Rei de Espanha é pressionado a deixar o cargo após matar elefantes na África

 

Desde que as redes sociais passaram a publicar a foto do rei Juan Carlos I, o Rei da Espanha, nesta segunda-feira, o tom das críticas tem aumentado por todo o mundo e o monarca de um país que se debate em meio à pobreza causada pela crise mundial do capitalismo é ameaçado de perder a coroa. Trata-se da pior crise enfrentada pela casa de Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias desde o fim do franquismo, período de chumbo da história espanhola. Representante de uma elite cada vez mais questionada pela sociedade civil, o rei de Espanha colocou a realeza em risco no momento em que posou ao lado de um elefante que acabara de matar em Botswana, durante um safári pago pelo Erário.

Durante a caçada, o monarca, de 74 anos, teve que ser levado com emergência e submetido, neste final de semana, a uma cirurgia no quadril, em consequência de uma queda, e se recuperava num hospital de Madrid. O interesse por seu estado de saúde foi ofuscado pelas críticas, após informações de caçava elefantes.

– Tinha licença para caçar elefantes. Entendo que sofreu a queda quando já estava num chalé, não no terreno – disse a jornalistas o porta-voz do governo, Jeff Ramsay.

Uma foto de Juan Carlos de 2006, posando, com a escopeta na mão, diante de um elefante morto nesse país de África e publicada em vários jornais espanhóis no domingo contribuiu para alimentar o escândalo. A atriz francesa, conhecida por seu trabalho de defesa dos animais, Brigitte Bardot, escreveu uma carta aberta ao rei fustigando a caça de elefantes.

“É um ato indecente, repugnante e fico indignada por ser com uma pessoa de sua posição”, afirmou. “O senhor não vale mais do que os caçadores ilegais que pilham e saqueiam a natureza, é a vergonha da Espanha”, acrescentou. “Não desejo ao senhor um pronto restabelecimento, porque isso o levaria a prosseguir com as suas estadas mortíferas em África ou em outro local”, inflamou-se.

A organização espanhola Pacma considerou “inaceitável que Juan Carlos vá à África caçar elefantes enquanto o governo impõe duras medidas de austeridade e faz cortes no orçamento que tornam a vida dos cidadãos cada vez mais difícil”. A aventura representa uma despesa “de sete a 20 mil euros para cada animal abatido”, acrescentando que “o custo médio de um safári é de 35 mil euros”. O fórum social europeu Atuable divulgou na internet um abaixo-assinado, de mais de 40 mil pessoas, pedindo que o rei deixe imediatamente o posto de presidente de honra da filial espanhola da ONG World Wildlife Fund (WWF).

A WWF anunciou, por sua vez, no twitter, que “fará chegar à Casa Real os comentários, além de reiterar o seu compromisso com a proteção dos elefantes”. Alguns chegaram até a evocar a possibilidade de demissão, e talvez abdicação, de um rei que vinha sendo até aqui quase intocável, encarnando a transição democrática após o fim da ditadura do general Franco, em 1975. Tomás Gómez, líder dos socialistas madrilenos, somou-se às críticas emitidas por grupos políticos de esquerda na reprovação feita pela imprensa espanhola.

– Chegou o momento de a Casa Real escolher entre as obrigações e as sujeições das responsabilidades públicas e a abdicação, que lhe permita desfrutar de uma vida diferente. Esse comportamento não é o que nós, espanhóis, esperávamos da Casa Real em momentos de crise. É pouco edificante – afirmou.

Outras duas ONGs de defesa dos animais, ‘Igualdad Animal y Equanimal’, pediram, num comunicado, manifestações hoje (terça-feira) diante do hospital San José de Madrid, onde o rei convalesce. A família real espanhola vem sendo objeto de críticas e escândalos há alguns meses, marcados por um suposto caso de corrupção que envolve um dos genros do rei, o duque de Palma e ex-campeão olímpico de handebol Iñaki Urdangarín.

Saúde abalada

A cirurgia de sábado foi a quarta submetida pelo rei, em dois anos. O médico, Angel Villamor, afirmou que poderá receber alta nesta semana, uma vez que “já consegue caminhar e sentar-se sozinho”.

Em 2009, um tribunal decidiu arquivar as acusações contra os autores de uma caricatura que representava Juan Carlos numa caçada na Rússia, onde teria matado um urso de circo, depois de beber vodka.

Mais cedo, uma colheita de assinaturas foi iniciada no site Actuable. A petição é pela renúncia de Juan Carlos I a seu cargo na organização ambiental – que ocupa desde que ela foi fundada na Espanha, em 1968. Até o início da noite desta quarta-feira, já contabilizava 60.710 das 70 mil firmas esperadas. Diante das reações, a WWF solicitou uma reunião urgente com o monarca para discutir o assunto e lhe transmitir as manifestações que recebeu e, na ocasião, possivelmente pedir-lhe que se retire do cargo.

– Estamos esperando a reunião. Não é uma questão que possamos responder agora, já que não tivemos a chance de falar com o rei ainda – diz Soria.

 

 

 

Fonte: Correio do Brasil

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