Em Londres, a Europa une-se contra a Austeridade

No passado sábado reuniram-se em Londres mais de 650 pessoas na conferência Europe Against Austerity. Organizada pela Coalition of Resistance, reuniu representantes de vários países: Bélgica, Portugal, Reino Unido, Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Áustria, Polónia, Suécia, Suíça, Noruega e República Checa.

Por João Camargo.Artigo 

Este fórum para unir lutas por toda a Europa, reuniu-se no momento histórico em que ocorre o maior ataque aos trabalhadores e aos povos desde o final da 2ª Guerra Mundial. O Bloco de Esquerda esteve representado neste evento por Marisa Matias, Deolinda Martin e João Camargo. Fizeram-se representar ainda vários partidos e correntes da esquerda europeia: Die Linke, Sinn Fein, European Left Party, NPA, Izquierda Anticapitalista, United Lef Alliance, CADTM, ATTAC, Transform!. A forte representação sindical incluiu a CGTP e, entre outros, os britânicos UNITE, NUT, RMT e ULU, a União Sindical francesa Solidaires, OLME da Grécia, LAB do País Basco, COBAS de Itália e Agosto 80, da Polónia.

Os debates e workshops versaram as várias vertentes que se estão a constituir neste ataque: liderados pelos cortes cegos da austeridade na vida das pessoas, fortalecem-se racismo, sexismo, homofobia, perda de perspectivas para a juventude, agravar da precariedade, destruição da educação e saúde, guerra e imperialismo, a ascensão da extrema-direita, ataques à democracia e aos direitos dos trabalhadores. A necessidade de unir os esforços ficou patente em todos os momentos, e expressou-se na conclusão de que nenhum dos problemas poderá ser combatido em um só país e que apenas no internacionalismo há verdadeira esperança de resistir consolidadamente ao ataque.

Foi evidente a ideia de que é absolutamente necessário apoiar os movimentos progressistas que se levantam por toda a Europa, com especial e mais urgente sede nas acampadas que procuram organizar o 15 de Outubro, assim como o apoio essencial aos processos de auditorias cidadãs às dívidas, como um processo de depuração e transparência sobre a realidade das dívidas públicas que tem um gigante potencial mobilizador e de derrota dos consensos fabricados.

As intervenções finais destacaram e necessidade absoluta da solidariedade internacional no combate ao chauvinismo e às fracturas construídas pelo discurso do poder, concretizada no apelo à organização de uma greve europeia concertada contra a austeridade, que una as organizações de trabalhadores com o objectivo internacional de demonstrar a unidade e solidariedade da classe trabalhadora de todo o continente contra a imposição da destruição dos direitos conquistados.

No final da Conferência foi proposta pelo Secretário da Coalition of Resistance, Andrew Burgin, e unanimemente aprovada pela Conferência, a seguinte declaração:

“Declaração da Conferência Europeia Contra a Austeridade

Esta conferência Europeia reúne-se num momento da maior urgência. Os povos da Europa defrontam-se com uma crise social, política e económica sem precedentes.

Os nossos governos estão a implementar os mais selvagens cortes nos avanços sociais desde o início do pós-guerra. Estes cortes destruirão as vidas de milhões, devastando trabalho, salários, pensões, saúde, educação e outros serviços públicos.

A crise financeira mundial de 2008 transformou-se numa crise das dívidas dos estados – os estados-nação resgataram o sistema financeiro, mas ao fazê-lo enfraqueceram seriamente as suas dívidas públicas. A Grécia encontra-se à beira do incumprimento e outros estados não estão muito distantes desta realidade.

A única solução proposta pela elite dominante é a austeridade para a grande maioria e resgates para os bancos e o sistema financeiro.

Enquanto o cidadão-comum enfrenta grandes dificuldades biliões de euros são despejados nos bolsos dos ricos. Jamais houve tamanha disparidade de riqueza entre o capital e o trabalho – entre os ricos e os pobres.

Por toda a Europa os povos estão a lutar. Estão determinados a defender as suas sociedades e a destruir a barbaridade da austeridade. O nosso objectivo é ajudar a unir estas lutas. É necessária uma frente comum europeia para defender os povos da Europa. Estamos determinados a combater todos os cortes, privatizações e ataques ao Estado Social e a construir solidariedades com resistência a estes ataques.

Assim, apoiamos a resistência dos sindicatos através de greves e outras formas de acção nas indústrias e locais de trabalho. Dizemos não às guerras imperialistas e ao sorvedouro de recursos que estas representam, dizendo sim à Segurança Social, à Paz e à Justiça.

Opomo-nos à criação de bodes expiatórios para a crise como as comunidades imigrantes, com o acirrar do racismo e da islamofobia que dividem e enfraquecem a nossa resistência. Opor-nos-emos à ascensão da extrema-direita que pretende beneficiar-se com esta demagogia.

O caminho da resposta basear-se-á na elaboração e promoção de uma estratégia económica alternativa: os bancos devem ser democratizados. A banca privada deve ser socializada e os mercados financeiros regulados. A União Europeia e os bancos centrais devem responder às necessidades dos povos e não impor programas de austeridade. Os ricos e as grandes corporações devem ser taxados. As dívidas ilegítimas devem ser renunciadas. Os credores devem ser responsabilizados. Não pagaremos a crise deles!

A estratégia económica e política deve apoiar a Segurança Social, melhorar casas, escolas e hospitais, proteger as reformas e promover uma abordagem verde aos gastos públicos – investindo em energias renováveis e transportes públicos, criando consequentemente milhões de novos empregos.

Esta conferência quer construir e consolidar os laços criados na sua preparação e estabelecer uma coordenação europeia para organizar a apoiar a resistência às dívidas e à austeridade.

Comprometemo-nos a apoiar as mobilizações de 15 de Outubro, as acções contra a dívida e as instituições financeiras internacionais de 8 e 16 de Outubro e contra a reunião do G20 que ocorrerá em Nice em Novembro. Comprometemo-nos ainda a trabalhar na organização de um dia de luta comum contra a austeridade em 2012, e no apelo a um dia de luta sindical europeu contra a austeridade.”

Fonte: Correio do Brasil

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