Os carteiros comunitários das favelas do Rio

Muitos moradores dos becos e vielas de favelas não são atendidos pelo serviço dos Correios, por falta de endereçamento oficial. Para suprir essa necessidade moradores de unem para entregar as correspondências. O Grupo Carteiro Amigo, que há 14 anos entrega cartas na Rocinha, já conta com mais de 12 mil clientes e chegou a ser premiado pelo Sebrae. No Morro do Salgueiro, três mulheres são responsáveis pela entrega das correspondências

No Salgueiro, favela localizada na Tijuca, na Zona Norte, três mulheres são responsáveis pela entrega das correspondências nos becos e vielas, que pela falta de um endereçamento oficial não são atendidos pelos Correios. “Fiz muita amizade entregando cartas e a maioria das pessoas mostra gratidão pelo trabalho que fazemos”, diz Lúcia Maria Barbosa Aires, 61 anos, responsável pela entrega na parte baixa do Salgueiro, para o site UPP-RJ.

Já o Grupo Carteiro Amigo, que presta serviço de entrega de correspondências em favelas realizado mediante pagamento de uma taxa mensal, existe há 14 anos na Rocinha, e expandiu seus serviços para os morros da Providência e dos Macacos. Dentro de dois meses, Carlos Pedro, idealizador do projeto premiado pelo Sebrae, esperar abrir a nova filial, no Morro da Coroa, no Catumbi. Hoje o Grupo Carteiro Amigo possui mais de 12 mil clientes regulares.

 

Por Alfredo Mergulhão, para o UPP-RJ

Os carteiros comunitários estão presentes em praticamente todas as comunidades do Rio de Janeiro, realizando um trabalho que complementa o dos Correios. A proposta é levar um direito básico aos moradores que precisam receber correspondências e encomendas. Em algumas localidades, essa carência representa uma oportunidade de empreendimento que garante o sustento de famílias e o recebimento das postagens em casa.

Na Rocinha, uma iniciativa que começou local hoje está em oito comunidades cariocas. Trata-se do Grupo Carteiro Amigo, um serviço de entrega realizado mediante pagamento de uma taxa mensal. Idealizado por Elaine Ramos, seu marido, Carlos Pedro da Silva, e o primo Silas da Silva, o projeto deu certo e foi expandido. Tornou-se a primeira franquia em um empreendimento nascido numa comunidade.

“Nosso trabalho continua o mesmo, mas agora temos mais qualificação”, sustenta Carlos Pedro. A iniciativa contou com apoio do Sebrae-RJ, que ajudou a formular o modelo de negócios, que existe há 14 anos. A empresa começou com 10 pessoas cadastradas, mas hoje entrega até 800 correspondências por dia somente na Rocinha. O Grupo Carteiro Amigo possui mais de 12 mil clientes regulares.

Tudo começou quando Carlos Pedro era agente censitário do IBGE, em 2000. Em suas andanças pela comunidade, percebeu o potencial de um empreendimento que atendesse essa necessidade dos moradores. Essa percepção veio de duas interrogações que, por conta própria, ele inseriu no questionário do Censo 2000. O empresário perguntou se os moradores queriam receber suas cartas em casa e se pagariam por isso. “As respostam foram quase 100% positivas”, recorda.

Hoje, o Grupo Carteiro Amigo é uma referência e já venceu o prêmio Brasil Empreendedor, do Sebrae. O sucesso fez o empreendimento diversificar o ramo de atuação. Carlos Pedro, seus sócios e mais quatro funcionários oferecem serviços de mala direta e telemarketing. Entre os clientes que utilizam o catálogo com mais de 49 mil telefones e endereços da Rocinha – registrados nos computadores da empresa – estão desde pizzarias a bancos.

Além da Rocinha, a franquia está presente em outras comunidades, como Providência e Macacos. Dentro de dois meses, Carlos Pedro esperar abrir a nova filial, no Morro da Coroa, no Catumbi.

No Salgueiro, comunidade localizada na Tijuca, na Zona Norte, três mulheres são responsáveis pela entrega das correspondências, de preferência, com boas notícias. Elas precisam vencer diariamente as dificuldades impostas pela topografia do morro, com subidas íngremes, pela ocupação que resultou em becos e vielas, e pela falta de um endereçamento oficial. Os Correios só vão em logradouros públicos.

“Fiz muita amizade entregando cartas e a maioria das pessoas mostra gratidão pelo trabalho que fazemos”, diz Lúcia Maria Barbosa Aires, 61 anos, responsável pela entrega na parte baixa do Salgueiro. “Costumo ir à noite, para pegar todo mundo em casa”, conta. Outra razão é que os Correios passam na comunidade geralmente entre 15h30 e 16h, deixando as cartas na associação de moradores e no bar de Dejair Alves, 54 anos, conhecido como Neco.

“Antes deixavam até geladeiras e móveis aqui no bar. Ainda bem que agora o comércio faz entregas lá em cima”, revela Neco. Mesmo assim, as cartas e pacotes continuam a chegar diariamente no estabelecimento, situado na rua General Roca, na Tijuca, na entrada do Salgueiro. Daquele ponto em diante, quem leva os envelopes são Lúcia e suas colegas Elisângela Mariano Flores e Lúcia Penna.

O presidente da Associação Pró Melhoramentos do Salgueiro, Rogério Luiz dos Santos, dialoga com os Correios para que o serviço atenda toda a comunidade.

 

Fonte: Brasil 247

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