Nossa luta contra o racismo e o elitismo de uma universidade sustentada pelo suor do povo negro

As cotas étnicos-raciais é uma demanda do movimento negro e indígena há muitos anos no Brasil. A maior universidade da américa latina construída sob o sangue e o suor de milhares de trabalhadores negros, se recusou a atender as reinvindicações dos movimentos por muitos anos, deixando cada vez mais claro seu carácter racista e elitista. Foram diversas mobilizações na universidade de São Paulo (USP) para que a mesma aderisse as cotas, e ano após ano a universidade se recusava em acatar a reinvindicação. No ano de 2016 ocorreu uma greve, que teve como principal bandeira “COTAS JÁ”.

Essa greve, que aconteceu em meio ao processo do golpe institucional, já no seu início conseguiu ser massiva a abarcar muitos estudantes, mas por conta de toda a difícil conjuntura nacional naquele momento e da falta de uma política consequente da direção do DCE naquele momento (Gestão – Travessia composta majoritariamente pelo MES, PCB, RUA e outras correntes do Psol) a greve acabou refluindo e sendo derrotada pela burocracia universitária.

Apesar do refluxo do movimento estudantil, pela derrota de 2016, em 2017 a movimentação por cotas na universidade continuou, e essa demanda ganhava a simpatia de mais amplos setores, apesar disso não se reverter em um movimento real e massivo como foi na Unicamp. O fato das demandas dos negros e a luta antirracista ter ganhando força num contexto de profunda crise econômica, politica e social, juntamente com a pressão interna, é o que explica o porque a USP foi obrigada aderir um princípio de cotas, em julho desse ano. Essas cotas não foram as que o movimento negro estava reivindicando a anos, sendo na verdade uma cota social de 37 % que dentro dessa porcentagem terá uma porcentagem para negros e indígenas.

Foto: Reprodução/Esquerda Diário 

Para entender melhor o percurso por cotas na USP: “Reitoria da USP: cinismo e demagogia frente à aprovação das cotas raciais”

O movimento negro exigia que houvesse cotas proporcionais à porcentagem de autodeclarados pretos, pardos e indígenas no estado de São Paulo, a reitoria negou e apresentou uma proposta de cotas sociais, vendo uma eminente derrota em sua proposta a reitoria acabou apresentando uma proposta de consenso que marca uma importante conquista para todo movimento estudantil, de trabalhadores, negro e indígena. Mas deve ser parte de fortalecer a luta contra o racismo dentro e fora da USP, sem nenhuma ilusão na demagogia dos grandes burocratas, como o próprio reitor Marco Antônio Zago, que depois de punir estudantes e funcionários por lutar em defesa das cotas étnico-raciais, agora finge ser a gestão que aprovou as cotas na USP.

Apesar de toda a manobra da burocracia acadêmica, a universidade de São Paulo tem a expectativa de receber mais alunos negros e indígenas no ano de 2018 e se mostra cada vez mais despreparada para receber esses estudantes, cortando auxílio permanência, demitindo mais de 5.000 funcionários pelos PIDV (plano de demissão voluntária). Os estudantes cotistas irão entrar em uma USP em pleno desmonte e precarização. A conquista arrancada pelo movimento está longe de ter seu fim em si mesmo, apesar de demonstrar o potencial de luta da juventude e dos trabalhadores.


Devemos seguir batalhando pela ampliação das cotas etnico-raciais na graduação e também para sua aprovação nos concursos de pós-graduação, e de seleção de professores e funcionários. A conquista das cotas é fruto de muitos anos de luta dentro e fora da USP, e precisam ser a ponta de lança da caminhada rumo ao fim do vestibular. Este processo de seleção elitista e racista que deixou de fora mais de 93% dos inscritos em 2017, serve para manter a USP como sendo a universidade de ponta que forma os filhos da burguesia branca e racista, enquanto os jovens mais precarizados se enchem de dívidas pagando as mensalidades de universidades privadas controladas pelos gigantes do ensino como a Kroton-Anhanguera.

Um ensino público e de qualidade, não pode ser um lema bonito na boca da esquerda se não se ligar com uma luta consequente para a conquista disso. Portanto, para além de reivindicações vagas, precisamos ter em vista acabar com o vestibular tanto na USP quanto em todas a universidades, ligando com uma luta pela estatização de todas as particulares e perdão das dívidas dos alunos, pois é nessas universidades que está a massa da juventude negra que cresce nas favelas em volta da USP e quando entram aqui, é pela porta dos fundos.

Nossa luta contra o racismo dessa universidade também passa pela defesa da efetivação sem concurso público te todos os trabalhadores terceirizados, com os mesmos direitos e salários dos funcionários efetivos. Para enfrentar o racismo dessa estrutura de poder que garante o elitismo de uma universidade fundada sob o suor do trabalho negro é necessário que lutemos para colocar abaixo o reitorado e o Conselho Universitário, abrindo um processo Estatuinte livre, soberano e democrático, onde possamos debater um novo estatuto para universidade e criar uma gestão proporcional de professores, estudantes e funcionários.

Para que de fato seja garantido o ingresso de cada um que queira se apropriar do conhecimento produzido aqui e para que ele seja utilizado em benefício da população e não de empresas como a Avon, que paga para que se pesquisem cosméticos enquanto pessoas ainda morrem de diarreia no Brasil. Só assim poderemos falar de uma USP realmente a serviço dos trabalhadores e de toda população pobre e negra. Já que as demandas mais sentidas na universidade só serão implementadas por quem as sente na pele todos os dias, e não por um Reitor que ganha supersalário e é escolhido a dedo pelo Governador do estado de São Paulo aliado a um Conselho Universitário composto por uma casta burocrática.

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