Em janeiro deste ano o Think With Google, uma página de análise de dados e tendências de mercado do Google, publicou um artigo sobre as cinco maiores urgências da população negra. A primeira, de acordo com o estudo, é a inclusão no mercado de trabalho.
Por Patrícia Carvalho, do Quero Bolsa

Para chegar a essa conclusão, foram entrevistados especialistas, criadores do youtube, assim como homens e mulheres autodeclarados pardos e pretos. Destes, 46% classificaram a inclusão no mercado de trabalho como a primeira urgência e acreditam que o tema é muito menos debatido do que deveria.
No momento, o Brasil encontra-se em recessão econômica, fator que reflete na oportunidade de emprego, mas os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a situação é ainda pior para a população negra. Dos 12,6 milhões de desempregados em 2019, 65% são negros.
Joyce Afonso (30), jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), conta que o tema empregabilidade faz parte dos debates em que participa. “Eu percebo que isso é a maior questão. E não só estar empregado, mas estar em condições de igualdade com pessoas brancas em ambiente de trabalho”, conta.
Apesar de considerar-se privilegiada por ter tido uma boa formação e não ter encontrado dificuldade para estar empregada ao longo de sua carreira, Joyce afirma ter vicenciado situações racistas durante entrevistas de emprego.
Em janeiro deste ano o Think With Google, uma página de análise de dados e tendências de mercado do Google, publicou um artigo sobre as cinco maiores urgências da população negra. A primeira, de acordo com o estudo, é a inclusão no mercado de trabalho.
Para chegar a essa conclusão, foram entrevistados especialistas, criadores do youtube, assim como homens e mulheres autodeclarados pardos e pretos. Destes, 46% classificaram a inclusão no mercado de trabalho como a primeira urgência e acreditam que o tema é muito menos debatido do que deveria.
No momento, o Brasil encontra-se em recessão econômica, fator que reflete na oportunidade de emprego, mas os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a situação é ainda pior para a população negra. Dos 12,6 milhões de desempregados em 2019, 65% são negros.
Joyce Afonso (30), jornalista formada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), conta que o tema empregabilidade faz parte dos debates em que participa. “Eu percebo que isso é a maior questão. E não só estar empregado, mas estar em condições de igualdade com pessoas brancas em ambiente de trabalho”, conta.
Apesar de considerar-se privilegiada por ter tido uma boa formação e não ter encontrado dificuldade para estar empregada ao longo de sua carreira, Joyce afirma ter vicenciado situações racistas durante entrevistas de emprego.
Desigualdade salarial
A diferença no ambiente profissional também é refletida no salário. Mesmo quando contratados, os negros recebem 45% a menos do que os brancos. Entre pessoas com Ensino Superior completo, a diferença é de 31%.
Para mulheres negras, a porcentagem é maior. Elas recebem o equivalente a 55% do salário de um homem branco, enquanto as mulheres brancas recebem 76%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e do Observatório de Igualdade do Trabalho e também fazem parte do estudo do Google.
“Cobram muito as pessoas negras de que elas sejam sempre as melhores, que elas nunca podem desistir, que precisam ser fortes, lidar com o racismo, mas ao mesmo tempo não deixar isso abalar a vida delas. Então parece que para as pessoas brancas no ambiente profissional, sempre há a opção de fracassar ou a opção de desistir. E para a gente não, para a gente fracassar ou desistir pode ser associado ao tom da nossa pele. [Por isso] a gente tem que ser duplamente melhor pra mostrar que pretos podem, sim, ser tão bons profissionais ou até melhor do que pessoas. Então a gente carrega um fardo, uma responsabilidade e é tudo muito mais pesado. É muito mais difícil crescer profissionalmente sendo uma pessoa negra e, no meu caso, mulher e negra”, desabafa Joyce.
Negros em cargo de liderança
Quando o assunto é negros em cargos de liderança a diferença é significativa. Um estudo do Instituto Ethos com 500 empresas de maior faturamento do País aponta que apenas 6,3% dos negros ocupam cargo de gerência e 4,7% fazem parte do quadro executivo.
“Eu percebi até o ano passado, que o patamar de carreira que amigos com a mesma idade que eu ou pouco mais novos, que se formaram na mesma universidade e estudaram em bons colégios, era melhor que o patamar de carreira que eu estava alcançando, mesmo eu tendo tanta competência quanto eles ou correndo atrás tanto quanto eles ou até mais, desde o início. […] As pessoas negras precisam entrar nas empresas e ver negros em alta gestão, porque enquanto isso não acontecer a gente vai continuar vivendo esse tipo de situação no Brasil. E não adianta contratar negros e não promover negros”, desabafa Joyce.
De acordo com o professor de comunicação da Universidade Estadual Paulita (Unesp) e coordenador executivo do Núcleo Negro para a Pesquisa e Extensão (NUPE) da instituição, Juarez Xavier, as desigualdades entre negros e brancos no País existe desde a escravidão. “Nenhum país passa de forma impune por essa experiência de quase 400 anos. Ao final desse processo [de escravidão], de forma intencional, segregou-se o negro, e procurou-se branquear o país, com o forte processo de imigração, entre as décadas de 1870 e 1930. No século 20, quando há a construção das bases modernas do Brasil , consolidam-se a concentração de renda, cultural, poder e prestígio nas mãos de uma minoria social branca, que transforma seus privilégios em direitos”, explica.
Jady Togni (20), membra do coletivo de mulheres Nandi, ressalta a importância de toda a sociedade se mover contra isso. “Não é responsabilidade só da população negra lutar contra o racismo. Lógico que ela luta, até por questão de sobrevivência. Mas quem deveria ser responsabilizado e tem a obrigação de eliminar esse problema é quem se beneficia dos efeitos do racismo, não quem sofre”.
Políticas de inclusão
O Brasil possui algumas medidas de inclusão como a Lei nº 12.288, em vigor desde 2009, que institui o Estatuto de Igualdade Racial e que tem como um de seus objetivos “promover a inclusão e a igualdade de oportunidades e de remuneração das populações negra, indígena, quilombola e cigana no mercado de trabalho”, além de “combater o racismo nas instituições públicas e privadas, fortalecendo os mecanismos de fiscalização quanto à prática de discriminação racial no mercado de trabalho”.
Além disso, por meio da Lei nº 12.990, 20% das vagas oferecidas em concursos públicos para cargos efetivos e empregos públicos na administração pública federal, fundações e públicas. Já o decreto nº 9.427 reserva 30% das vagas de estágio no setor público para negros.
É importante ressaltar, porém, que normalmente os concursos públicos são voltados para pessoas que tenham concluído o Ensino Médio ou o Ensino Superior. De acordo com o IBGE, 36,9% da população negra não concluiu o Ensino Médio e 64,2% não possui o Ensino Superior completo. Além disso, o índice de reprovação entre os negros (13,7%) é quase duas vezes maior que o de brancos (7,3%), segundo dados do Censo da Educação Básica de 2018.
Para o professor, por tratar-se de um problema histórico, políticas mais intensas e abrangentes são necessárias para sua resolução. “Sem enfrentar toda essa situação, o País patinará na lama da desigualdade, histórica e sistematicamente construída, não como um acidente, mas como um projeto. Precisamos de políticas públicas de Estado, e não apenas de governo, que ajude a desmontar a pedra angular do racismo, do patriarcado e do supremacismo de classes”, conclui.
*Acesse o relatório completo do Think With Google aqui