Como os grupos de mídia conquistaram o mercado de opinião

Por: Luis Nassif

 

Ontem expus sinteticamente a influência das novas tecnologias sobre os grupos de mídia, colocando em xeque um modelo empresarial de mais de um século de existência.

Vamos tentar avançar um pouco nos conceitos.

A invenção do telégrafo sem fio permitiu o aparecimento das agências de notícias; da telefonia, a formação das redes de rádios; das tecnologias de telecomunicações, a formação das redes de televisão financiadas preponderantemente por grandes anunciantes privados.

Dava-se forma, na zona de influência do modelo norte-americano, à mais influente organização do século na modelagem das opiniões públicas nacionais: os grupos de mídia.

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Nos países mais desenvolvidos – o que não é o caso do Brasil – as leis antitruste proibiram a propriedade cruzada – um mesmo grupo dominando vários veículos. Obrigaram as redes de TV a se desfazerem das emissoras regionais ou de jornais na mesma praça.

Não resolveu em nada o problema. O que importa na análise não é a natureza da propriedade em si mas o controle efetivo da operação. Os cabeças de rede mantêm o controle sobre o noticiário, a opinião, os padrões culturais, e o financiamento da rede, através dos grandes patrocinadores nacionais.

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A lógica inicial desse modelo seria permitir o ganho de escala, o fortalecimento financeiro que garantiria a boa qualidade das produções e o retorno à sociedade através de programas educativos. O fato do modelo de negócios ser independente do Estado, baseado na publicidade privada, teoricamente garantiria o compromisso dos grupos de mídia com seus representados: a opinião pública.

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O modelo de grupo de mídia atua simultaneamente no jornalismo, no entretenimento e no marketing (a construção e/ou desconstrução de imagens), em geral misturando esses conceitos e obedecendo a uma lógica comercial – isto é, o foco do negocio é o atendimento dos critérios exigidos pelos patrocinadores. Do lado comercial, o efeito foi a busca da audiência a qualquer preço.

É daí que surge o estilo de dramaturgia da noticia, o uso de conceito de teatro para retratar adversários e aliados, a roteirização da reportagem, a escandalização permanente para gerar audiência. Daí, a extrema banalização da TV aberta.

Do lado econômico-financeiro, ocorre a aliança com grupos econômicos visando influenciar os poderes de Estado – Executivo, legislativo e judiciário. O protagonismo político é essencial para os grupos de midia, especialmente naqueles setores que dependem das concessões públicas – rádio e televisão. Essa influência é que garante a perpetuidade das concessões e levanta as barreiras de entrada a novos competidores.

Com o poder adquirido, em relação aos estados nacionais, e com a dependência da publicidade dos grandes grupos privados, mudam as prioridades. O atendimento das demandas dos anunciantes se sobrepõem à responsabilidade outorgada pela Constituição.

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Por sua abrangência, os grupos de mídia tornam-se a mais emblemática máquina de influência na opinião publica, maior que os partidos políticos e sua rede de diretórios, que as igrejas e sua rede de templos, que o próprio sistema educacional, muito mais do que as organizações sindicais.

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A partir dos anos 60, no Brasil a televisão aberta consolida-se como o mais influente veículo de comunicação por seu poder concentrador, dividido entre poucas redes de emissoras chegando em todos os ambientes do país.

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Nos EUA, o primeiro baque nesse modelo veio com a TV paga, que abriu espaço para a entrada de novos grupos. O segundo – e definitivo – as redes sociais permitindo a ascensão de um numero infindável de novos centros de difusão de notícias e de opinião.

É essa a guerra mundial deflagrada por vários grupos de mídia, visando ampliar sua influência política para impedir a decadência de um poder que já foi quase absoluto.

Fonte: GGN

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