Claudio Castro
Dona Máxima Pires, da Zona Rural de São Luís, da comunidade Rio dos Cachorros. Ela esteve ontem no protesto dos estudantes, como outros vários comunitários da área Itaqui-Bacanga, apoiando a luta, criticando o fato de universidade, assentada na região, virar as costas para as pessoas de lá – prova disso é o milionário muro erguido para segregar a comunidade do Campus das comunidades da área. Como falou Garotinho de Ouro, outro morador da área presente ao protesto: “sou morador de Vila Embratel e, antes de seu Natalino Salgado (reitor da UFMA), havia um portão de acesso da comunidade ao Campus, que foi retirado com o muro. Lutamos para que deixassem o portão, mas nos foi negado. Tem morador da Vila Embratel que é aluno da UFMA e hoje, se quiser vir pra aula, tem que dar uma volta enorme, porque a administração da universidade acha que ali na Vila Embratel só tem bandido”.
Máxima e as comunidades da Zona Rural são referência de luta. Eles historicamente conseguiram, batalhando, que não fossem removidos de suas casas para dar lugar ao polo siderúrgico prometido para a área pela Vale, governo e parceiros. O complexo siderúrgico que seria implantado no local foi transferido para o Rio de Janeiro e, de tanto impacto socioambiental que causou, já foi objeto de inúmeras ações na justiça, e hoje nem seus investidores o querem mais, pondo suas cotas no projeto à venda sem achar quem as queira (muitos não querem associar a imagem a algo tão danoso, o que compromete o lucro das corporações quando tão escancaradamente comprometedor).
Mas essas mesmas comunidades seguem sem sossego, e dependem da luta para permanecer em suas casas. Luta essa que interessa a toda a Ilha de São Luís: caso sejam aprovados projetos como esse para a região, o meio ambiente insular estará irremediavelmente comprometido, haja vista ali já ter grandes indústrias altamente poluidoras: Vale, Alumar, termelétrica, indústrias de fertilizantes etc.
Como forma estratégica de assegurarem seu direito àquelas áreas, e, consequentemente, meio ambiente menos comprometido para toda a Ilha do Maranhão, as comunidades, muito delas centenárias, lutam para que seja aprovada a criação da Reserva Extrativista (Resex) de Tauá-Mirim, englobando a zona rural.
Mas a luta não é fácil: o governo do estado vem emperrando o processo de criação da Resex nos órgãos ambientais federais, fazendo intervenções diretas para que ela, que praticamente apenas aguarda ser assinada, não seja efetivada. Em recente audiência pública para tratar dos dutos da refinaria da Petrobras previstos para passar pelas comunidades, o representante do governo do estado foi taxativo. “Não queremos a resex, porque ela compromete o desenvolvimento econômico do Maranhão”, relataram pessoas que acompanharam a audiência. Por desenvolvimento econômico, entenda-se a vinda de projetos altamente poluidores, que expulsarão as comunidades e farão gordas doações para campanhas eleitorais daqueles que apoiarem suas instalações e removam “obstáculos”.
Tal como as comunidades demonstraram apoio à luta dos estudantes, por reconhecerem ser essa uma luta de todos, é imprescindível que os habitantes da Ilha se juntem para assegurar a criação da reserva, que, tal como a batalha pela Casa no campus, igualmente interessa e afeta à toda a sociedade.
O entrosamento estudantes e comunitários foi precioso, e contribuiu para demonstrar à reitoria da UFMA que essa não era mais uma luta apenas da comunidade universitária. Agora é hora de a população demonstrar para a zona rural que a batalha deles também não é mais somente deles. Máxima, na ocasião, compartilhou algumas “cantigas” das lutas da Zona Rural com os estudantes. Eis uma:
Olê Mariê, Olê Mariá,
Mulher tu sai dessa cozinha e ocupa teu lugar:
o estudante está na luta e tu tens que ajudar
Fonte: Combate Racismo Ambiental