Banco chega à conclusão ao considerar número de mortes em relação à população
Órgão estima gastos com reconstrução em até US$ 14 bilhões e alerta para risco de danos à economia local, pelo alto fluxo de ajuda externa
A reconstrução do Haiti após o terremoto de 12 de janeiro pode custar até US$ 14 bilhões, o que, segundo o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), converte a catástrofe, em proporção à população, no desastre natural mais destruidor da era moderna.
A estimativa está em estudo divulgado ontem pelo banco, primeiro órgão multilateral a calcular os prejuízos causados pelo sismo. O estudo considera dados de outros desastres e variáveis como número de mortes, população e PIB per capita.
O BID estimou os danos a partir do número de 200 mil a 250 mil mortos ou desaparecidos -no último dia 11, o governo haitiano citou 230 mil.
Para um desastre com 250 mil mortos considerando aspectos demográficos e econômicos do Haiti, o prejuízo é estimado em US$ 8,1 bilhões, podendo bater US$ 13,9 bilhões.
O valor equivale a quase todo o Orçamento 2010 do município de São Paulo (R$ 27,8 bilhões), ou mais do que o próprio PIB do Haiti em 2009 medido em paridade de poder de compra, em US$ 11,6 bilhões.
No fim de janeiro, o governo brasileiro somava gastos de US$ 230 milhões com a ajuda ao Haiti -cerca de R$ 430 milhões, valor que ascenderia a R$ 1 bilhão com doações privadas. A União Europeia, principal doadora, prometeu cerca de US$ 420 milhões.
Embora recomendem cautela com as estimativas, os autores defendem sua importância para mostrar à comunidade internacional o tamanho do esforço necessário para reconstruir o Haiti. Os danos causados pelo tsunami na Indonésia em 2004, por exemplo, foram estimados em US$ 5 bilhões.
Uma tarefa dessa dimensão, diz o estudo, supera o alcance de qualquer agência ou doador individual, daí a importância da coordenação da ajuda.
Se o fluxo de recursos externos não for gerenciado de modo a evitar gargalos e distorções, poderá prejudicar a atividade econômica e o setor exportador local.
“Grandes fluxos de ajuda podem provocar alta de custos, apreciação real [do câmbio] e doença holandesa [perda de competitividade por excesso de capitais] elevando a dependência de ajuda”, diz o estudo.
País mais pobre das Américas, com 80% da população nessa situação, o Haiti ampliava suas exportações (12% em 2009), centradas (90%) em produtos manufaturados como têxteis. O estudo defende medidas para manutenção de empregos em setores exportadores e em outros em crescimento, como o turismo.
O próprio presidente do Haiti, René Préval, disse nesta semana que a ajuda externa não deve competir com a produção local, mas ser canalizada para criação de empregos.
Fonte: Folha de S.Paulo