Depois de fazer de “Pantera Negra” um sucesso com mais de US$ 1 bilhão de bilheteria e indicação ao Oscar de Melhor Filme, o diretor Ryan Coogler resolveu produzir um filme sobre o ativista Fred Hampton, integrante dos Panteras Negras.
Morto com apenas 21 anos em 1969, a figura de Hampton é relevante entre os americanos, ainda mais depois dos protestos nos Estados Unidos neste ano, após o assassinato de George Floyd por um policial racista.
“Judas e o Messias Negro” mostra como Hampton (Daniel Kaluuya, de “Corra!”) se tornou presidente da filial do estado americano de Illinois dos Panteras Negras (veja o trailer abaixo).
Em entrevista por videoconferência da qual o G1 participou, Coogler, o diretor Shaka King, o produtor Charles D. King e o ativista Fred Hampton Jr, filho do cinebiografado, falaram do filme. Ainda não foi definida a data de estreia no Brasil.
Coogler disse que é amigo do diretor há muitos anos, quando se conheceram no Festival de Sundance. Na época, ele estava lançando seu primeiro filme, “Fruitvale Station – A Última Parada”. Logo após terminar “Pantera Negra”, Coogler foi procurado por King para ajudá-lo a produzir “Judas e o Messias Negro”.
“Quando ele me trouxe o projeto, mexeu comigo o fato de que William O’Neal estava envolvido no assassinato do Fred”, diz Coogler, citando o criminoso e informante do FBI.
“Nós queríamos fazer da maneira certa. O fato é que esse crime, esse assassinato afetou pessoas reais até hoje. Não foi há tanto tempo atrás assim. Então a grande questão foi: como navegar com equilíbrio na seara do entretenimento, ao mesmo tempo em que tivemos que lidar com fatos reais?”, questionou”, comentou o cineasta, também diretor de ‘Creed – Nascido Para Lutar’.
Empenhado em fortalecer a comunidade negra e outros grupos oprimidos de Chicago contra a brutalidade policial, Hampton começa a incomodar as autoridades locais com o seu ativismo.
É quando o FBI decide fazer uma proposta para O’Neal (LaKeith Stanfield, também de “Corra!”) se infiltrar nos Panteras Negras e, em troca, ele não iria para a prisão.
Conhecendo melhor o trabalho de Hampton na comunidade, O’Neal começa a questionar os motivos que fariam o militante ser perseguido pelas autoridades, mas teme que seu disfarce seja descoberto. Mesmo assim, passa as informações que levariam à morte de Hampton.
Oportunidade perfeita
Charles D. King, que também conhecia pouco da história de Fred Hampton, aceitou participar como produtor de “Judas e o Messias Negro” quando soube que iria trabalhar com Shaka King, por admirar o seu trabalho.
“Tínhamos um roteiro incrível, ótimos atores… Foi a oportunidade perfeita para a gente e achamos que essa história é parte de um movimento para que tenhamos de informar o mundo e ao mesmo tempo entreter. Acreditamos que essa é uma história universal”, afirmou o produtor.
Já o diretor Shaka King disse que o que o motivou a fazer esse filme foi mostrar não só a perspectiva de Hampton, mas [a de O’Neal. Para ele, a escolha dos atores para interpretar os protagonistas foi algo instintivo e que por isso não incomodou o fato de que o americano Hampton fosse interpretado por Daniel Kaluuya, que é britânico.
“Eu nasci nos Estados Unidos, minha família é caribenha e meu nome é sul-africano”, disse o cineasta, em tom de brincadeira. Ele também revelou que Kaluuya se preocupou em conhecer os Panteras Negras para compôr o seu papel.
A atuação de LaKeith Stanfield foi bastante elogiada por King: “É incrível o que ele faz na tela, mas é isso que ele é e foi desafiador mostrar o que acontece com William depois do assassinato do Fred. A experiência dele tem muito a ver com o que acontece nos dias de hoje, quando as pessoas são manipuladas pelo sistema e acho que isso aconteceu com William O’Neal.”
Conversa difícil
Outro fator importante tanto para Shaka King quanto para Ryan Coogler foi a participação de Fred Hampton Jr na produção. King chegou a dizer que não faria o filme sem a presença do militante, com quem discutiu as questões da adaptação da vida de seu pai para o cinema.
“Não foi uma conversa fácil, muitas horas, muitos dias e noites de conversa. O legado era a coisa mais importante para a vida dele. Tentamos inovar a forma de como o legado dele seria passado e, ao mesmo tempo, ser realista e reconhecido por minha ou a próxima geração”, afirmou Hampton Jr.
Para Coogler, a luta mostrada em “Judas e o Messias Negro” permanece atual, ainda mais depois dos conflitos raciais e do movimento Black Lives Matter. “Tudo o que Fred falava era verdadeiro. O sistema ainda está aqui. Estamos na mesma luta. Estamos lutando contra o mesmo sistema”, comentou o diretor e produtor.