Bisneta de Tia Ciata organiza cortejo que vai homenagear a baiana no Centro do Rio, nesta segunda-feira

No Dia da Consciência Negra, uma homenagem àquela que foi símbolo da resistência cultural africana. Hilária Batista de Almeida, ou Tia Ciata, será lembrada num cortejo nesta segunda-feira, ao meio-dia, no Centro do Rio. O Cortejo da Tia Ciata já ocorre há três anos e percorre ruas da Praça Onze.

Por Cíntia Cruz Do Extra

Quem organiza a festa é Gracy Mary Moreira, de 53 anos, moradora do bairro Centenário, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. A produtora cultural, ritmistas e cantora é bisneta da baiana:

— Antes de morrer, meu pai pediu que eu e minha mãe déssemos continuidade ao legado deixado por eles. Tem gente que ainda não sabe quem foi Tia Ciata.

Gracy é filha do compositor e instrumentista Bucy Moreira, neto materno de Ciata. Nascida no Centro do Rio, se mudou com a família, aos 6 anos, para o Conjunto dos Músicos, em Inhaúma, Zona Norte. Nessa época, já desenhava croqui de fantasias de escolas.

Quando se casou, em 89, foi para Caxias, onde vive até hoje. Gracy sempre teve uma relação forte com a cultura negra. Mas, no início, optou por uma formação: cursou gestão de Recursos Humanos e trabalhou com analista de crédito.

Junto com a mãe, Nanci Moreira, hoje com 76 anos, Gracy participou de seminários, palestras e eventos sobre o samba. Quando foi para Caxias, não foi diferente. A produtora quis disseminar a cultura afro-brasileira na cidade.

— Fui produtora do Caxias Fashion, coordenadora da Liga de Capoeira da Baixada, criei o prêmio “Nossa Identidade”, em 2011. Agora, pretendo voltar a fazer eventos como esses em Caxias — planeja a sambista.

Mas sua atuação no Rio segue forte. Fundou, há dois anos, o Espaço Cultural Casa da Tia Ciata, no Centro, e o Batuke de Ciata, há oito. Gracy ainda é presidente da Organização Remanescentes de Tia Ciata, que existe há dez anos. Assim como a bisavó, ela organiza rodas de samba na capital.

Tia Ciata: ícone da resistência

O esquenta do Cortejo da Tia Ciata será na Rua Benedito Hipólito, altura do número 125, a partir do meio-dia, e terá a participação de ritmistas do Batuke Ciata e do Fina Batucada, formado majoritariamente por mulheres, além da Escola de Música Villa Lobos.

O cortejo, embalado por sambas e ijexás, sai da Benedito Hipólito e passa pela Avenida Presidente Vargas, onde uma escultura de cinco metros de Tia Ciata reverencia a estátua de Zumbi dos Palmares com um rufar de tambores. Em seguida, segue pela Marquês de Sapucaí e retorna à Praça Onze.

Hilária Batista de Almeida nasceu em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, em 1854. Após se iniciar no candomblé, virou Ciata de Oxum. Veio para o Rio aos 22 anos, no final do século 19, quando muitos negros baianos buscavam melhores condições de vida.

Tia Ciata tornou-se figura popular no início do século 20 ao promover rodas de sambas e rituais de cultos afro para reverenciar seus orixás. Cozinheira de mão cheia, recebia em sua casa, na Cidade Nova, boêmios, políticos, artistas, intelectuais , músicos e sambistas. Num desses encontros, foi criado o primeiro samba gravado em disco, “Pelo telefone”, composto por Donga e Mauro de Almeida em 1916.

+ sobre o tema

Ava DuVernay critica Game of Thrones por morte da única personagem negra

Cuidado! Contém SPOILERS da oitava e última temporada de Game...

Clipe de astros angolanos tem Cris Vianna e Érika Januza em segundo dia de gravação

Em todo continente africano Adi Cudz e Big Nelo são ídolos de multidões,...

para lembrar

A literatura afro-brasileira de autoria feminina: um estudo de Úrsula, de Maria Firmina dos Reis

Resumo: O romance Úrsula, escrito por Maria Firmina dos...

Feira Preta reúne ritmos da música negra, em São Paulo

Evento leva aos palcos os rappers Rael e Tássia...

Emicida estreia série documental “O Enigma da Energia Escura”, no GNT

Tudo o que a gente conhece – da filosofia...
spot_imgspot_img

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

Clara Moneke: ‘Enquanto mulher negra, a gente está o tempo todo querendo se provar’

Há um ano, Clara Moneke ainda estava se acostumando a ser reconhecida nas ruas, após sua estreia em novelas como a espevitada Kate de "Vai na...

Podcast brasileiro apresenta rap da capital da Guiné Equatorial, local que enfrenta 45 anos de ditadura

Imagina fazer rap de crítica social em uma ditadura, em que o mesmo presidente governa há 45 anos? Esse mesmo presidente censura e repreende...
-+=