Leiturabras

A derrota da seleção brasileira por 7 a 1 para a Alemanha, na Copa de 2014, tem a marca de um trauma para quem aprendeu a se enxergar e a ser visto como o país do futebol. Até então, o título não era injusto. Pois foram cinco Taças do Mundo, um panteão de craques incríveis e a consagração de um estilo de jogo alegre, moleque, vencedor.

Por  Fernanda Pompeu no Yahoo

Mas nada é para sempre. Nem mesmo clichês, estereótipos, tradições são eternos. Pode chegar um dia em que os ingleses se atrasem para o trabalho e para a saudação à rainha. Um dia em que os franceses enjoem de tomar tanto vinho. E até, quem sabe, os alemães se tornem menos disciplinados.

É possível, uma vez que estereótipos e hábitos não têm origem em DNAs, etnias, raças, nacionalidades. Ingleses são pontuais porque inventaram os trens. Franceses gostam de vinho porque as uvas de lá são excelentes. A disciplina alemã surgiu por conta da cultura fabril. Brasileiros são bons de bola graças ao futebol de várzea que proliferou fácil como capim.

Por ser uma otimista viciada – não obstante levar um sem-número de pauladas da realidade, – penso que perdermos o título de país do futebol talvez não seja tão ruim assim. A vacância pode abrir para oportunidades de novas insígnias. Por exemplo, a um Brasil de leitores.

Vejo as cenas: gente lendo nos metrôs, barcos, praças, casas. A menina viajando numa história intergaláxias, o menino navegando por amores dos outros. O sujeito urbano compreendendo a vida do campo. Os do campo curtindo a poesia das metrópoles. Todos aprendendo. Todos se divertindo.

Sonho? Bom, acho que tenho direito a isso depois do pesadelo dos 7 a 1. Um país de leitores nos faria mais criativos (do que já somos), pois aumentaria nosso repertório. Nos faria imensamente mais educados e – por que não? – mais delicados nas relações domésticas e públicas.

Mas a esperança maior de um Brasil leitor é por acreditar que ler nos ajudaria a sermos mais solidários com a nossa gente. E com outras gentes, por suposto. Narrativas organizadas e bem escritas têm o poder de aproximar o humano de cada um com o humano dos outros. Isso sim seria um gol de ouro. Com um milhão de quilates.

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