portas de seu terreiro não só para o primeiro bloco afro do Brasil, mas também para educar as crianças do bairro e marcou época em defesa das tradições africanas.

Referência e inspiração para o bloco Ilê Aiyê, Mãe Hilda era considerada uma mulher de autoridade “lenta, macia e sútil”, como define a ex-secretária de Cultura da Bahia, Arany Santana. Iniciada no candomblé por conta de um problema de saúde, fundou em 1950 o terreiro que liderou até sua morte em 2009.

Mãe Hilda Jitolu — Foto: Acervo pessoal

Nesta reportagem, o g1 conta curiosidades sobre a mulher que decidiu ir para a rua acompanhar o filho, Antônio Carlos ‘Vovô’, que ao lado de Apolônio de Jesus e amigos, criou o primeiro bloco afro do Brasil. Mãe Hilda dizia que caso houvesse algum tipo de repressão policial ao bloco que desfilou no carnaval pela primeira vez em 1975, ela e não os filhos sairiam presos.

  • Hilda Dias dos Santos, a Mãe Hilda, nasceu no bairro de Brotas, em Salvador, em 1923.
  • Neta de africanos, Mãe Hilda é filha de negros nascidos no Brasil.
  • Em 1936, aos 13 anos, com a mãe, tia e primos, Mãe Hilda se muda para a região do Curuzu, que ainda pertencia ao bairro da Liberdade
  • Mãe Hilda foi iniciada no candomblé aos 19 anos por motivos de saúde, na Nação Angola, filha de Obaluaê, pelo Babalorixá Cassiano Manoel Lima, no bairro da Caixa D’Água.
  • Com morte de Cassiano Manoel e o fechamento de seu terreiro, ela foi acolhida pela nação Jeje Savalu, através de Mãe Tança.
  • Em 1950 fundou o terreiro Acé Jitolu, de tradição Jeje, no Curuzu. Local onde até hoje o Ilê inicia seus trabalhos no carnaval.
  • Sua luta por questões raciais inspirou os filhos e outros moradores do Curuzu a criar um bloco apenas de negros.
  • Ao tomar conhecimento da ideia de criação do Ilê, passa a apoiar o filho, Antônio Carlos ‘Vovô’ e Apolônio de Jesus, criadores do bloco, em 1974.
  • Mãe Hilda tem papel determinante no nome do bloco, que se chamaria Poder Negro, mas por sua sugestão se chama Ilê Aiyê, nome de origem iorubá que pode ser traduzido como “Casa de Negro”.
  • “Se meu filho for preso, eu também vou”, dizia na época da criação do Ilê, sobre a possibilidade de repressão policial.
  • No Acé Jitolu, Mãe Hilda foi guardiã dos Orixás, Inquices e Voduns, nomenclaturas e etnias dos sagrados nos candomblés Ketu, Bantu e Jeje.
  • Na década de 80 visitou a Serra da Barriga, e dirigiu rituais destinados a celebrar Zumbi dos Palmares, que viveu naquela região.
  • Mãe Hilda ainda retornaria para a região de Alagoas anos depois na companhia de Abdias do Nascimento.
  • Em 1988, Mãe Hilda idealizou e dirigiu inicialmente a Escola Mãe Hilda
  • A escola nasceu no Barracão do Acé Jitolu e cresceu pelo quintal do terreiro. Sem registro oficial, a escola funcionou inicialmente como ‘banca’, nome dado ao reforço escolar na Bahia.
  • De 1988 até 2004 a escola funcionou no Barracão, até ser inserida na construção da sede do bloco. Atualmente a Escola Mãe Hilda atende crianças do 1º ao 5º ano.
  • Filhos e amigos, como a ex-secretária de Cultura da Bahia, Arany Santana definem Mãe Hilda como uma mulher de “autoridade lenta, macia e sútil”.
  • Ao longo de sua vida, Mãe Hilda se tornou uma espécie de conselheira da comunidade e uma grande incentivadora da educação.
  • Liderança sociocultural do bairro, se tornou uma referência para a comunidade negra e religiosa.
  • Mãe Hilda morreu em 19 de setembro de 2009, aos 86 anos.
  • A yalorixá dá nome à unidade de saúde do bairro do Curuzu.
  • O circuito carnavalesco entre o Curuzu e o Plano Inclinado da Liberdade, onde desfilam o Ilê e outras entidades no carnaval, também leva o nome de Mãe Hilda Jitolu.
  • Em 2023, por conta das celebrações do seu centenário, foi criado o Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu.

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