‘Foi um tapa na cara das pessoas do meu país’, diz ativista da Guiné Equatorial sobre desfile de Beija-Flor

Após toda a polêmica em torno do desfile da campeã Beija-Flor, que teria recebido um patrocínio de R$ 10 milhões do governo ditatorial da Guiné Equatorial, o ativista guinéu-equatoriano Tutu Alicante falou ao site Conectas que considerou a homenagem ao seu país “humilhante”:

No Brasil Post 

“Foi horrível, humilhante, um tapa na cara das pessoas do meu país. Não tenho nada contra os brasileiros dançarem ou se divertirem, mas fazer isso com o dinheiro de gente pobre, que não tem educação, saúde e nem liberdade para reclamar desta falta não é certo. E pior, passa a imagem de que vai tudo bem no país, quando não vai.”

Alicante, que é diretor-executivo da EG Justice, entidade que promove os direitos humanos na Guiné Equatorial, explicou que as duas condições para que o país integrasse a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) não vêm sendo cumpridas. São elas o fim da pena de morte e uma maior integração da sociedade civil do país nas atividades da entidade.

“Se, por exemplo, você pede permissão para realizar um pequeno e pacífico protesto, nunca consegue e, caso resolva ir em frente, pode ser detido. Os ativistas lá não podem usar a internet livremente porque ela é censurada e o acesso, limitado. Restam então mensagens de texto e ligações telefônicas. Quanto à moratória na pena de morte, isso não aconteceu. Nenhum projeto foi sequer apresentado e execuções extraoficiais continuam ocorrendo.”

O Brasil foi um dos países que apoiou a entrada da Guiné Equatorial na CPLP. Para Alicante, é importante agora que o mundo saiba o que acontece dentro do país comandado pelo ditador Teodoro Obiang, que está há mais de três décadas no poder.

“Não tenho esperanças que a Beija-Flor desista do prêmio conquistado, mas espero que os brasileiros prefiram ficar ao lado do povo do meu país do que de seu governo corrupto e opressor.”

Telhado de vidro

Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o Neguinho da Beija-Flor, intérprete da escola de samba afirmou que o dinheiro sujo já organiza, há anos, o Carnaval do Rio de Janeiro.

“Se não fosse a contravenção meter a mão no bolso, organizar, estaríamos ainda naquele negócio de arquibancada caindo, desfile terminando duas horas da tarde, cada escola desfilando duas, três horas e a hora que quer. E a coisa se organizou”, afirmou. Em seguida, falou em tom irônico:

“Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção.”

Sobre o fato de que a Beija-Flor teria recebido um patrocínio de R$ 10 milhões do governo do ditador Teodoro Obiang, Neguinho declarou não ter conhecimento, mas disparou: “Deixa falar. Deu mídia. Deixa falar”. E emendou: “A Portela também teve um patrocínio muito forte. O governador do Rio de Janeiro, o Pezão, queria que a Portela ganhasse. Vai dizer que ele não fez investimento? O prefeito é portelense doente. Vai dizer que não colocaram dinheiro na Portela?”.

+ sobre o tema

Mulheres em cargos de liderança ganham 78% do salário dos homens na mesma função

As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança...

‘O 25 de abril começou em África’

No cinquentenário da Revolução dos Cravos, é importante destacar as...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

para lembrar

Indígenas e quilombolas falam sobre experiência de construção de protocolos de consulta no Tapajós

Esse tratado internacional ratificado pelo Brasil em 2002 determina...

Marilena Chauí: “Serra venceu no latifúndio que ataca o meio ambiente”

Em ato na sexta-feira na Faculdade de Direito...

Rafinha suspenso do cqc por ofender gente que importa

por LOLA ARONOVICH Fico feliz que o humorista...

Entidades condenam declaração de Dilma sobre tortura em delegacias

  Um grupo formado por dez entidades da...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na terça-feira que Portugal foi responsável por crimes cometidos durante a escravidão transatlântica e a era...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz um levantamento da cobertura vegetal na maior metrópole do Brasil e revela os contrastes entre...
-+=