Negros relatam sofrer preconceito no ensino superior

Segurança barrou aluno por achar que se tratava de um ladrão de carro.
25% dos negros e pardos estão na universidade, contra 58% dos brancos.

Fonte: G1

Foi na universidade que Cleiton Silva Menezes, 21 anos, enfrentou a situação mais humilhante de sua vida. Negro e portador de deficiência física que afeta a coordenação motora, ele foi barrado pelos seguranças na saída do estacionamento. O motivo? Os vigias acharam que o jovem estivesse roubando um carro.

 

“Eu dirigia o carro do meu pai, mas disseram que eu não tinha como ter um carro daquele nem ser aluno dali”, afirma Cleiton, que cursava economia em uma universidade particular da Grande São Paulo.

 

Mesmo com o documento do carro e a carteira de estudante em mãos, Cleiton foi retido até o estacionamento esvaziar. “Só aí se convenceram de que eu era o dono.” De tão humilhado, o jovem nem fez um boletim de ocorrência. “Se fosse hoje, não toleraria de jeito nenhum. Sou mais consciente dos meus direitos.

 

“Thaís da Silva Santos, 26 anos, conta que percebe o espanto de muitos colegas quando sabem que ela é monitora do laboratório de física da universidade onde cursa engenharia química. “Me olham surpresos, como que duvidando da minha capacidade”.

 

Preconceito

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“É o famoso racismo institucional. Há uma inércia racista na sociedade e, na universidade, não é diferente”, afirma José Jorge Carvalho, professor de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) e autor do projeto de cotas adotado pela instituição.

 

“As universidades são embranquecidas. Muitos negros não conseguem participar de programas de iniciação científica da faculdade, por exemplo, apesar de preencherem os requisitos. Quando depende de entrevista ou da indicação de um professor, são barrados”, afirma Carvalho, que, em dezembro, lança um livro sobre racismo institucional, especificamente no Ministério Público Federal.

 

Segundo a professora Patrícia Maria Leandro, 39 anos, que diz já ter sofrido preconceito, é muito importante que os pais ensinem aos seus filhos as suas origens, para que não aceitem a discriminação de qualquer ordem, principalmente a de raça. “Em sala de aula, ensino a história e a cultura negra para que cresçam cidadãos plenos.”

 

Fotos:

1 – Cleiton Silva Menezes, 21 anos, que enfrentou preconceito na universidade em que estudava (Foto: Divulgação/Educafro)

2 – Thaís da Silva Santos, 26 anos, que é monitora do laboratório de física da faculdade onde estuda (Foto: Arquivo pessoal)

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