A Audiência Pública no Supremo Tribunal Federal reunião educadores, professores, ativistas negros e anti-racistas de todo o país. Mesmo sem a organização de caravanas dos Estados, nem manifestações, algumas faixas com a defesa das cotas foram colocadas nas proximidades do STF na Praça dos Três Poderes.
Ao mesmo tempo em que manifestavam a alegria por considerarem os argumentos a favor das cotas e ações afirmativas “incomparavelmente superiores”, as lideranças reagiram com indignação a declarações feitas pelo senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, consideradas ofensivas e depreciativas às mulheres negras.
Veja, a reação de várias lideranças, após os debates da Audiência:
Magno Lavigne, Secretário Nacional da Diversidade da União Geral dos Trabalhadores (UGT):
“A Audiência foi muito positiva. Os expositores favoráveis às cotas colocaram argumentos irrefutáveis, o que demonstra a correção da defesa das cotas e das ações afirmativas que temos feito. Lamentável foi a posição do senador Demóstenes Torres que ofendeu as mulheres negras, que sofreram ao longo da história as maiores violências. Trata-se de uma posição fascista que deve ser repudiada por todos nós”.
Professor Walter Silvério, da Universidade Federal de S. Carlos: “Os favoráveis às cotas e ações afirmativas tocaram em aspectos centrais do debate. Os contrários insistiram em argumentos do senso comum que confudem as pessoas porque são argumentam que pregam a ausência do racismo ou reafirmam a presença, mas limitam o debate a questão da renda. O senador Demóstenes Torres se utiliza de concepções do século XIX para dizer que o Brasil nunca foi racista. Raça não é um conceito biológico, mas social. É puro cinismo do senador tentar confundir a opinião pública”
Professora Edna Roland, Relatora da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância, realizada em Durban, na África do Sul, em 2002:
“Algumas falas dos defensores colocam questão fundamentias. Está no centro do debate da democracia. Não é um debate acerca da conceção de benefícios, de privilégios, mas um debate que visa a incorporação de todos os sujeitos. Foram brilhantes”
Carlos Moura, ex-presidente da Fundação Palmares e ex-Ouvidor da Seppir:
“Os debates foram elevados dentro dos limites do direito e do social. A minha esperança é de que o STF faça justiça reconhecendo o direito da comunidade negra de ingressar nas universidades”.
Edson França, coordenador geral da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO):
“As palavras do Demóstenes foram reveladores de que tudo deve estar como está. O debate foi muito bom”.
Cleonice Caetano, Presidente do INSPIR, que reúne as principais centrais sindicais:
“Pelo que ouvi hoje os defensores contrários às cotas e ações afirmativas não tem argumentos. O senador Demóstenes ofendeu as mulheres negras”.
Roseli de Oliveira, Coordenadora da Coordenação de Políticas da População Negra e Indígena de S. Paulo:
“Achei muito importante. Estamos avançando em diferentes setores. Há um acúmulo político teórico que vai nos fazer superar as dificuldades. Quando o senador Demóstenes dizq que as pesquisas são manipuladas, para ignorar os números, nós também podemos dizer que os números que ele cita são manipulados”
Elisa Lucas, presidente do Conselho da Comunidade Negra do Estado de S. Paulo:
“Eu vejo esse momento commo um momento histórico. Independente da cor partidária, estamos todos aqui. Eu avalio esse como um grande momento. Estamos caminhando para que essas conquistas se efetivem”.
Eduardo de Oliveira, presidente do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB):
“Acho que estamos destampando a panela de pressão da consciência nacional, que deve ao negro tudo o que tem, e nos deve tudo o que pretende ter”.
Professora Telma Victor, da Central Única dos Trabalhadores (CUT):
“Eu não saio desanaminada, ao contrário. Só lamento que o senador Demóstenes e os representantes do DEM desrespeitem instituições públicas como o DIEESE, que tem uma credibilidade inquestionável, para tentar descontruir os números da desigualdade”.
Claudinho, Secretário Estadual de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores de S. Paulo:
“Achei produtivo. O professor José Jorge foi brilhante e apresentou dados fundamentais”.
Vera Lopes e Ana José Lopes, do Fórum Nacional de Mulheres Negras:
“Nosso repúdio a fala desse parlamentar que tenta desqualificar as mulheres negras, tenta desqualificar a nossa luta. A sociedade precisa se mobilizar e reagir. O senador Demóstenes fez uma fala fascista e nazista. Foi uma agressão psicológica, racista e machista”.
Fonte: Afropress