“Sou uma criança, então desfruto, como uma criança”, diz a venezuelana Yulimar Rojas, uma atleta de talento único, quase de ficção científica, antes de transportar o salto triplo em uma viagem alucinante a uma nova dimensão. A um espaço em que só está ela, uma garota de Barcelona, na Venezuela, que um dia se emocionou diante da televisão vendo o atleta Teddy Tamgho ganhar um Mundial e, ali, já sem dúvidas ou hesitação, decidiu ser como ele. Como aquele francês, tão distante, que dava três quicadas e voava, e o estádio se emocionava. Rojas queria sentir essa emoção, que a tocava até os ossos. E conseguiu. A venezuelana é ouro em Tóquio, e recorde mundial com 15,67m na prova. A portuguesa Patricia Mamona foi a segunda colocada, com 15,01 metros, e a espanhola Ana Peleteiro foi a terceira com 14,88.
Aos 25 anos, Yulimar toma para si a emoção que uma vez Teddy Tamgho sentiu. Em um estádio vazio e quente porque em Tóquio faz o calor de sua terra, e sua umidade, e nem uma brisa caridosa o diminui. Mas isso não aplaca os ânimos de Yulimar que se sente em sua rua, uma garota, e ri. “Minha terra é assim”, diz. “Úmida e quente”. Em seu primeiro salto, 15,41 metros, bate o recorde olímpico como se fosse fácil, estalando os dedos. Como um mago, faz parecer tão fácil uma corrida fluida e poderosa, que surge do nada, com passos amplos, de mais de 2,70 metros, e não perde nada da velocidade quando, com apoios seguros, no final do corredor, diante da tábua, dá um pulo, um passo, um salto.

Ela se eleva, voa, estende seu corpo interminável, as longas pernas, seu 1,92m gracioso, elegante, e tão flexível. 17 passos e pam, pam, pam. Assim age uma campeã em uma final olímpica, que ganha a primeira e tem cinco para terminar o processo. Como a escola de música venezuelana e Gustavo Dudamel, Yulimar bate dois recordes, e afina, e afina, e Iván Pedroso, na arquibancada, aconselha e aconselha, com seus gestos, com suas mãos, com seus braços, um maestro com suas duas solistas surgidas de seu conservatório de Guadalajara.
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