Mães com idades entre 21 e 40 anos são as principais vítimas de feminicídio no RJ

Levantamento da Defensoria Pública aponta que ex e atuais companheiros são os principais responsáveis pelos crimes

Por Clívia Mesquita, Do Brasil de Fato

Imagem de uma escadaria com caixões de papelão e velas nas escada
Em 37 dos 107 casos de feminicídio analisados, os agressores não aceitaram o término do relacionamento (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Mães entre 21 e 40 anos, atacadas em casa com faca ou a tiros, à noite ou de madrugada pelos ex-namorados, companheiros ou maridos. Esse é principal perfil das mulheres vítimas de tentativa de feminicídio ou feminicídio consumado no Rio de Janeiro, segundo levantamento da Defensoria Pública do estado (DP-RJ).

“Os dados deixam claro que as vítimas de feminicídio são alvos de pessoas próximas, com quem mantiveram ou mantêm relacionamento amoroso, e sofrem de situações de violência em momentos e locais em que se encontram mais vulneráveis”, resume a diretora de Estudos e Pesquisas de Acesso à Justiça, Carolina Haber.

A pesquisa, que foi realizada a partir da análise de processos judiciais envolvendo casos de feminicídio, constata que a maioria das vítimas já havia relatado episódios anteriores de violência doméstica. No entanto, as vítimas deixam de fazer o registro formal da ocorrência “em razão de medo ou coação praticada pelo réu”, como explica a coordenadora de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria, Flavia Nascimento.

“O objetivo primordial dessa pesquisa é compreender as circunstâncias que envolvem a prática do feminicídio, especialmente no que se refere à realidade da mulher vítima desse tipo de violência”, acrescenta a defensora pública.

Um cruzamento de dados demonstra ainda que agressões que terminam com a tentativa ou o assassinato da vítima têm pouco a ver com o tempo de relacionamento do casal. Alguns haviam sido iniciados um mês antes do crime, outros tinham décadas de duração. Por outro lado, o tempo entre o rompimento e o ataque é bem mais curto: de 24 horas a 18 meses.

Motivação

O fim do relacionamento se confirma como a principal motivação para os crimes de feminicídio. Em 37 ocorrências, os agressores não aceitaram o término. Outras causas envolveram discussão, vingança, ciúme, estupro, gravidez, recusa da mulher em manter relação sexual, entre outros.

Ao total, a Defensoria analisou 107 casos envolvendo 116 vítimas de processos ajuizados entre 1997 e 2019. Destes, 40 foram julgados e 31 terminaram em condenação. Do total, 69 contêm relatos de violência doméstica anterior, dos quais apenas 23 foram anotados na folha de antecedentes criminais do autor.

O estudo foi realizado em parceria com o setor de Estudos e Pesquisas de Acesso à Justiça e a Coordenadoria de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Civil.

+ sobre o tema

As falácias do falo

Estava faz tempo decidindo se escreveria ou não esse...

Advogada vai defender mulher que estava sendo espancada e é presa em Curitiba

A advogada Carla Begnini Pinheiro, presa na manhã do...

Mitos que Matam: Violência Doméstica

Era uma vez uma garota de nome Iva por Valéria Diez...

Mulheres negras enfrentam barreira maior no mercado de tecnologia

O Brasil tem mais negros (56%) e mulheres (52%),...

para lembrar

spot_imgspot_img

Viva Leci Brandão

Salve os caminhos que fazem mulheres negras se cruzarem na militância e na vida. Foi por esses caminhos que Geledés encontrou Leci Brandão. Primeiro,...

O silêncio das mulheres negras

Os últimos dias me exigiram um silêncio doloroso, mas necessário. Enquanto minhas caixas de entrada nas redes sociais e meu telefone tocava sem parar, decidi...

Leci Brandão: 80 anos e uma vida dedicada à defesa da cultura negra

Uma mulher negra, com convicções fortes e defensora de pautas sociais. Uma artista, compositora e ativista que teve a vida marcada por dificuldades, mas...
-+=