Peça “L, O Musical” é um retrato fiel do mundo das lésbicas

Vai ao ar o último capítulo da novela que parou o Brasil. O sucesso é tanto que sua escritora tem uma ideia ousada: para que ninguém descubra com quem ficará a protagonista na tradicional cena final de casamento, ele será transmitido ao vivo! Esse é o fim (mas, para nós, o começo) de “L, O Musical” em cartaz no CCBB de Brasília.

Texto e direção são de Sérgio Maggio, autor com vasta experiência musical, e conta com Daniela Pereira de Carvalho na supervisão de dramaturgia. “L” é sobre mulheres lésbicas. As que sempre foram, as que acabaram de descobrir, as exclusivas, as eventuais, as casadas, as na pista, as que querem casar e adotar uma gatinha, as que passam o rodo… Todas elas estão no palco.

E para dar vida às personagens, Maggio conta com um time de feras. Encabeçadas por ninguém menos que Elisa Lucinda e Ellen Oléria – numa volta aos palcos após hiato de 12 anos. Tem ainda a camaleoa Luíza Guimarães, a doçura e a potência vocal de Renata Celidonio, o furacão Tainá Baldez e, apesar de viver o papel que mais se aproxima do masculino, Gabriela Correa com a interpretação mais sensível de todas (essa contradição nos coloca uma tachinha na cadeira).

Eu nunca tinha visto Ellen Oléria no teatro, mas já era fã do seu trabalho. Depois da peça, só posso dizer: espero que ela nunca mais abandone a carreira de atriz. Vi potencial para que ela se torne a Jennifer Hudson do Quadradinho – ou, um dia, que a Jennifer invista para ser a Ellen Oléria da gringa.

Mas, precisamos falar de Elisa Lucinda. Se você não conhece a poesia dela, vá atrás. Principalmente se você for mulher, ou se você for negro, ou se você for brasileiro, ou até mesmo se você for apenas humano. Leia Elisa Lucinda. Em “L, O Musical” ela está como nunca.

Nunca pensei em vê-la como uma lésbica de meia-idade, amarga, azeda, genial e que já comeu todas as outras personagens que estão no palco. Essa Petra von Kant Pérola Negra vai marcar sua carreira. Aliás, ver uma homenagem às “Lágrimas Amargas de Petra von Kant” sob a liderança dessas divas negras é um soco na boca do estômago do Fassbinder.

Falando nisso, palmas para a cenografia de Maria Carmen de Souza, que corrigiu um erro crasso do “Lágrimas Amargas”. Fassbinder era um gênio, mas aquela piroca voadora sobre a cabeça das personagens é algo que não faz sentido nenhum. Não tem piroca em “L”. O musical é lugar de vulvas e só delas.

Ver o palco do CCBB tomado pelas mulheres – na banda também só tem elas -, é lindíssimo. Maggio conduziu o projeto de tal forma que, no encarte da peça, as atrizes estão como “artistas-criadoras” e Ellen Oléria tanto contribui quanto assina o roteiro musical com ele. Cada música não é só a música. É a música, a letra, sua compositora, sua intérprete e o momento que ela marcou. É Ana Carolina, Marina, Simone, Zélia, Adriana, Cássia, Lecy, Bethânia, Mart´nália, Ellen, Ro Ro…

O espetáculo acontece de quarta a domingo, às 20h, no CCBB de Brasília até dia 1º de setembro e daí parte para rodar pelo Brasil. No dia 27 de agosto, véspera do Dia da Visibilidade Lésbica, vai rolar um bate-papo com o elenco após o espetáculo.

Vulva la revolución!

Foto em destaque: Reprodução/ Metropoles

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