Tesla enfrenta processo por acusação de racismo e assédio sexual

Empresa diz que se opõe fortemente a todas as formas de discriminação e assédio

Uma agência do governo estadual da Califórnia abriu um processo contra a Tesla, acusando a empresa de permitir que discriminação e assédio racial florescessem em uma fábrica na região da baía de San Francisco; o processo foi revelado na quinta-feira (10).

O Departamento de Igualdade no Emprego e Habitação da Califórnia afirmou que centenas de trabalhadores da Tesla denunciaram ter sido submetidos a pichações racistas e ao uso generalizado de epítetos raciais, o que inclui seu uso por supervisores. Também acusaram a empresa de práticas discriminatórias. A agência afirmou que trabalhadores negros recebiam tarefas mais árduas fisicamente e tinham negados seus pedidos de transferência e promoção com mais frequência do que outros trabalhadores.

“Depois de receber centenas de queixas de trabalhadores, o departamento encontrou provas de que a fábrica da Tesla em Fremont é um lugar de trabalho segregado racialmente no qual trabalhadores negros são submetidos a epítetos raciais e são alvo de discriminação em designação de tarefas, disciplina, remuneração e promoções, o que cria um ambiente de trabalho hostil”, informou Kevin Kish, o diretor do departamento, em comunicado. “Os fatos do caso falam por si”.

Em uma declaração divulgada online na quarta-feira (9), antes que o processo fosse revelado, a Tesla disse que se “opõe fortemente” a todas as formas de discriminação e assédio. A empresa criticou o processo, argumentando que a agência estadual havia investigado dezenas de reclamações anteriores, nos últimos anos, e que não havia encontrado qualquer conduta imprópria.

“Portanto, é quase inacreditável que a agência agora afirme, depois de uma investigação de três anos de duração, que discriminação e assédio racial sistemáticos existem na Tesla de alguma maneira”, a companhia afirmou. “Uma narrativa imaginada pelo departamento e por um punhado de empresas queixosas a fim de gerar publicidade não constitui prova factual”.

A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.

A empresa disse que em sua fábrica em Fremont “as minorias são maioria na força de trabalho”, e descreveu o processo como contraproducente, “em um momento no qual empregos industriais estão deixando a Califórnia”. A empresa transferiu sua sede ao Texas no ano passado e abriu uma nova fábrica perto de Austin.

A Tesla também afirmou que a agência estadual da Califórnia tinha rejeitado seus pedidos de informação sobre as acusações. A empresa planeja solicitar ao tribunal que “suspenda o caso e tome outras medidas para garantir que os fatos e provas sejam ouvidos”, acrescentou.

Em outubro, um júri federal em San Francisco concedeu US$ 137 milhões (R$ 716,5 milhões) em indenização a um ex-empregado negro da Tesla que disse ter enfrentado discriminação racial da parte de um supervisor e de outros colegas quando trabalhava na fábrica de Fremont, em 2015 e 2016. Trabalhadores desenharam suásticas e picharam um epíteto racial em um banheiro e deixaram caricaturas derrogatórias de crianças negas espalhadas pela fábrica, ele disse.

No mês seguinte, Jennifer Barraza, outra trabalhadora da Tesla, abriu um processo contra a empresa, acusando-a de assédio sexual generalizado, tanto verbal quanto físico. Seis outras mulheres abriram processos contra a empresa em dezembro, reclamando de tratamento semelhante.

Tradução de Paulo Migliacci

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