Impasses e Desafios para a Educação no século XXI

Em debate, especialistas fizeram um diagnóstico do ensino no país e questionaram: “como trazer a educação para o dia a dia dos alunos?”

Convidados do Fórum Brasil discutem a educação no país (André Luy – Foto)

“Como trazer a Educação para o dia a dia concreto dos alunos?”. A pergunta foi feita por José Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), durante o debate “Os impasses e desafios para a Educação no século 21″. O encontro faz parte do “Fórum Brasil – Diálogos para o Futuro”, realizado por CartaCapital.

Em sua fala, Soares ressaltou as finalidades da educação básica para desenvolver a capacidade de comunicação e domínio das operações matemáticas. Essas finalidades hoje se contrapõem a novas necessidades, como competência digital, capacidades sociais, consciência cultural e sentido de empreendedorismo. “Como trazer tudo isto para dentro da escola?”, questionou.

O professor responde que, em primeiro lugar, o estudante precisa manter uma trajetória regular e alcançar diversos aprendizados necessários para uma vida plena. Assim, poderá alcançar o saber (conteúdo), o saber-fazer e o saber-mobilizar. Neste caminho, enfrenta o desafio de criar uma linguagem de expressão dos fatos pedagógicos a ser utilizada por todos os atores educacionais. “A educação de qualidade tem duas dimensões: inclusão e excelência”.

Em sua fala a pesquisadora Bernardete Gatti, consultora da Fundação Carlos Chagas e vice-presidente da Academia Paulista de Educação, concentrou-se em responder à pergunta: “Quem faz a Educação?” A situação dos professores, que enfrentam a fragilidade da carreira e dos salários e as falhas em sua formação, pontua questões essenciais, segundo ela. “Os professores de Física nas escolas brasileiras com licenciatura nesta especialidade não chegam a 17% dos que lecionam esta disciplina. Precisamos revolucionar a formação dos docentes”, alertou.

“Não temos professores suficientes na rede para trabalhar os conteúdos. Estamos improvisando o ensino em várias áreas de conhecimento. Os alunos acabam passando de ano sem aulas.”

A especialista defendeu a articulação de uma política nacional dirigida à formação inicial dos docentes. Ela disse ver lacunas nas estruturas curriculares, inclusive na própria licenciatura, e riscos na expansão acelerada dos cursos a distância. “Como vamos suprir a necessidade de formar bons professores sem uma concepção que dê base a esta carreira?”, perguntou.

Gatti lembrou ainda que a taxa de evasão nos cursos de licenciatura é hoje de 70%.

Romualdo Portela de Oliveira, professor na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), que realizou uma avaliação do cenário da Educação no país durante o Governo Lula, destacou, em sua exposição, três grandes desafios para uma política nacional para a área: a questão do preparo dos docentes, apontada por Bernadete anteriormente; a questão do financiamento e a do desenvolvimento profissional. “Não conseguimos atrair os bons alunos para a carreira de professor. Estes têm melhores opções no mercado. Os estudantes mais fracos escolhem a carreira e são vítimas da formação deficiente e ainda da falta de vagas, exceto para disciplinas específicas, como Física e Química.”

“Ou mexemos nisto em conjunto, ou não melhoraremos as condições de ensino no país. Temos que trabalhar pensando no futuro”, acrescentou. “Existe uma retórica de melhorar a Educação que não chega à prática. Temos que ser propositivos e transformar esta intenção em política efetiva.”

 

Fonte: Carta Capital 

 

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