Empreendedorismo Afro-Americano

Por: Mônica Francisco*

 

 

Nesta terça-feira dia 11 de fevereiro, foi organizada uma vídeo-conferência no Consulado Americano. A palestrante foi a Dra. Avis Jones-DeWeever e o tema, “Empreendedorismo Afro-Americano”. A Dra. Jones-DeWeever foi diretora executiva do The National Council of Negro Women e, hoje, é presidente e CEO da empresa de consultoria Incite Unlimited, cuja missão é o avanço dos direitos civis e dos direitos da mulher, através de consultorias para organizações do terceiro setor, principalmente aquelas cujo foco consiste na promoção do empreendedorismo afrodescendente.

 

O evento terá início às 10h30 e foi realizado com tradução simultânea. A transmissão também foi feita para diversos países. Ouve espaço para perguntas e respostas, as quais foram enviadas por chat para uma moderadora do evento em Washington e foi importantíssimo para acrescermos mais elementos à nossa reflexão, sobre o empreendedorismo da população negra no Brasil.

Na ocasião,diversas empreendedoras de favelas do Rio de janeiro, representantes de redes de empreendedorismo do interior do Estado, representantes do Rotary,do SEBRAE,de órgãos de promoção da igualdade racial,universidades e entidades de fomento ao empreendedorismo com recorte racial,como a Incubadora Afro.

Enfim,um mosaico de representações do que é a sociedade negra no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro.A impressão,era de que a diversidade de vozes diziam uma só coisa:É extremamente urgente que o Brasil reconheça o seu racismo singular,ou melhor racismo é igual e fere mortalmente em qualquer lugar e de qualquer forma,o que quero dizer é que o Brasil deve reconhecer a forma singular de seu racismo.

Mas falávamos de empreendedorismo.Sim,mas tudo isso tem à ver ,pois para que a população negra desponte de forma considerável como empreendedora é necessário uma mudança de paradigma.Não podemos mais tolerar uma nação com mais da metade declarada oficialmente negra,com tamanha restrição na sociedade brasileira.Estamos em ano eleitoral, e se faz necessário acirrar o debate sobre o ser negro e negra neste país que extermina a sua população negra.

É momento de cobrarmos reformas profundas nas empresas com sua boa aparência que não respeita o tipo de cabelo que as negras e negros tem, como se capacidade e intelecto se medisse por corte e textura de cabelo e tonalidade de pele.Nas instituições,que tem uma mão pesada para punir negros e negras e mãos brandas com seus iguais brancos e brancas.Na Índia,o sistema de castas foi banido por lei, mas a sociedade tem arraigada e introjeta nela mesma,mecanismos tão severos de distinção, que ainda se reza pela mesma cartilha.

De cobrarmos com veemência que a lei contra a discriminação seja cumprida de fato e não sofra “interpretações” que são sempre de injúria e nunca racismo, sempre em favor do opressor.E para os que dizem que isso é coisa da nossa cabeça, te pergunto se a patroa que diz que ninguém trabalha em sua residência com cabelo de negro, quando sua empregada chega trançada,ou que a personagem da novela da emissora mais assistida no país diz que o cabelo tipicamente negro é “coisa horrível e suja”,estamos falando de quê?

Só pra não deixar esfriar,volto ao poste.Poste símbolo de flagelo, de humilhação,de enforcamento público como espetáculo nos Estados Unidos nas décadas que antecederam a conquista dos Direitos Civis,com direito a cartão postal para enviar aos amigos distantes,ou só como peça de colecionador mesmo.No Rio que tantos escravos recebeu,chegando à ter a maior população negra e escrava do país,não é por acaso.

Poste como símbolo da força do patriarcado, da branquitude, da supremacia branca e do suposto pensamento de ser superior que assola mentes e corações, mesmo que de forma subjetiva e quase imperceptível, que aflora em momentos chave, como por exemplo a amiga que me lembrou que não existem ladrões brancos,ou pelo menos ela mesma nunca foi roubada por um branco.

Aparece no menino preso ao poste e com a afirmação de que não tem nada de racismo, é indignação contra violência e a impunidade.Então, quero desafiar os justiceiros a prender pelo pescoço todos os que estão impunes por crimes neste país.falo de todos os crimes previstos na lei brasileira.Até o do cultural suborno/propina.Aí já é vandalismo dirão alguns.

Pois muitos vão se lembrar de ter “molhado” a mão de alguém por um benefício qualquer,uma avançada na fila de alguma coisa, uma caixinha pra agradar nada mais,um presentinho porque alguém passou você na frente naquela fila da cirurgia e você nunca vai saber se quem ficou atrasado morreu ou teve sua situação agravada pela demora.Afinal”o que o olho não vê o coração não sente”.

E quanto ao empreendedorismo,nada mais pertinente e tudo á ver.Nossa força está em avançar e ocupar o mercado e oportunizar empresas negras de todos os portes, para que através do econômico, não só,mas que através dele,se construa um empoderamento da comunidade negra com expressão e para aí sim reparar de fato uma injustiça histórica. Pois enquanto ex-escravos nossos ancestrais foram impedidos por força de lei à acessar a terra para trabalhar e sem direito á indenização.

Só o empoderamento econômico vai frear os efeitos perversos da gentrificação que vem expulsando os negros de áreas que vem sendo repaginadas,para áreas com quase nenhuma infraestrutura, mudando expressivamente a localização dos negros e negras na geografia da cidade.Bairros como Tijuca e Copacabana tem diminuído o contingente dessa população.Já Santa Cruz vem recebendo um acréscimo, segundo pesquisa publicada pelo Instituto Pereira Passos nos cadernos do Rio.

Bela iniciativa do Consulado Americano, da equipe empenhada em organizá-la e mobilizar gente tão brilhante e com tanto potencial.Parabéns aos que atenderam, em meio à tantos compromissos.Obrigada por terem atendido ao convite,pois me brindaram com uma manhã primorosa.Pois a mudança passa sim pelo econômico.

“A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO e à REMOÇÃO!”

*Mônica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Licencianda em Ciências Sociais pela UERJ.

Fonte: Jornal Brasil

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