Processo pode transformar forró em patrimônio cultural

Iphan vai examinar pedido que oficializa preservação da tradição nordestina

Por Roberto Midlej, do Correio 24 Horas
(Robson Mendes/Arquivo Correio)

Já aconteceu com símbolos baianos, como a capoeira, o samba de roda e o acarajé. Agora, um outro símbolo regional, o forró, também muito presente na Bahia, pode se tornar patrimônio cultural do Brasil. Está em tramitação no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o processo de registro do forró como bem imaterial, que deve ser concluído até o final do ano que vem.

Na prática, se o registro for confirmado, o poder público e a sociedade passam a ter o compromisso de realizar ações para preservar esse ícone nordestino e evitar que essa tradição morra. O pedido de registro, que ocorreu em 2011, surgiu como iniciativa da Associação Cultural Balaio do Nordeste, com sede em João Pessoa.

O processo está entrando em fase de instrução técnica e, após a conclusão dessa etapa, que vai até o fim de 2020, um conselho consultivo do Iphan irá decidir se o forró se tornará mesmo patrimônio.
A fase de instrução técnica começa oficialmente no próximo dia 8, em Recife, que sediará o Seminário Forró e Patrimônio Cultural. O evento reunirá forrozeiros, artistas, músicos, artesãos, e dançarinos, além de gestores públicos e culturais, produtores e pesquisadores nordestinos e de outras regiões influenciadas pela cultura do Nordeste.

Antes de ser submetido à aprovação do conselho, o processo passará pela etapa de pesquisa de campo. Os estudiosos irão mapear as áreas onde o forró está mais presente, levantar partituras, fotografias e outros registros que o envolvam. Há outro item importante, que é identificar as vulnerabilidades, ou seja, os riscos e ameaças à preservação do forró.

Salvaguarda
Em seguida, será criado um plano de salvaguarda, que tem o objetivo de dar continuidade de modo sustentável ao forró e que pode ser definido como o plano de gestão do bem cultural. O registro de um bem imaterial, portanto, é mais que um ato simbólico.

“Esse reconhecimento iria evidenciar essa cultura popular que vem sendo constantemente desvalorizada dentro do mercado do turismo” (Joana Alves, presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste)

Para confirmar isso, o diretor do departamento do patrimônio imaterial do Iphan, Hermano Queiroz, cita o caso do samba de roda, que foi registrado como patrimônio imaterial em 2004. “O samba de roda usa um instrumento chamado viola machete e só existiam apenas três desses instrumentos. Além disso, só havia um homem que sabia tocá-lo, o Zé de Lelinha, que já tinha 90 anos. O Iphan então realizou uma ação de salvaguarda para que Zé de Lelinha transmitisse seus conhecimentos às novas gerações. Se o Iphan não tivesse realizado aquilo, a viola machete poderia ter ’morrido’”, exemplifica Hermano, baiano, 36 anos.

Joana Alves, presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste, defende a importância do registro: “Esse reconhecimento iria evidenciar essa cultura popular que vem sendo constantemente desvalorizada dentro do mercado do turismo. Também seria importante para o empoderamento desses profissionais que vêm travando uma verdadeira batalha para manter vivas as tradições dessa prática que fazem parte de sua própria identidade”.

Uma preocupação clara é a preservação do forró “raiz”, já que surgiu um forró moderno, completamente diferente daquele que teve como expoente músicos como Dominguinhos (1942-2013) e Luiz Gonzaga (1912-1989), além de outros mais recentes, como Targino Gondim.

A Bahia, onde o forró é muito popular, não poderia ficar de fora do processo. Por isso, Salvador vai sediar, no início de julho, o Fórum Forró de Raiz, que também terá a presença de músicos e estudiosos.

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