UNESP de Assis dá show de diversidade em cerimônia de empossamento

Na última sexta-feira, 27 de Novembro de 2015, a Faculdade de Ciências e Letras (FCL-UNESP) Campus de Assis foi literalmente palco de um momento histórico. O evento que superlotou um dos auditórios tratava-se do empossamento da nova Direção (Diretora e Vice-diretora): em 57 anos é a primeira vez que uma mulher é eleita para assumir a função de Diretora. A mesa em que estavam a antiga e a nova direção era composta majoritariamente por mulheres, a nova Diretora e sua Vice; Doutora Andrea Lucia Dorini de Oliveira Carvalho Rossie, Doutora Catia Inês Negrão Berlini de Andrade e os cessantes, Prof. Doutor Ivan Esperança Rocha e Doutora Ana Maria Rodrigues de Carvalho, respectivamente, retratando um cenário peculiar quando se faz referência a cargos de poder.

Enviado por Naeli Simoni de Castro via Guest Post para o Portal Geledés 

A atual Diretora, Drª Andréa, trouxera em seu discurso questões referentes às funções sociais e a sobrejornada de trabalho, lembrando que: a mulher que exerce um trabalho remunerado, sendo cargos de poder ou não, não deixa de ser a cuidadora dos filhos, dos idosos, da casa e muitas vezes do companheiro, é uma mulher com dupla, tripla jornada de trabalho.

O público que acompanhava a cerimônia era composto por discentes, docentes, servidores e comunidade do município de Assis prestigiados com muita musicalidade, seguida de choros e sorrisos, mas o auge foi a apresentação cultural do grupo “Isso e as Biscates”, que inicia uma entrada triunfal pelo vocalista: de saia tubinho preta, colada e curta, brincos grandes de argola, batom vermelho cereja, devidamente empulseirado e volumosamente barbado, Robson, era conduzido por uma mulher, também integrante do grupo que incorporou perfeitamente o cavalheirismo e segurava-lhe às mãos apoiando-o enquanto o colega no salto 15 desfilava degrau-a-degrau, rumo ao memorável show.

Isso e as biscates é uma banda composta por alunas e alunos da FCL, cuja musicalidade e identidade LGBT se conectam em ritmo, som e rebolado, desconstruindo a lógica heteronormativa. Acompanhados de olhares curiosos, palmas, risos, e por vezes olhares desaprovadores o grupo choca aos mais conservadores: “a porra da buceta é minha” foi mais de uma vez musicalizada e entoada em coro por vários dos presentes. Em determinada altura o grupo interrompe a música “um tapinha não dói” para questionar essa já naturalizada violência contra a mulher e reivindicar o direito das mulheres:

“Ai Robson, que caralho é esse de um tapinha não dói? Cadê meu celular eu vou ligar 180 (…) Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim!”.

Corpo e voz, sons e ritmos que se intensificam com a performatividade, as curvas se materializam em descidas e subidas, rebolados inimagináveis. Corpo não apenas poético, mas político.

A gestão anterior deixou entre outros legados interessantes, o começo de uma ampla consulta sobre assédio sexual no campus e arredores com fim de formular ações político-educativas que proporcionem uma cultura antiassédio no campus. Esta cerimônia de empossamento e ações cotidianas que marcam um posicionamento político são de fundamental importância, não apenas no “respeito” às diferenças, mas positivando-as e estimulando-as.

Fique registrada, a nível nacional, essa cerimônia de empossamento-empoderamento. Que a academia e a ciência que se pretende neutra, entenda que não falar da violência cotidiana sofrida por grupos vulnerabilizados é também corroborar com ela. Que a Faculdade de Ciências e Letras nos prestigie cada vez mais com esses lampejos de sanidade e humanidade. Que outras instituições, e muitos outros setores passem a falar sobre violência e a problematizá-la. Que um posicionamento ético-político contra as desigualdades, diversos tipos de violência e subalternidade seja um projeto nacional, quem nos dera, mundial. E que nosso otimismo perdure: quiçá de pequenos lampejos estaremos em breve todos juntos soltando rojões, não só porque é ano novo, mas porque enfim, estaremos de fato em um novo ano, novos tempos e comportamentos.

+ sobre o tema

Carmen Luz é uma das homenageadas no II Prêmio do Dia da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha

Junte-se a nós para celebrar essa trajetória! Quem faz? Associação...

Mel Duarte representa literatura brasileira em festival de Angola

Poeta participa de sarau e bate-papo sobre literatura lusófona...

Inspiradas em Lupita, jovens negras falam de preconceito e da valorização da própria beleza

Mulheres negras abandonaram os produtos químicos para os fios...

para lembrar

Aumenta desemprego entre a população negra e mulheres

Somados, pretos e pardos (classificação do IBGE) eram mais...

Adolescente é estuprada por mais de 30 na Malásia; 13 são detidos

A polícia da Malásia deteve 13 homens e está...

Outro goleiro agressor de Mulheres substituto do Bruno no Flamengo

Goleiro do flamengo, Marcelo Lomba, é acusado de agressão...

A fabulosa geração de gays que nasceu para ser tudo que ninguém quer

Apropriam-se de termos, criam linguagem própria e um andar...
spot_imgspot_img

Universidade é condenada por não alterar nome de aluna trans

A utilização do nome antigo de uma mulher trans fere diretamente seus direitos de personalidade, já que nega a maneira como ela se identifica,...

O vídeo premiado na Mostra Audiovisual Entre(vivências) Negras, que conta a história da sambista Vó Maria, é destaque do mês no Museu da Pessoa

Vó Maria, cantora e compositora, conta em vídeo um pouco sobre o início de sua vida no samba, onde foi muito feliz. A Mostra conta...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a Nath Finanças, foi eleita uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo pela organização...
-+=