Delegada indicia funcionário de estande da Editora Abril na Bienal por racismo

Segundo advogado do colégio, alunas foram ofendidas em estande da Abril.

Delegada diz que funcionário negou acusações. A Abril não comentou o caso.

A delegada titular da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), Adriana Belém, indiciou nesta segunda-feira (12) por racismo um funcionário do estande da Editora Abril na Bienal do Livro, no Rio. O caso vai ser enviado em até 30 dias para o Ministério Público, que vai decidir se aceita ou não a denúncia. Segundo a delegada, a pena pode variar de um a três anos de prisão.

De acordo com José Carlos, professor e advogado do Colégio Estadual Guilheme Briggs, de Niterói, na semana passada, duas alunas estavam em um passeio da escola na Bienal quando o funcionário do estande negou as senhas para a palestra de um ator alegando que “não gostava de negros” e que as estudantes seriam “negras do cabelo duro”, e, em seguida, ofendeu o resto do grupo, os chamando de “negros, favelados e sem educação”. A Bienal terminou neste domingo (11).

Segundo a delegada, o funcionário, que é de uma empresa terceirizada que representa a editora no Rio e no Espírito Santo, ouvido nesta segunda negou as ofensas e se referiu às estudantes como “morenas escuras, quase negras”.

“Mas ele caiu em contradição em vários momentos, como quando disse que poderíamos requisitar as fitas de gravação do estande e depois voltou atrás dizendo que não havia câmeras no estande. Ele nega tudo, mas não se trata da palavra de uma pessoa contra a palavra de outra. Temos mais de dez testemunhas do caso. Nem a confusão no estande ele admite, mas é certo que alguma coisa grave aconteceu lá”, disse Adriana Belém.

A delegada ouviu além do funcionário acusado, o representante da Editora Abril no Rio, e duas funcionárias do serviço de atendimento ao cliente. Nenhum dos ouvidos quis falar com a imprensa. O G1 procurou a assessoria da Editora Abril que disse que não ia comentar o caso. Na semana passada, a assessoria explicou ao G1 por telefone que não distribuiu senhas para as suas palestras e que nenhum ator foi convidado pelo estande.

A assessoria de imprensa da organização da feira, na ocasião, informou que “a Bienal do Livro representa a maior festa literária do país e tem como características a diversidade e a pluralidade. Fazemos parte do movimento em prol da democratização da leitura e lamentamos se o fato relatado tenha sido provocado por um dos expositores do evento.”

O caso foi inicialmente registrado na 77ª DP (Icaraí), e agora está sendo investigado pela 42ª DP. A delegada recebeu o depoimento de dez pessoas prestados na delegacia de Icaraí.

Fonte: G1

+ sobre o tema

Com medo da maré levar meus filhos: a vida das mulheres das palafitas de Santos

Em casas sob as águas, equilibradas sobre plataformas, moram...

Massacre de Paraisópolis completa cinco anos sem punições

O Massacre de Paraisópolis completa cinco anos neste domingo...

Acusado de racismo, boneco negro causa indignação na Austrália

A comercialização na Austrália dos emblemáticos bonecos negros de...

para lembrar

spot_imgspot_img

Rio de Janeiro se tornou resort do crime organizado

Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal retomou o julgamento da ADPF 635, a chamada ADPF das Favelas, pela qual se busca a elaboração de...

O silêncio que envergonha e a indignação que nos move

Há momentos em que o silêncio não é apenas omissão, mas cumplicidade. E o que aconteceu com Milton Nascimento, nosso Bituca, na cerimônia de premiação...

O mínimo a fazer no Brasil

Defender e incentivar ações afirmativas pela diversidade e equidade étnico-racial é o mínimo a fazer num país que por quase 400 anos baseou sua economia no...
-+=