Livrar-se de si mesmo

É mais fácil enxergar nos outros valores e comportamentos deploráveis. Bastante óbvio. A crítica dói menos do que a autocrítica. Quando criticamos esperamos que o outro se emende, enquanto assistimos a essa mudança de camarote. Muito mais confortável ser juiz do que réu. Ser testemunha da comédia ou drama da vida alheia está a anos-luz de intervir no roteiro da própria existência.

Essa atitude – apesar de comum e explicável – tende a nos prejudicar. Principalmente com o passar inexorável das décadas. Tenho para mim que quanto mais velhos vamos ficando – e todos envelhecem o tempo todo – mais penosa se torna a mudança. Não porque vamos nos tornando preguiçosos ou presunçosos. Apenas porque a cristalização de métodos e conceitos age como o grude de um chiclete no céu da boca.

A frase Faço sempre assim, porque sei que funciona é de autoria do reacionário que insiste em nos rondar. Ela também é deixa para pensar: Se o outro fizer diferente de mim, não vai funcionar. E se ele, ou ela, persiste no fazer distinto, torcemos intimamente pelo erro. Do outro, é claro. Porque damos água e comida para a nossa verdade. Pois entre todas as verdades, a de cada um posa como a mais sincera.

Mas eis que um dia, você acorda e sente uma tontura ou um enjoo. De si mesmo! Já não quer fazer as coisas do mesmo jeito com que tem feito. Não quer repetir o que anda dizendo nos últimos meses, ou nos últimos anos. Não é simplório como a campanha Cansei dos políticos. É bem mais profundo. É cansei de mim. Das minhas certezas, das minhas postagens no Facebook, das curtidas e censuras que compartilho por aí.

Ok. Você entra no processo de autocrítica e toma a decisão de começar uma faxina geral. Pega o espanador para espantar modos de pensar. Pega o rodo para enxugar excessos de opiniões. Levanta o tapete e varre aquilo que, mesmo não servindo mais, você escondeu da visita e de si próprio. Depois ataca as prateleiras com a fúria da renovação.

Missão cumprida? Mais ou menos. Ainda falta o principal. A reforma interna. Rearranjar a casa da alma. Não só fazer diferente, mas encarnar a diferença. Abaixar o tom de voz. Suavizar os gestos. Apontar o dedo não mais para o outro, mas para o próprio peito. É na batida do coração que o novo desponta. Livrai-me de trocar seis por meia dúzia.

Fonte:Yahoo

+ sobre o tema

O Estado emerge

Mais uma vez, em quatro anos, a relevância do...

Extremo climático no Brasil joga luz sobre anomalias no planeta, diz ONU

As inundações no Rio Grande do Sul são um...

IR 2024: a um mês do prazo final, mais da metade ainda não entregou a declaração

O prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda...

Mulheres em cargos de liderança ganham 78% do salário dos homens na mesma função

As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança...

para lembrar

A cor sumiu

Como se trata de raridade,  registramos  que  na segunda-feira...

Impacto eleitoral de cassação de Kassab preocupa Serra

Desde a noite de sábado, o governador de São...

Entrevista com D. Pedro I

Por Ana Helena Tavares Para este 7 de Setembro, a...

‘O 25 de abril começou em África’

No cinquentenário da Revolução dos Cravos, é importante destacar as raízes africanas do movimento que culminou na queda da ditadura em Portugal. O 25 de abril...

IBGE: número de domicílios com pessoas em insegurança alimentar grave em SP cresce 37% em 5 anos e passa de 500 mil famílias

O número de domicílios com pessoas em insegurança alimentar grave no estado de São Paulo aumentou 37% em cinco anos, segundo dados do Instituto...

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação de desnutrição aguda, a ONU alerta que o mundo dificilmente atingirá a meta estabelecida no...
-+=