Sul-africanos resignados a um iminente adeus a Mandela

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No dia em que aumentou significativamente o contingente de jornalistas à porta do hospital de Pretória onde Nelson Mandela se encontra em estado crítico, a maioria dos sul-africanos parece resignada a um iminente desaparecimento físico do seu maior herói.

Nas cidades, vilas e aldeias do país a vida decorre na normalidade e os muitos grupos étnicos que compõem a “nação do arco-íris” (uma criação de Mandela na queda do “apartheid”) sofrem, cada um à sua maneira, com o circo público que se tornou, nos últimos meses, a inexorável degradação física de “Madiba”, que deverá completar 95 anos a 18 de julho.

“Sinto uma grande angústia, todos os dias peço a Deus que não o deixe sofrer, mas sinto que está na hora de ele partir porque deve ser mais penoso para ele viver do que partir”, disse à Lusa Sweetness Mgijima, uma representante de vendas oriunda do Cabo Oriental que vive e trabalha em Joanesburgo.

Para Moses Tshabalala, trabalhador da construção civil em Pretória, este é o momento certo para a nação se unir e celebrar o triunfo sobre a injustiça conseguido sob a liderança e o exemplo de Nelson Mandela.

“Devemos celebrar a sua partida à imagem do seu exemplo como ser humano. Tudo o que ele fez fê-lo por nós, sul-africanos. É altura agora de retribuirmos com respeito e orações, nada mais faz sentido na hora da morte”, disse Tshabalala com uma expressão de profunda consternação.

Entre os seus amigos, particularmente os mais idosos, na aldeia de Qunu, Cabo Oriental, de onde é natural, existe um forte sentimento de que a vida de Nelson Rolihlahla Mandela esteve ao serviço da nação e dos seus compatriotas até muito perto do fim anunciado.

Lembram que até uma das maiores ambições de um africano, que é a de morrer no local onde nasceu, lhe foi negada pelo enorme peso da sua figura no país e no mundo.

Moses Sithole, um ancião de 83 anos e conterrâneo de Mandela, recordou numa conversa com a agência Lusa que o ex-presidente fez várias tentativas para regressar a Qunu e lá passar, na tranquilidade dos imensos campos e colinas onde as indústrias e a azáfama das cidades nunca chegaram, os seus derradeiros dias.

“Mas isso foi-lhe negado, pela família e pelo Estado, que sempre o tentaram proteger dos olhares alheios, da falta de cuidados médicos especializados e dos jornais e televisões que sempre o seguiram. Várias vezes, ou porque estava doente ou porque tinha visitas importantes, o levaram daqui para Joanesburgo, e será lá, longe das suas raízes, que um dia deverá morrer, contra a sua vontade”, desabafou.

Agora, os olhos da nação e do mundo estão pregados em Pretória, onde o velho líder que foi em tempos o prisioneiro mais famoso do mundo, se prepara para a derradeira jornada, rodeado de médicos e sofisticados equipamentos.

Exatamente 18 anos depois de ter erguido a Taça do Mundo de râguebi abraçado ao ex-capitão François Pienaar, no estádio de Elis Park, em Joanesburgo, num momento de euforia nacional que uniu uma nação ainda ferida de morte pelo regime de segregação racial deposto um ano antes, Nelson Mandela está, oficialmente, em estado crítico.

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