Racismo: quando o sonho de uma carreira internacional no futebol vira pesadelo

Por Letícia Brito de Andrade

 

Copa do Rei. Jogo do Real Madrid versus Atlético de Madrid. Um clássico madrilenho que seria marcado por uma cena já comum no futebol europeu. Na vitória do Real, quem ganhou destaque foi o lateral brasileiro Marcelo. Nem ao menos jogou. Mas teve que ouvir ofensas, sofrer humilhações e ser constantemente chamado de “macaco” pela torcida do Atlético.

A culpa do jogador? É estrangeiro. Latino. Negro. Uma combinação que pode ser perigosa em um continente cada vez mais contaminado pela xenofobia e racismo.

É uma constante triste do futebol europeu. Cada vez mais jogadores brasileiros – e estrangeiros – são obrigados a ouvir insultos de torcidas adversárias – e, às vezes, da própria torcida. Paulão, jogador do Bétis, experimentou ser vaiado pelos próprios betenses diversas vezes. Na verdade, nem mesmo os próprios europeus escapam dessa moda maldita. Balotelli já foi vítima, e quem não se lembra da final da Copa de 2006, quando Zidane perdeu a cabeça ao ouvir uma ofensa em relação ao país de sua família, a Argélia? Se nem os próprios europeus estão a salvo, qual a garantia de segurança e dignidade que um jogador estrangeiro pode ter?

Poderíamos tentar encontrar razões para este tipo de cultura ainda persistir na Europa. A Sociologia e a Antropologia estudam e encontram explicações bastante plausíveis para este fenômeno, e estas mesmas ciências tentam buscar soluções que, por enquanto, ainda estão no plano da utopia. O que é triste. Porque, na realidade, usar o esporte como forma de extravasar ódio deveria ser uma prática exclusiva dos tempos da Grande Depressão, da Alemanha nazista de Hitler. Devia ser passado, superado. Não presente.

E aí fica a pergunta: vale a pena se sujeitar a tamanho sofrimento? A vitrine do futebol continua sendo a Europa, é verdade. Lá são pagos os melhores salários, e os torneios mais competitivos e de nível mais alto ainda são de lá. Um jogador brasileiro que é levado pra Europa tem como certo seu sucesso e sua ascensão. Mas a que preço?

Há de se lembrar que o Brasil tem grandes times, e ainda possui a característica de revelar uma enorme quantidade de jogadores. Os clubes brasileiros tem todas as condições de enfrentar os europeus em pé de igualdade – basta ver a quantidade de campeões mundiais de clubes que temos. Mas ainda temos de exportar nossos talentos. Por que, então, não investir na formação de nossos jogadores? Valorizar o futebol nacional, os campeonatos regionais e nacionais, incentivar para que eles fiquem?

A UEFA, a FIFA e outros órgãos até tentam contornar a situação. Criam campanhas contra o racismo, fazem sua parte de conscientização, mas é difícil contornar sem uma política de punição contra quem comete esse crime. E como fiscalizar e punir uma massa de torcedores?
Aos jogadores brasileiros, restam apenas duas opções: ou ficam no país e veem suas carreiras se estagnarem, ou correm este tipo de risco. E como talvez nem em nosso país estejamos seguros (vide caso recente do jogador Tinga do Cruzeiro, humilhado durante jogo no Peru pela Copa Libertadores), o que resta é torcer para que, com o talento que possuem, esses jogadores possam conquistar torcedores que veem além de cores ou nacionalidades. E que, com o respeito que conquistarem, ganharem voz, para ajudar outros a enfrentarem o problema. Ajudar os próprios europeus a descobrirem que, em futebol, o que vale é o que se joga.

Fonte: Yahoo

 

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