Sob fogo amigo, Casa Branca se defende

Por: ANDREA MURTA

 

Arquivos revelados por mídia mostrando abusos e segredos da guerra no Afeganistão são criticados até por democratas

Governo Obama alega que vazamento ameaça tropas americanas; site WikiLeaks anuncia que há mais a divulgar

Sob críticas inclusive de aliados democratas, a Casa Branca tentou se defender ontem do escândalo da divulgação, no domingo, de documentos secretos da guerra no Afeganistão, divulgados no site WikiLeaks e em três publicações -“Guardian”, “New York Times” e “Der Spiegel”. Ela afirmou que o vazamento é uma “séria ameaça” às tropas e à estratégia militar dos EUA.

O vazamento, uma coleção de 91.731 documentos de períodos entre 2004 a 2009, revela que o grupo radical Taleban está cada vez mais forte; que os EUA estão furiosos com o contínuo apoio da inteligência do Paquistão -suposto aliado- aos insurgentes afegãos; que mais civis do que se supunha foram mortos; e que o esforço no Afeganistão vai de mal a pior.

A resposta política não demorou: democratas no Congresso afirmaram que intensificarão o escrutínio da estratégia do presidente Barack Obama e que os documentos poderão tornar mudanças de rumo ainda mais urgentes.

O episódio ocorre quando a Casa Branca se prepara para uma dura batalha de convencimento de revisão da estratégia no Afeganistão, prevista para dezembro.

O governo passou o dia tentando, sem muito sucesso, convencer a opinião pública de que os papéis publicados não têm novidades nem efeitos no esforço de combate. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse “não haver nada nos documentos que já não tenha sido discutido publicamente”.

Evitou dizer se o escândalo provocará um recuo na estratégia dos EUA de aumentar o número de soldados e aliar-se à população local.

Em vez disso, criticou o vazamento. “Além de ser contra a lei, [a divulgação] tem o potencial de ser muito perigosa para os militares, os que cooperam com os militares e os que trabalham para nos manter seguros.”

Ontem, Julian Assange, responsável pela divulgação dos documentos e um dos fundadores do WikiLeaks, afirmou que “está apenas começando” a liberar os dados confidenciais. Para ele, ainda há “milhares de crimes de guerra” relatados.

Funcionários da Casa Branca atacaram Assange, destacando entrevista que concedeu à “Spiegel” em que afirma “gostar de esmagar sacanas”.

Apesar das críticas, os documentos são contundentes por dois motivos. 1) Comprovam temores de que a situação em campo é bem pior do que as Forças Armadas querem admitir. 2) Deixam claro que os EUA falham há anos em convencer os paquistaneses a pararem com o jogo duplo de auxílio ao Taleban.

Apenas o Paquistão negou o conteúdo dos papéis. Já Cabul reclamou da morte de civis por ataques americanos, mas afirmou não considerar os documentos “injustos”.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

para lembrar

Violência, intolerância e a falsa cordialidade dos brasileiros

A escritora e antropóloga Lilia Schwarcz fala sobre a...

Painel: Campanha de Serra admite dificuldades para conseguir doações

Embora a direção tucana sustente que não há escassez...

Balé de Rua, de Uberlândia, conquista Austrália

Sydney (Austrália), 8 jan (EFE).- Os dançarinos acrobatas...

Nas escadarias da laicidade

O Plano de Proteção à Liberdade Religiosa empacou. Outra...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...
-+=