Milhares de alemães protestam contra a violência de extrema-direita

Milhares de pessoas saíram às ruas de Berlim neste domingo (13) em protesto contra a violência de extrema direita e o antissemitismo, num gesto de repúdio ao ataque que deixou dois mortos nesta semana na cidade de Halle, no leste da Alemanha, motivado pelo ódio aos judeus. O protesto teve início na praça Bebelplatz, no coração da capital alemã. Foi nessa praça que, em 1933, os nazistas queimaram livros de autores considerados “subversivos” .

No Vermelho

“Solidariedade em vez de exclusão”, diz cartaz erguido por manifestantes na capital alemã. (Foto: S. Gallup/Getty Images)

O ato foi convocado pela plataforma Unteilbar (indivisível, em alemão), que vem organizando protestos contra a extrema direita, o racismo e a intolerância. “Nem um pé de distância! Antissemitismo e racismo matam” foi o lema da manifestação. A marcha deste domingo coincide com o aniversário do primeiro protesto convocado pela Unteilbar, que no ano passado reuniu mais de 200 mil pessoas em um ato contra a extrema direita em Berlim, após manifestações racistas no leste do país.

Após um minuto de silêncio, os marchantes partiram da Bebelplatz em direção à Nova Sinagoga, no bairro do Mitte. O atual prédio da Nova Sinagoga é uma reconstrução da fachada do que foi a principal sinagoga da comunidade judaica berlinense, destruída na época da Segunda Guerra. O endereço é hoje um monumento judaico e não funciona mais como sinagoga.

“Quando soube do atentado em Halle, não fiquei surpreso”, disse Mischa Ushakov, presidente da União Alemã de Estudantes Judeus (JSUD, na sigla em alemão), no início do protesto.
Embora “a violência e o terror nunca tenham estado tão próximos”, sua obrigação como judeu é não se deixar intimidar, acrescentou ele, citado pelo jornal Tagesspiegel. Por sua vez, o político da legenda Die Link (A Esquerda) Ferat Kocak, vítima de um ataque de extrema direita em fevereiro no ano passado, pediu aos órgãos de segurança que “freiem o terror neonazista”.

Em sua carta de convocação ao protesto, os organizadores afirmam que o “ataque terrorista de extrema direita em Halle nos deixa atordoados e com raiva. […] Nesta hora difícil, permanecemos juntos em solidariedade e acima de tudo: indivisíveis”. E acrescentam: “Antissemitismo, racismo e qualquer forma de discriminação a grupos não são meras opiniões que uma sociedade democrática precisa aturar. Eles levam à desumanidade, humilhação, discriminação e crimes violentos. Nos opomos a isso resolutamente.”

No sábado, milhares de pessoas protestaram em cidades da Alemanha contra o extremismo de direita em razão do atentado. Em Marburg, no leste do país, cerca de 3 mil pessoas participaram de uma marcha, enquanto em Hamburgo um ato reuniu 1.200 pessoas.

Extrema-direita antissemita

O ataque em Halle, na última quarta-feira, ocorreu durante o Yom Kippur, o feriado religioso mais importante do calendário judaico. O agressor, identificado como Stephen B., de 27 anos, confessou o crime e admitiu ter motivações antissemitas e de extrema direita.

Usando um uniforme de combate, máscara e capacete e carregando várias armas, o terrorista lançou um explosivo sobre o muro de um cemitério judaico e tentou entrar em uma sinagoga nas proximidades, mas não conseguiu passar pela porta, que estava trancada. No momento, cerca de 50 pessoas estavam no local.

Sem conseguir entrar, o agressor, que transmitia o ataque ao vivo na internet, começou a disparar contra pedestres. Ainda perto da sinagoga, ele matou uma mulher que passava pelo local e efetuou disparos contra os clientes de uma lanchonete turca, matando um homem.

A ação deixou dois feridos a bala, uma mulher de 40 anos e seu marido, de 41. Segundo relatos na imprensa, as armas caseiras ou improvisadas utilizadas pelo agressor falharam diversas vezes, evitando que ele pudesse fazer um número ainda maior de vítimas. Na transmissão ao vivo, ele “se desculpou” repetidas vezes pelo fracasso em matar mais pessoas.

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