Por: FLÁVIO FERREIRA
Esquema de lavagem aliciou 600 moradores de rua e movimentou US$ 6,5 mi em um ano
Operação Albergue prendeu ontem 11 pessoas e cumpriu mandados de busca e de apreensão em lojas de produtos eletrônicos em SP
A Polícia Federal descobriu em São Paulo um esquema de operações ilegais de câmbio que utilizou mais de 600 moradores de rua para movimentar pelo menos US$ 6,5 milhões -o equivalente a cerca de R$11,4 milhões- em um ano.
Recrutados por aliciadores da quadrilha em albergues ou em locais como o vale do Anhangabaú ou a rua Líbero Badaró, no centro da capital paulista, os mendigos selecionados recebiam R$ 10 para oferecer documentos pessoais e assinar contratos de câmbio ou boletos de compra e venda de moeda estrangeira.
Batizada de Operação Albergue, a ação da Superintendência da PF em São Paulo ontem levou à prisão de 11 pessoas -4 aliciadores e 7 doleiros ligados ou não às casas de câmbio envolvidas no esquema- e ao cumprimento de mandados de busca e apreensão em lojas da galeria Pajé e da rua Santa Ifigênia, centros de venda de produtos eletrônicos.
Segundo o delegado Ricardo Saadi, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, o esquema tinha como objetivo lavar dinheiro ou enviar de forma ilegal recursos para o exterior para pagamento de produtos contrabandeados.
Em grande parte dos casos, recursos obtidos de forma ilícita eram trocados nas casas de câmbio com o uso de documentos e assinaturas dos laranjas, e logo na sequência lojas ou empresas simulavam a venda de produtos para os mendigos por meio de notas fiscais falsas. A meta era “esquentar” os montantes que entravam nos caixas dos lojistas, explicou Saadi.
A quadrilha também usava o dinheiro obtido com as operações de câmbio fraudulentas para remeter valores ilegalmente para o exterior, principalmente para o Paraguai. Uma das formas de envio era por meio de operação conhecida como dólar-cabo, pela qual um doleiro recebe um montante no Brasil e usa uma conta no exterior para entregar o valor correspondente ao seu cliente no país estrangeiro.
A quadrilha também mandava dinheiro por meio de mensageiros conhecidos como “mulas”, que faziam o transporte físico de cédulas presas ao corpo.
Uma das quatro casas de câmbio envolvidas no esquema é reincidente nos crimes e foi apanhada em uma ação semelhante da PF realizada em 2008, segundo o delegado. Os nomes das operadoras e dos detidos não foram revelados.
A PF comparou listas de pessoas cadastradas em albergues da capital com os registros de operações das quatro casas de câmbio ligadas à quadrilha. O cruzamento levou à identificação de 623 pessoas que realizaram, em média, uma operação de câmbio por mês, de janeiro de 2009 a janeiro deste ano.
Fonte: Folha de S.Paulo