Emicida critica racismo e afirma que funk é mais que ostentação

Paulistano encerra a última noite do festival Rec-Beat, no palco do Cais da Alfândega, Bairro do Recife

 

 

O carnaval dos diversos sons e ritmos do Rec-Beat será encerrado, na noite de terça-feira(4), pelo paulistano Leandro Roque de Oliveira, 28 anos. Criado na periferia de São Paulo, ele encontrou no rap a melhor forma de expressar e por pra fora suas angústias e observações sobre o mundo que o cerca. Com os pés fincados no hip hop, mas com a mente aberta para outras manifestações sonoras (rock, samba, ritmos africanos e até maracatu), Emicida trouxe ao mundo, no ano passado, o elogiado O Glorioso retorno de quem nunca esteve aqui.

Veja o clipe oficial de Crisântemo:

 

Seu disco de estreia saiu depois que ele ganhou notoriedade ao lançar mixtapes e EPs. O álbum conta com as participações de Pitty, MC Guimê, Wilson das Neves, Tulipa Ruiz e os representantes do novo samba paulista, Quinteto em Branco e Preto e Fabiana Cozza. Nesta entrevista, ele fala a respeito das ideias que nortearam o álbum, sobre a situação do rap no Brasil, funk ostentação, entre outros temas.

O que você conhece do festival Rec-Beat e do Carnaval do Recife?

Tenho muitos amigos que já tocaram no festival e contam histórias ótimas. Nunca estive no Carnaval do Recife, mas tudo que vi sobre a festa me deixou fascinado. Ela tem uma relação com tradições culturais, o resgate, acho muito bonito e estou ansioso. O Nordeste como um todo é uma região que visitamos muito pouco, bem menos do que o Sudeste e o Sul. É sempre muito especial estar em contato direto com o povo aí.

Seu disco foi e tem sido bastante celebrado. Que reflexões você faz diante desses elogios, onde você pensa ter acertado?

A reflexão é a de que eu acertei ao conduzir meu trabalho sem preconceitos, sem amarras, sem me prender a antigos preceitos do rap de que “isso não pode”, “rap não é isso”. Eu sempre tive em mente de que seria um álbum de música brasileira contemporânea na linguagem do rap, e assim foi. Não tive medo de arriscar e acho que acertei ao me manter fiel à minha verdade.

Apesar de ter ganhado certo respeito, não vemos muitos artistas de rap participando com regularidade de programas populares de TV. Você também tem essa percepção. Se sim, por que isso acontece?

Vivemos em um país racista, que não vê com bons olhos manifestações culturais vindas da periferia. Por isso, é difícil que nos deem espaço, e não raro distorcem o que dizemos quando dão. No passado, depois de viver isso na pele muitas vezes, o rap assumiu uma postura de defesa, fechando-se para essas oportunidades. Hoje, somadas as duas coisas, temos esse cenário que você cita.

Não é incomum observar críticos musicais afirmar que o rock tem perdido seu poder de contestação para o rap, principalmente aqui no Brasil. O que você pensa a respeito disso? 

Eu não acompanho tanto assim a cena do rock pra poder opinar. De qualquer forma, não vou ficar julgando o rock porque sei do peso que é carregar esta esponsabilidade, do quanto você é cobrado por isso e como tentam te fazer refém disso. Eu vejo o rap como ferramenta importante para contestar, mas não podemos ficar reféns do mesmo discurso de sempre, o nosso desafio é esse. Dizermos o que temos a dizer de modo que as pessoas se interessem em ouvir.

Qual sua opinião sobre o funk ostentação? 

O funk com tema ostentação é momentâneo, assim como já foi proibidão, consciência e putaria em outros tempos. Os outros segmentos ainda existem, mas o que está em evidência hoje é o ostentação. Acho pobre reduzir o gênero a isso. O funk é mais do que a ostentação. Sobre o tema acho legítimo, uma vez que toda a sociedade assiste e vende isso pra favela. Nossa sociedade não tem o direito de se ofender com a periferia consumindo como a mídia obriga que ela faça.

 

 

 

Fonte: Diário de Pernambuco

 

 

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