O jornal Folha de S.Paulo, no dia 2 de fevereiro, publicou editorial defendendo que a combinação avaliação de professoras/as e premiação por resultados é a receita para a melhoria da qualidade da educação no País. O editorial diz que a observação “de dentro da escola” é a melhor forma de identificar problemas, indicando que eles se resumem ao trabalho docente, mas reconhece, timidamente, que há várias soluções que estão fora da escola.
Por: Regina Oshiro
Portal do Observatório da Educação
O texto trata genericamente da conjuntura educacional, mas a intenção primeira é defender a política do governo Serra que instituiu uma avaliação para “premiar” professores titulares e não titulares da rede estadual, de acordo com o seu desempenho em provas anuais.
Como professora da rede desde 1987, já tendo passado por inúmeras medidas governamentais, que nem sempre redundaram em benefícios para a educação pública, não tenho como concordar com essa política e outras sugestões apresentadas pela Folha de S. Paulo.
Essa prova do mérito é discriminatória e injusta, pois poderá “beneficiar” apenas até 20% dos professores em condições de participar desse concurso, desde que haja disponibilidade orçamentária, um “detalhe” quase nunca mencionado. Consequentemente 80% da categoria ficará alijada dessa “premiação”.
É uma política que instaura uma competição entre os professores no lugar de promover cooperação e integração entre os docentes, já que educar é um trabalho que se faz coletivamente.
A última administração tucana tem se preocupado mais em culpabilizar os docentes pelas mazelas da educação do que em proporcionar uma política de formação permanente, o que significa repensar e articular a formação inicial, continuada e em serviço.
Burocracia e problemas de gestão não são exclusividades de escolas. Maior poder para o gestor em contratar e demitir docentes? Há projetos, como o Escola da Família e Escolas de Tempo Integral , entre outros, nos quais os gestores têm maior autonomia para contratar. A questão é como conciliar critérios objetivos que resvalam em subjetividades diversas. Confiamos em nossa cultura política, que nem sempre trata a coisa pública com o cuidado que deveríamos ter?
Nesse sentido o concurso público é a melhor forma de ingresso no serviço público. Também, é preciso construir gestões democráticas nas escolas e não centralizar poder na figura do diretor ou diretora.
O magistério necessita de uma política de valorização do seu trabalho e isso significa salário digno e melhores condições de trabalho para todos, como, por exemplo, limite do número de alunos por sala e turmas/por professores. Na conjuntura atual temos professores com 33 turmas, cuja disciplina tem uma aula semanal. Calculem a quantidade de alunos!
Precisamos de um plano de carreira que incentive a nossa permanência, atraia novos profissionais e que demonstre, na prática, que educação como prioridade se faz com investimentos, bem distante da lógica de pensá-la como custo e mero discurso.
Fonte: Ação educativa