Deram-lhe o papel de ladrão, era tão bom ator que foi lá e… Roubou a cena

na sociedade do espetáculo, todos têm direito a seus 15 minutos de infâmia.

Por Lelê Teles via Guest Post para o Portal Geledés

Reprodução/ Twitter

nunca nos esqueçamos, esse espetáculo político-midiático começou lá atrás, com Bob Jefferson denunciando o que ele chamou de Mensalão, e partindo pra cima de Zé Dirceu, “movido pelos instintos mais primitivos”. em seguida, o nosso infame cantor de óperas-bufa chegou ao Congresso Nacional com um olho roxo.

logicamente por ter batido com o rosto na quina de uma porta. aí pulularam denúncias, o palco se encheu de denunciados, Marcos Valério, Delúbio, Valdemar da Costa Neto, Bispo Rodrigues, Dirceu, todo mundo com o rabo preso, todos com o rabo sujo. parecia aquela polêmica peça dos macaquinhos em que uns atores escarafuncham o fiofó do outro. e você sabe, em roteiro que tem muito bandido já se espera a chegada triunfal de um herói. foi nesse vácuo que surgiu, de forma inesperada, um juiz negro, ministro do Supremo, qual um Deus Ex Machina.

Joaquim Barbosa era o nome dele. do anonimato, o homem morcego pulou para a capa da revista veja, “o menino pobre que mudou o Brasil”. em seguida, batmizado pela mídia, era o personagem mais cotado para bombar em máscaras de carnaval. 15 minutos depois, Barbosa já estava em seu apê em Miami.

só, esquecido pelo noticiário, com o dedo no copo de Whisky a girar duas pedrinhas de gelo, mirando o quadro na parde onde ele figura, ainda infante, na capa da revista veja.

aí é a vez da polícia, sirenes para todos os lados.

uéum, uéum, uéum.

os policiais, armas em punho, saltam muros na madruga – TVs dando cobertura – prendem políticos, vizinhos, esposas, filhos, papagaios… até uma cunhada – que não é parente – foi às grades, de forma bisonha e atrapalhada.

presos são levados ao presídio em jatos, em pleno feriado, tudo pelo espetáculo. diretores da Petrobras, empreiteiros, doleiros e lobistas vão se apinhando nas carceragens.

por meio da tortura psicológica, bandidos vão denunciando outros colegas de rapinagem e vão ganhando a liberdade. substituindo a vaga do outro.

quem sair por último apaga a luz. Moro destaca-se nesses capítulos. passam-se mais 15 minutos, um japonês bonzinho, com cara de mau, surge à frente das operações.

faz grampos, vende informações privilegiadas para revistonas, políticos e banqueiros. mas não sejamos bobinhos, ele não produz essas informações e nem elas ficam sob sua guarda. tem alguém ainda mias bonzinho servindo esse sushis sujinhos para o japinha.

>o japa é o tipo de cara que você pode confiar, ele já havia sido expulso da polícia por, supostamente, chefiar uma quadrilha de contrabandistas.

ah, esses roteiristas!

até que, 15 minutos mais tarde, vem à boca do palco, Bernardo Cerveró, único ator profissional em toda essa trama.

antes, na coxia, sentado na cadeira de diretor, Cerveró pai asseverou-se que o filho estava bem ensaiado.

Bernardo representaria o papel de araponga, maquinando contra dois homens poderosos que queriam, veja como é a vida, livrar o pai do ator da cadeia.

agora, nos minutos finais desta novela, o espectador é convidado ao papel de pitonisa, há que avinhar o final do enredo.

o truque é uma antiga e manjada fórmula usada por roteiristas veteranos, uma aporia do tipo: “quem matou Odete Roitman?” agora, os espectadores mais argutos estão a se perguntar: por que diabos Cerveró preferiu ver preso um cabra que queria livrá-lo da prisão? não faz sentido.

Cerveró preferiu que Esteves e Delcídio estivessem presos a ver os dois soltos por aí? qual a razão? Cerveró tinha tanta urgência na prisão da dupla que, sabendo não ser suficiente citá-los novamente numa delação premiada, forjou o flagrante perfeito.

a resposta é simples.

ao serem citados por Cerveró, e temendo que o encarcerado batesse ainda mais com a língua nos dentes, Delcídio e Esteves decidiram ser os senhores do destino do encarcerado?

armaram um plano de fuga, uma rota de fuga e o esquema para amparar o fugitivo, que receberia um mensalinho de 50 mil lascas para viver nas estranjas.

mas Cerveró não é tolo. fugir pra onde?

PC Farias tentou fugir outrora, disfarçou-se de sheik árabe e o cacete, mas foi descoberto.

por baixo do turbante ele balbuciava sempre com sotaque alagoano.

o ex-banqueiro trambiqueiro, Salvatore Cacciola tentou amoitar-se nas estranjas e também foi capturado pilotando uma vespinha, como nos anos 50.

Roger Abadelmasih, o tarado do bigodão, tentou se disfarçar de paraguaio, mas teve o mesmo destino dos outros, a tranca.

o mundo é muito pequeno para que alguém possa conseguir se esconder.

e Cerveró é uma figura óbvia demais para passar despercebido em algum lugar.

onde Delcídio planejava escondê-lo, num quadro de Picasso?

arquivo vivo, Cerveró sabe que enquanto estiver preso ainda terá a certeza de fazer três refeições por dia.

livre, vira ele próprio a refeição.

palavra da salvação.

Lelê Teles
Diretor de Marketing
Jornalista – DRT 1799/SE
Roteirista

(79) 8825 7004

Roteirista do programa Estação Periferia – TV Brasil e TV Aperipê.
Apresentador do programa de música africana Coisa de Negro – Aperipê FM.
Colunista do site Brasil 247.
Colunista do jornal sergipano Folha da Praia.
Colaborador do blog da Maria Frô e do Jornal do Dia.
Editor do blog de Análise do Discurso Midiático FALA QUE EU DISCUTO
http://fastosenefastos.blogspot.com
Escreve poemas eróticos aqui:  http://blogdoleleteles.blogspot.com/Fazia promessas e nunca as cumpria.
Caiu em desgraça. Mesmo assim continuou orando.
Ele ainda acreditava em Deus;
Deus é que já não acreditava mais nele”. Lelê Teles

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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