‘Quem diz que a Parada virou carnaval é a mesma pessoa que nunca milita’

Em entrevista ao iGay, coordenador executivo do evento rebate críticas de que a Parada Gay de São Paulo é apenas festa e não tem caráter político. Dê a sua opinião sobre a polêmica na nossa enquete

Em menos de 20 dias, São Paulo vai sediar na mais famosa de suas avenidas a 17ª edição da Parada do Orgulho LGBT . E neste ano em que um deputado acusado de homofobia assumiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Congresso Nacional (CDHM), o caráter de combate ao preconceito e ao obscurantismo do evento se faz cada vez mais necessário.

Coordenador executivo da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT), que organiza o evento, Nelson Matias acredita que Parada paulistana, marcada para o próximo dia 2 de junho, vai cumprir plenamente o seu papel. Ele rebate a crítica recorrente de que o acontecimento virou um grande carnaval de época sem repercussão política.

“Dizer que a Parada virou carnaval é o equivalente a fazer um discurso pró Feliciano, quem fala isso é a mesma pessoa que não milita em nenhum momento do ano”, argumenta Matias, citando o controverso presidente da CDHM. “Nossa luta é uma luta de anos, mas quando chamamos a comunidade, nem toda ela comparece”, completa.

Gestor ambiental e técnico de segurança, Matias, de 46 anos, entende que o seu papel é exatamente não deixar que a parada se desvirtue do seu objetivo. “Manter tudo nos eixos e não deixar o evento virar outra coisa, sou uma espécie de guardião”, explica ele. “Trazer visibilidade para a causa LGBT, sair do armário, levar para a rua as questões de gênero”, prossegue, elencando os objetivos do acontecimento na Avenida Paulista.

Matias é um dos fundadores da Parada, estando presente no evento desde a sua primeira edição oficial, em 1997. “Hoje se fala LGBT no lugar de GLS ou outros mil nomes, abordamos temas como homofobia e estado laico anos antes deles virem à tona, mas não é apenas função da Parada falar sobre isso, ainda bem que conseguimos evidenciar. Nossa articulação é para que isso aconteça o ano todo”, diz o coordenador, analisando a evolução ocorrida nessas 17 edições.

Muitos jovens e héteros

A Parada não atrai apenas homossexuais, como muita gente pode imaginar. “Cerca de 50% dos participantes é hétero” , revela Matias, acrescentando que a maior parte deles é atraída pelo caráter festivo do acontecimento, numa cidade carente de eventos de rua. “É uma festa também e não há nada de errado com isso”, pontua o coordenador.

“Hoje, o evento faz parte do calendário oficial da cidade, isso foi estabelecido por lei, então tem financiamento da prefeitura, que investe R$ 1,6 milhão. Segundo a SP Turis, o evento movimenta R$ 270 milhões a cada ano”, conta Matias. O custo total da Parada gira em entorno de R$ 2 milhões. Fora o investimento do governo municipal, há ainda os valores gerados com os trios elétricos patrocinados por casas noturnas e também com a renda gerada pelas barracas da Feira Cultural LGBT, que acontece do Vale do Anhangabaú.

O dinheiro é usado para infraestrutura do evento, como palco, iluminação, banheiros químicos e segurança, além da ajudar a financiar a APOGLBT, que conta com o apoio de voluntários.

Público: 270 mil ou 3 milhões?

Sobre a polêmica envolvendo o número de pessoas que passam pela Parada, Matias é taxativo. “Posso afirmar com toda certeza que não é, não será ou foi aquele numero ridículo de 270 mil pessoas que a Folha publicou no ano passado”, disse o coordenador, citando uma pesquisa do Instituto Datafolha, publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, com a estimativa de público do evento em 2012 .

“É muito relativo porque o cálculo é complexo, a Parada começa às 12h e vai até às 18h. O publico que fica concentrado após a Consolação também é público da Parada, quem chega antes também, não é só quem marcha”, pondera Matias, que prefere não estimar o número de participantes do evento que ele acredita ser o real.

Por outro lado, Matias ressalta que o número total de frequentadores da Parada é importante, mas não deve ser o único foco do evento. “Quando temos o microfone, nos manifestamos, temos politica e debates. Se atingirmos nem que seja uma só pessoa com isso, o esforço já será válido”, conclui.

Antes da estimativa do Datafolha, o número de frequentadores da Parada de São Paulo era estimado pelos organizadores em mais de 3 milhões. A quantia expressiva colocou o evento como o maior deste gênero do mundo no “Guiness Book”, o livro dos recordes.

 

Será que você é um homofóbico enrustido e não sabe? por Sakamoto

 

Fonte: iG

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