Educação e fim do preconceito completariam a abolição da escravidão no Brasil, afirmam debatedores

Para concluir o processo de abolição da escravidão no Brasil é preciso investir em educação e no fim do preconceito racial. Essa foi a conclusão dos participantes da audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) que debateu as formas de garantir a efetiva inclusão dos negros na sociedade e homenageou o abolicionista Joaquim Nabuco.

Um dos debatedores, José Tomás Nabuco Filho, neto do abolicionista, lembrou a luta do avô por mais de uma década pela libertação dos escravos, quando enfrentou a oposição da maioria na Câmara dos Deputados à época.

Já o bisneto, Pedro Nabuco, apontou a instrução pública, a liberdade religiosa, a representação política e a reforma econômica e financeira entre as propostas do bisavô para consolidar a emancipação dos escravos no Brasil.

– Ele percebeu que o abolicionismo era a primeira etapa de uma universalização da cidadania e de um país verdadeiramente democrático – disse.

Para Joaquim Nabuco, mais importante que acabar com a escravidão era esgotar os seus efeitos que, profetizou, “perseguiriam” o Brasil por muito tempo.

Para o professor e escritor Hélio dos Santos, o impacto dos 354 anos de cativeiro dos negros perdura no estigma do racismo e na desigualdade. Ele considera 14 de maio de 1888, o dia seguinte à Lei Áurea, como o “mais longo dos dias”, que começou quando os ex-escravos analfabetos ganharam a liberdade – sem dinheiro, sem terras e sem as mesmas oportunidades do imigrante europeu.

– O dia seguinte nos alcança até hoje nas favelas e cadeias do Brasil – afirmou.

Também na opinião de outro professor e militante do movimento negro, Augusto Sérgio dos Santos, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a escravidão ainda se perpetua no conceito mais amplo emprestado por Joaquim Nabuco.

– Não só no racismo, mas se perpetua nas desigualdades regionais, na pobreza, na corrupção e em outras mazelas que nós conhecemos – explicou.

Políticas de afirmação

Com metade da população formada por pretos e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no país ganham força as ações afirmativas do governo federal como a instituição de cotas para ingresso na universidade e vagas em concursos públicos, políticas públicas defendidas pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que presidiu o debate.

Mais iniciativas na área cultural foram reivindicadas pelo secretário da Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira da Silva. Na opinião dele, o país conduz um processo de crescimento econômico e avanços sociais e políticos que não repercutem culturalmente.

– Quantos pianistas negros conhecemos no Brasil e quantos conhecemos nos Estados Unidos? – indagou.

Já a proposta de criação de um fundo nacional de combate ao racismo, a mobilização das mulheres negras e a atenção a determinadas doenças étnicas (negros têm mais predisposição ao glaucoma) são avanços elencados pelo jornalista e militante Sionei Leão. Conquistas que, segundo ele, caminham junto com o aumento das denúncias de casos de crime racial (420 registros na Polícia Civil do Distrito Federal em 2012).

– Em razão das políticas afirmativas e tantas conquistas, possivelmente a comunidade negra está mais propensa a denunciar as agressões que sofre – disse.

Na análise de Cristovam Buarque, no entanto, a escravidão deixou de ser uma questão meramente racial. A exploração de mão de obra barata com péssimas condições de trabalho e a falta de acesso à educação à saúde e à Justiça gratuitas também seria uma versão “moderna, desumana e imoral” de escravidão.

– Para mim a abolição só será completa com o fim do analfabetismo, por meio da educação igual para todos – concluiu o parlamentar.

Fonte: Combate Racismo Ambiental 

+ sobre o tema

A saga do negro

Com desafios tamanhos, a inteligência europeia decidiu-se por importar...

Casa das Rosas realiza atividades no Dia da Consciência Negra

Mais uma vez, a Casa das Rosas abre seu espaço no...

Intervención de figura historica del Brazil salva la vida del opositor Dr Darsi Ferrer

Fonte: Ìrohin- Intervención de figura historica del Brazil salva...

Lideranças Negras lançam “Carta de Vitória”. Instituto Raízes de Áfricas representou Alagoas.

Documento referencial da I Reunião Interestadual de Lideranças Negras...

para lembrar

Fórum Nacional de Performance aconteceu em Salvador

    As reflexões e propostas para a valorização da dança...

Elisangela Freitas Costa foi eleita a Miss Florianópolis 2013

A Prefeitura de Florianópolis através Secretaria Municipal de Turismo...

Escritores brasilienses ressignificam o legado de Cruz e Sousa

São nomes que possuem importância na literatura negra do...

Letras e vozes femininas

O programa ABCD em Revista, da TVT, foi...
spot_imgspot_img

Clara Moneke: ‘Enquanto mulher negra, a gente está o tempo todo querendo se provar’

Há um ano, Clara Moneke ainda estava se acostumando a ser reconhecida nas ruas, após sua estreia em novelas como a espevitada Kate de "Vai na...

50 anos de Sabotage: Projeto celebra rapper ‘a frente do tempo e fora da curva’

Um dos maiores nomes no hip hop nacional, Sabotage — como era conhecido Mauro Mateus dos Santos — completaria 50 anos no ano passado. Coincidentemente no mesmo ano...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....
-+=