Faculdade de Medicina da USP suspende por seis meses aluno acusado de estupros

Direção da instituição aplicou pena ‘em razão de infrações disciplinares’. Com isso, acusado só poderá se formar daqui a 180 dias.

POR LEONARDO GUANDELINE, do O Globo 

SÃO PAULO – A direção da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) suspendeu por seis meses um aluno acusado de ao menos três estupros de estudantes da instituição. A decisão acolhe relatório da Comissão Processante e aplicou a pena “em razão de infrações disciplinares” não especificadas, segundo nota à imprensa divulgada pela FMUSP.

Na terça-feira (7), movimentos feministas fizeram um protesto em frente à faculdade para tentar impedir que o acusado, que cursou o último ano do curso em 2014, receba o diploma de formatura em cerimônia marcada para a próxima terça-feira (14). Um abaixo-assinado foi entregue pelas manifestantes ao diretor da Faculdade de Medicina, José Otavio Costa Auler Junior, responsável pela decisão de suspender o aluno. Com a medida, ele só poderá receber o diploma após 180 dias.

Os casos de estupros e outras violações de direitos humanos ocorridos na Faculdade de Medicina da USP, uma das mais conceituadas instituições do país, vieram à tona depois de audiências públicas realizadas pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no fim do ano passado. Posteriormente, foi criada na Casa uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar estupros e outras violações de direitos humanos nas universidades paulistas.

Nos depoimentos, universitárias relataram estupros sofridos durante festas promovidas por alunos do curso e denunciaram uma cultura machista nos trotes aplicados nos calouros da instituição.

Os três casos dos quais o aluno suspenso é acusado envolvem uma aluna de Enfermagem, violentada em 2012, na Casa do Estudante da Escola de Medicina da USP, e duas de Medicina.

O estudante de Medicina Felipe Scalisa, um dos autores do dossiê de casos de estupro e violações de direitos humanos na faculdade enviado à Alesp e ao Ministério Público de São Paulo, considera a punição ao estudante “branda”. Ele defende a expulsão.

– É preciso conferir se o resultado da sindicância está classificando algum dos três casos de estupro propriamente dito como ‘infração disciplinar’ ou se é algo que surgiu no processo. Mas, se a sindicância condenou o aluno por estupro, a punição de suspendê-lo por seis meses é certamente branda, pois temos histórico de infrações de falsidade ideológica (fazer prova no lugar de outro aluno) que puniu estudantes com 12 meses de suspensão. Para nós, que participamos da CPI, o mínimo que se espera de um estuprador na universidade é o jubilamento.

Defenda-se baixe o   PLP 2.0 – Aplicativo para coibir a violência contra a mulher

 

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