Preso injustamente desde 2013, Rafael Braga volta a trabalhar fora da prisão

O catador de latas  retomou o benefício do regime semiaberto denominado “trabalho externo” e falou à Ponte com exclusividade em seu local de trabalho

Por Luiza Sansão Do Ponte

Preso injustamente desde a grande manifestação de 20 de junho de 2013, por supostamente portar material explosivo (“coquetel molotov”), quando carregava apenas duas garrafas plásticas lacradas de produtos de limpeza, o catador de latas Rafael Braga Vieira retomou hoje (21/09) o benefício do regime semiaberto denominado “trabalho externo” e falou à Ponte com exclusividade em seu local de trabalho.

Mais magro e abatido pela tristeza de o recurso extraordinário interposto por sua defesa, representada pelo Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH), ter sido negado pelo Ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal Federal (STF), em 29 de agosto, Rafael hoje pôde sorrir novamente, ao voltar a trabalhar no escritório de advocacia João Tancredo, no Centro do Rio de Janeiro, onde trabalhou por um curto período, no segundo semestre do ano passado, antes de ter o benefício do “trabalho externo” suspenso após pedido de regressão prisional feito pelo Ministério Público ao final do ano passado.

Rafael ganhou roupas novas e aparou o cabelo para trabalhar, logo que chegou ao escritório hoje pela manhã. “Me sinto bem, feliz da vida de poder estar voltando a trabalhar, ter a liberdade de volta, estou muito feliz, de coração”, desabafou, com um sorriso emocionado, em entrevista exclusiva à Ponte, no local em que, de hoje em diante, trabalhará de segunda a sexta, de 10h às 18h, como auxiliar administrativo.

Para o advogado João Tancredo, “não se transforma ninguém preso” e a possibilidade de Rafael voltar a trabalhar fora da prisão e a forma como o jovem demonstra vontade de trabalhar e conviver com as pessoas é fundamental para se demonstrar a necessidade de se transformar o sistema penal. “Trazer Rafael para o convívio da sociedade é a forma concreta de não deixá-lo isolado dentro de um mundo que não é o mundo de ninguém”, afirma o advogado.

Rafael perdeu o benefício do “trabalho externo” por ter posado para uma foto em frente ao muro da Casa do Albergado Cel. PM Francisco Spargoli Rocha, onde cumpria pena na época, e do que foi considerada uma tentativa de fuga em um dia em que se atrasou na volta do trabalho – motivos pelos quais Rafael foi, duas vezes, duramente punido com dez dias em uma solitária, além de não poder mais trabalhar fora da penitenciária. Em 18 de agosto, entretanto, a Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro (VEP) entendeu que a conduta atribuída a Rafael não poderia ser enquadrada como ato de evasão e, atendendo aos pleitos defensivos apresentados pelo DDH, determinou que Rafael poderia voltar a usufruir do benefício.

+ sobre o tema

O racismo é o exercício estrutural do terrorismo em grande escala

por Arísia Barros A pretexto de contextualizar sua impressão...

“Não temos dono”: Estudantes da FGV pedem expulsão de aluno que chamou colega de “escravo”

A manifestação, realizada nesta segunda-feira (12), foi uma forma...

Cores da violência

Registrou-se, no ano de 2018, uma mais que bem-vinda...

para lembrar

Nota de repúdio ao ato de racismo em edifício sede da Conectas

Fato ocorreu na manhã desta quinta (20), em encontro...

PMs são suspeitos de montar grupo de extermínio

Grupo seria responsável por matar 35 pessoas e...

O Círculo da Morte e o Materialismo Estético

“Pois o cadáver não está morto! Ele está perambulando...

Danielton Fabris Silva – Racista da Bienal do Livro é indiciado por delegada da 42a. DP

A doutora Adriana Belém, delegada titular da 42ª DP...
spot_imgspot_img

Senado violentou Marina Silva para boiada passar

O que os senadores fizeram contra Marina Silva na terça-feira (27) tem nome e sobrenome: violência política de gênero. No país que em 2024 registrou 1.459...

A desigualdade subsidia as elites?

O problema não está apenas na desigualdade de renda, mas também na de influência. A elite econômica não concentra só patrimônio, mas também determina prioridades...

Cena do cotidiano

Não há credencial, talento, fama, reconhecimento ou fortuna capazes de blindar uma pessoa negra contra o racismo e o preconceito étnico-racial no Brasil. Há alguns dias,...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.