Dados revelam fosso entre negros e brancos, diz ativista

Por: Ana Cláudia Barros

 

Reginaldo Bispo- MNU

Os dados que confirmaram a manutenção das desigualdades entre brancos, negros e pardos no país, apresentados na última sexta- feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não surpreenderam o coordenador nacional de organização do Movimento Negro Unificado (MNU), Reginaldo Bispo. Para ele, os números refletem a “falta de um projeto político de nação” e mostram que ainda há um “fosso” separando os grupos.

Apesar de identificar a redução das desigualdades entre negros, pardos e brancos nos últimos anos, a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2010, elaborada a partir de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009, revelou, por exemplo, que, em média, os salários dos dois primeiros grupos continuam inferiores aos dos brancos, embora a diferença tenha diminuído na última década.

Segundo a pesquisa, o rendimento-hora de negros e pardos correspondia a 57,4% do rendimento-hora dos brancos. Ao mesmo tempo, a proporção de negros e pardos, empregados sem carteira assinada é maior (17,4% e 18,9%, respectivamente, contra 13,8% de brancos), indicando que os dois grupos estão em desvantagem no mercado de trabalho.

– Não há novidade (referindo-se aos dados). Ainda existe uma distância entre negros e brancos. A crítica que temos feito é que não há um empenho por parte, seja da sociedade, seja do governo, no sentido de realmente atuar para acabar com essas diferenças.

Na opinião de Bispo, a população negra ainda é colocada à margem da sociedade, porque “são criados uma série de mecanismos que impedem que ela avance”.

– O desenvolvimento, a distribuição de renda, a oferta de empregos com melhor qualidade ou educação de forma mais contundente não chegam aos locais mais longínquos do Brasil, onde a miséria e a pobreza são graves. A coincidência é que os focos de miséria em grande escala ocorrem justamente nos locais em que se encontra a maioria da população negra. São eles: Norte e Nordeste e periferia do Sudeste.

Educação

O números apresentados pelo IBGE também sinalizaram melhoras nos indicadores educacionais para negros, pardos e brancos, ao longo da última década. Entretanto, se consideradas a média de anos de estudo e a presença de jovens no ensino superior, é possível constatar que, em 2009, negros e pardos ainda não haviam alcançado os indicadores que os brancos já apresentavam em 1999.

A desigualdade é acirrada, também, em relação às taxas de analfabetismo, que, entre negros e pardos são mais do que o dobro da verificada entre brancos. No ano passado, o índice de analfabetismo para negros foi de 13,3%; pardos, 13,4% e brancos, 5,9%.

– Isso é flagrantemente sério. O funil começa no Ensino Fundamental. No Ensino Médio, o número de negros na escola pública já é pequeno, porque a maioria tem que trabalhar ou não tem incentivo para permanecer na escola, que, normalmente, são de péssima qualidade. No estado de São Paulo, o mais rico da federação, por exemplo, as escolas são ruins em todos os municípios. Isso é um fator que, aliado à falta de tradição familiar, acaba afastando o jovem da educação média. Muitas vezes, precisa ingressar no mercado de trabalho, abaixando o custo da mão de obra. Em outras, entra para o crime, desgraçando seu futuro – afirma o representante do MNU.

Na visão dele, ações afirmativas, como cotas raciais em universidades, são fundamentais para minorar as desigualdades entre brancos e negros.

– Se não acontecer esse tipo de mecanismo, há um agravamento do quadro de violência, de tensão social de toda ordem. É bom para os negros e para os brancos. Se queremos construir uma nação, e aí, precisamos de um projeto político para isso, é preciso que haja todos os segmentos da sociedade qualificados e representados. Entendemos que, a partir de agora, é possível que esses negros, que começam a se formar através das cotas, participem mais do processo de produção intelectual, de uma visão, de um segmento que, até aqui, não teve papel fundamental. Florestan Fernandes (sociólogo) dizia que não haveria desenvolvimento no Brasil nem revolução, enquanto os negros não fossem integrados no esforço de construção do país, não fossem reconhecidos como parte desse processo.

 

 

Fonte: Terra

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