4.800 mulheres morrem por ano de câncer do colo do útero, diz secretário do MS

Jarbas Barbosa diz que as doses da vacina contra o HPV são seguras para as pessoas

Secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa diz que 4.800 mulheres morrem por ano de câncer do colo do útero no país. Para prevenir a incidência da doença, o governo inicia a campanha de vacinação contra o vírus HPV. Segundo ele, um grupo da Organização Mundial da Saúde (OMS) garante que as doses da vacina são seguras.

Como foi a escolha da vacina aqui no Brasil? Quais os motivos que levaram o Ministério a optar pela quadrivalente?
O ministério fez estudos de custo e de efetividade. A vacina chegava a custar US$ 150 a dose, mas nossos estudos mostraram que o que valeria para nós seria doses no valor de US$ 20. Abrimos a possibilidade de que os produtores fizessem parceria com a produção nacional. Nessa análise são avaliados além de preço vários fatores como a tecnologia envolvida na produção da vacina. Foi a soma desses fatores que nos fez optar pela quadrivalente. O acordo prevê que se eles lançarem a vacina para nove tipos nós vamos trocar, mas escolhemos a quadrivalente pois é a mais utilizada no mundo.

Há algum estudo do Ministério sobre as reações e eficácia da vacina?
Nós monitoramos isso de maneira continuada. Não são apenas dados isolados, mas a OMS tem um grupo que chama Global Advisory Committee on Vaccine Safety (GACVS), que avalia todos os dados e faz relatórios. O último relatório deles avalia a vacina quadrivalente como segura. Toda vacina para ser registrada no Brasil exige documentação do produtor, que ateste boas práticas de fabricação, qualidade e segurança. Avaliamos um lote conjunto de um a dois milhões de doses e depois para cada lote que sai avaliamos uma dose. Quando a vacina já está em uso, continuamos a avaliar, pois passamos a ver o que acontece com a vacina no mundo real. Nosso sistema registra todos os eventos adversos e os analisamos para saber se tem mesmo relação ou se são reações temporais. Reações adversas leves fazem parte do próprio processo da vacina, de ativar o sistema imunológico. Quando há necessidade, reunimos um grupo de especialistas para avaliar efeitos adversos inesperados. A vacina do HPV tem pouco uso no Brasil, ainda, mas não temos nenhum relato de reação grave.

O Ministério pensa em fazer alguma campanha para esclarecer as dúvidas da população antes da vacinação?
Além de utilizarmos campanha na televisão, como fazemos com outras vacinas, também teremos um material que vai para cada família, esclarecendo o que é a vacina, a importância de seguir com exames de rotina como o Papanicolau e a explicação da posologia. As cartilhas serão entregues na escola, onde teremos um mês de vacinação entre março e abril. Se a família preferir não vacinar na escola, pode levar a criança em uma unidade de saúde, que também terá vacinas disponíveis. Lá também entregaremos o folheto com explicações. A diferença é que na escola a secretaria municipal vai entregar o folheto antes da campanha. Os pais podem desautorizar a vacina. Eles vão receber as informações, e, se mesmo assim preferirem não vacinar, basta não entregar a autorização que será precisa para que a criança receba a vacina.

Qual a importância dessa campanha de vacinação para o Brasil?
Ela ajuda a proteger contra o câncer de colo de útero no futuro. Somente daqui a 30 anos vamos observar a redução nessas meninas que estão sendo vacinadas agora. A ideia é fazer a proteção casada, com a vacina e o Papanicolau. A vacina é para o futuro e o Papanicolau para o presente.

Qual a incidência de câncer de colo de útero na população brasileira?
No Brasil, cerca de 4.800 mulheres morrem por ano. A estimativa é que a gente tenha 17.500 novos casos de câncer de colo de útero todos os anos. Alguns anos atrás era a principal causa de câncer em mulheres com idade entre 25 e 64 anos. A realização o Papanicolau reduziu muito o número de casos. Nas capitais brasileiras onde as mulheres têm mais acesso já caiu para a quarta causa, atrás de câncer de mama, de pulmão e de cólon (ou colorretal). Em compensação, nas regiões Norte e Nordeste ainda temos o câncer de colo de útero em segundo lugar, muito próximo do câncer de mama. A gente nota que o Papanicolau é muito eficaz para reduzir a mortalidade.

E de verruga genital?
A gente tem estimativas que podem ocorrer 1,9 milhões de casos no Brasil. Também esperamos que a vacina reduza essa estimativa. Mas a verruga genital tem um impacto muito menor na saúde pública , então seria um benefício secundário da vacina. No entanto, esse tratamento, apesar de simples, tem recorrência.

A campanha de vacinação no ano que vem será para meninas entre 11 e 13 anos. Em 2015 para de 9 a 11, não é isso? Há alguma previsão para a vacinação de meninos? E para outras faixas etárias?
Isso. No início vamos fazer a primeira dose nas escolas e a segunda na unidade de saúde. Não temos previsão para incluir os meninos. Temos dois estudos bem consistentes, um é da Austrália – onde a cobertura é uma das maiores do mundo e é motivo de orgulho nacional. Assim como nos Estados Unidos, a Austrália notou o que chamamos de efeito rebanho, depois de quatro e cinco anos de vacinação. O efeito rebanho é uma imunidade coletiva. O HPV passa muito facilmente, e muitas vezes não precisa de relação sexual para ser transmitido. Com a vacinação em crianças que está começando a sua iniciação sexual, esses dois países notaram redução da prevalência mesmo em quem não foi vacinado. Não precisamos vacinar 100% da população, pois os cinco vacinados acabam protegendo os outros. Na Austrália, mesmo sem vacinar os meninos, houve redução muito grande da prevalência. Para algumas vacinas dá para fazer isso, para outras, como a gripe, por exemplo, não dá. Por isso, preferimos ampliar a faixa entre as meninas e não incluir os meninos. Vamos avaliar se é preciso, mas esperamos que haja o efeito rebanho não só nos meninos, mas nas meninas mais velhas também. Pois quando vacinamos um grupo, colocamos barreiras de transmissão. Ao não se infectarem, elas não infectam os menino e os menino que não se infectam ajudam a reduzir a prevalência ao não infectar as próximas meninas que vão namorar. Vamos acompanhar em 2015 para em 2016 vermos o impacto da vacina e monitorar a prevalência do HPV em vacinados e não vacinados. Como base nos dados, o ministério pode decidir por mudar a estratégia.

Qual foi a intenção do Brasil em optar pelo formato de vacinação 0, 6 meses e 60 meses? Existe alguma comprovação científica que esse método é eficaz?
Existe, já tem vários países do mundo que estão utilizando a vacinação estendida. Quando fazemos esse esquema de 0 e 6 meses, temos exatamente a mesma proteção da bula original. Depois damos o reforço em cinco anos, prolongando o efeito da vacina. O método foi recomendado pelo comitê de vacinas da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) – Grupo Técnico Assessor de Imunizações da Opas – e revisado por um comitê de especialistas do ministério. Ela garante maior adesão.

E como garantir que as meninas voltem para tomar a segunda e a terceira dose da vacina?
Elas vão ser orientadas. A gente tem experiência com isso com a vacina de hepatite B e de febre amarela, por exemplo, depois de seis meses as pessoas voltam. Mas vamos lembrar o retorno com campanhas. Em 2019 haverá outra para lembrar a terceira dose.

Acesse em pdf: Secretário: 4.800 mulheres morrem por ano de câncer do colo do útero (O Globo – 11/03/2014)

 

 

 

Fonte: Agência Patrícia Galvão

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