A mídia constrói espelhos onde não consegue se refletir

Nos últimos dois anos a grande mídia brasileira nutriu-se dos escândalos de corrupção na política e da crise institucional entre os poderes da República. Foi um verdadeiro festival de produção de sentido baseado nos vazamentos das delações da Operação Lava Jato diretamente de Curitiba para o centro nervoso das redações. Parte determinante deste processo de recebimento de informações ditas sigilosas era definir e selecionar as notícias para um determinado público, um lugar de fala ou para reverberar uma opinião editorial.

Por Mailson Ramos Enviado para o Portal Geledés

O circo midiático que nasceu deste processo de seleção de notícias foi fundamental para mudar os rumos da política nacional a partir de posicionamentos nada imparciais incidentes sobre a opinião pública. Mobilizar massas, converter uma cobertura jornalística em propaganda, angariar apoio em detrimento da isonomia do jornalismo e catalisar ideais políticos foram algumas das iniciativas da mídia corporativa para cambiar os rumos de uma República cujas instituições públicas já se apresentavam em incontestável mau funcionamento.

Se o Ministério Público Federal (MPF) funcionasse às mil maravilhas teria controlado os vazamentos de documentos sigilosos e encriptados (protegidos por senha) à mídia. O acesso dos veículos de comunicação aos vazamentos era instantâneo. Enquanto colunistas de grandes jornais esbanjavam em opiniões sobre ética para os políticos, as empresas jornalísticas rasgavam o seu próprio código de ética ao descumprir determinações judiciais para publicar informações sob segredo de Justiça.

Como baluarte da queda do governo anterior, a mídia portou-se de modo deplorável. Ocupou espaços dentro do Palácio do Planalto, regozijou-se com a chegada do novo presidente, construiu muros para defesa daquele inconteste a quem admirava. Muito mais como propagandistas do que jornalistas entrevistaram o novo presidente livrando-o de questionamentos mais pesados sobre a política ou sobre os escândalos de corrupção que envolvia ministros do governo.

Apeada de sua condição contestadora e mais uma vez na história refém de seus interesses financeiros, a mídia construiu espelhos onde não conseguiu se refletir. Ela cria e recria a realidade diariamente, entretanto, por seu distanciamento corporativo, está descolada desta mesma realidade. Distingue-se por uma luta infindável por sua sobrevivência em detrimento até da sobrevivência do país, da preservação dos direitos do povo, da construção de um país verdadeiramente democrático. O Brasil jamais o será com a mídia que tem.

Há alguns anos, podia-se dizer que o Brasil tinha uma mídia egocêntrica, indisposta ao ombudsman, demasiadamente afeita aos ambientes políticos; mas o que se apresenta hoje é um partidarismo desenfreado notado e comprovado não apenas por quem lê, mas por quem pesquisa na academia. A mídia partidarizada é como um juiz que destrói um partido e senta numa mesa para beber com o maior adversário do partido que destruiu. Não há nisso uma parcialidade incontestável?

O mais interessante da história é que a mídia brasileira é partidarizada e prega a despolitização do indivíduo. Não interessa a reflexão profunda sobre o que acontece em Brasília. Basta uma enxurrada de notícias, espetáculo, incitação ao ódio e a mente que surge disso – não diferente da mente do Homer Simpson – é o produto perfeito. Não contesta, vota mal, segue estereótipos e ideologias das quais nada sabe. Um protótipo especializado em seguir mantras, devorar notícias sem analisar o conteúdo, o que se convencionou chamar de midiota.

A mídia continuará sem se ver nos espelhos para não refletir a realidade de que ela, ao mesmo tempo em que comanda, também é refém deste sistema carcomido. Portando-se como indigna de críticas, não vai a lugar algum. Porque sabe que erra e erra na maioria das vezes por má fé, pela inominável necessidade de se financiar, ainda que pela desgraça de milhares de brasileiros. Ou não foi um pacto salvador o reajuste na publicidade do novo e já combalido governo?

Os espelhos continuam embaçados.

+ sobre o tema

Mídia apoia campanha para criminalizar a indignação

  Valéria Nader e Gabriel Brito, Na última...

Inscrições para concurso de auditor fiscal terminam semana que vem

A Secretaria de Estado da Fazenda alerta que o...

Fábio Assunção detona ação na Cracolândia

Eviado por Regina Gomes Em seu perfil oficial no Facebook,...

5 Diferenças entre Psicopatas e Sociopatas

As pessoas muitas vezes confundem os sociopatas com psicopatas,...

para lembrar

Depredação em Nova Iguaçu: Sacerdote é ouvido novamente pela polícia

Fonte: Lista Racial - Depredação em terreiro: sacedote é...

Avon lança Programa de Estágios EmpregueAfro

Processo seletivo está com as inscrições abertas até 16...
spot_imgspot_img

CNU: saiba como conferir local de prova do ‘Enem dos concursos’

O governo divulgou, nesta semana, o cartão de confirmação de prova do CNU (Concurso Nacional Unificado) com a informação sobre o local de prova...

Vacinação da gripe é ampliada para todas as pessoas acima de seis meses de idade

O Ministério da Saúde ampliou a vacinação da gripe para pessoas acima de seis meses de idade. A medida passa a valer nesta quarta-feira (1º). Antes,...

Confira a lista de selecionades para o curso Multimídia e Estética

Foram 101 inscrições de 16 estados diferentes do Brasil. Em uma escolha difícil, a comissão avaliadora selecionou todos os candidatos que estavam aptos, de...
-+=