Depois dos peruanos, restaurantes populares africanos ganham espaço no centro de São Paulo

“Ceviche será a nova pizza”, assegurou à Folha, em agosto do ano passado, o premiado chef peruano Gastón Acurio.

O cozinheiro se referia à iguaria andina feita com peixe cru e limão. O prato ganhou o paladar paulistano em 2013, com a profusão de restaurantes populares fundados por imigrantes na região da Luz (centro).

Agora, se depender de uma camaronesa radicada em São Paulo há seis anos, uma “nova polenta” conquistará São Paulo em 2014. Anote este nome infame —chegou a hora de experimentar o fufu.

FUFU NO BIYOU’Z

Com sorriso fácil, pele negra e brilhante, um olho sempre na cozinha e outro no caixa, Melanito Biyouha, 43, é dona do primo camaronês de restaurantes já conhecidos, como o peruano Rinconcito e o árabe Habib Ali, todos na região da cracolândia.

O Biyou’Z (pronuncia-se biúzzz) fica numa salinha simples com paredes pintadas de verde e vermelho. O espaço tem mapa do continente africano, esculturas de madeira, toalhas com motivos étnicos e mesas lotadas por uma clientela eclética —de congoleses a paulistanos natos.

Ali, a dois passos da esquina da alameda Barão de Limeira com a rua Vitória (centro), a mistura que dá forma ao fufu —massa encorpada de farinha cozida com milho, mandioca ou inhame— reina absoluta.

Mas não está só.

Numa das visitas da sãopaulo, a velha “jukebox” ao lado da geladeira de refrigerantes reverberava baladas do músico congolês Koffi Olomide.

“Música sentimental, não! Quero som para me mexer”, irrompeu a cliente angolana Dira Francisco (“mas me chama de ‘Carequinha da vez'”), 24, com uma lata de Skol na mão.

Estudante de economia e estagiária da prefeitura, a moça de cabeça raspada dividia mesa com as conterrâneas Paula Lukeni, 17, e Djanira Rocha, 24.

No colo desta última, a pequena Yanara, de dois anos, dormia plácida -alheia aos trompetes e batuques da nova canção que veio atender ao pedido de “Carequinha”.

“Moro na avenida São João”, contou a estudante de economia, ajeitando os óculos escuros. “Todos os africanos moramos por aqui. Por isso tem restaurante; todo estrangeiro precisa sentir um pouco da sua terra.”

E no pequeno salão do Biyou’Z, assegura a simpática proprietária, dá para sentir um pouco de muitas terras.

‘CULINÁRIA CONTINENTAL’

É esse o trunfo da casa tocada por Melanito -o mais frequentado por paulistanos entre os restaurantes africanos do centro.

Sua cozinha não se resume a um só país, e inclui sabores de locais distintos como Senegal, Angola, Congo, Nigéria e Tanzânia.

“Abri o restaurante porque percebi que São Paulo não tinha um local que representasse a verdadeira comida do meu continente”, diz a camaronesa.

O tiep (prato de arroz, carne, cenoura, repolho, batata-doce e mandioca) faz sucesso entre os senegaleses.

Conhecidos por circular por grandes cidades em todo o mundo com pastinhas metálicas (que carregam relógios e grossas correntes prateadas ou douradas), os senegaleses se diferem dos outros pela “cor e altura”, diz Jonathan, 41, cliente do local.

“Eles são muito, muito negros, magros e altos”, diz. “Já os etíopes têm rosto mais fino que todos.”

Ainda segundo o imigrante, os africanos mais elegantes —aqueles com longos conjuntos de túnicas e calças de tecidos brilhantes— são muçulmanos. “Sexta-feira é dia de oração, é mais fácil vê-los com roupas assim.”

Comum entre os angolanos, o fumbua (amendoim torrado com azeite de dendê, camarão moído, frango, mandioca e uma folha seca típica da África) foi o eleito pela arquiteta Bartira Ghoubar, debutante na culinária afro.

“Comi uma coisa de amendoim”, disse, tímida. “O gosto é muito bom.”

Ao contrário dos vizinhos angolanos, ela preferiu comer com talheres. “A gente come com a mão como sinal de união”, diz Melanito. “Mas cada um aqui come como quer.”

NIGERIANO

Colados ao Biyou’Z existem outros três restaurantes. Todos nigerianos.

Lá dentro só se fala inglês, francês ou dialetos regionais. Em dois deles, a reportagem foi convidada a se retirar.

“Not here, please” (em inglês, “não aqui, por favor”), disse um dos donos.

No terceiro, “Mercy Green”, fomos recebidos pelo garçom (“cozinheiro e faxineiro também”) Kevin, 22. “Brasileiros são bem-vindos”, disse o rapaz baixinho, mostrando no cardápio o cabrito com okro (molho apimentado).

A sãopaulo não conseguiu entrar em outros restaurantes nigerianos do entorno. “É que esse povo é tudo [sic] bandido”, argumentou uma comerciante vizinha, sem se identificar.

Vindo da Guiné há dois meses, Brian, 28, pensa diferente. “É por esse tipo preconceito gratuito que o povo fica desconfiado e retraído.”

Angolano, o estudante de arquitetura da Uninove Agostinho Martinho, 28, há cinco no Brasil, diz mais.

“É difícil se legalizar sem um bom advogado para agilizar as coisas.” Seu visto demorou dois anos para chegar. “Por isso tem gente com medo de ser deportada.”

Na dúvida, fique com o fufu de Melanito. “Cozinhar no Brasil é um sonho, ter vocês comigo é um prazer.”

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